Evento leva vítimas da violência provocada por conflitos de terra cara a
cara com time de juristas; carta com exigências ao poder público é
assinada por 20 organizações
Mesa de juristas ouviu relatos de violência no campo das próprias vítimas (© Alan Azevedo / Greenpeace)
Horas antes do Senado Federal aprovar um corte de 600
hectares de áreas protegidas de floresta e Unidades de Conservação, um
benefício escancarado a grileiros e especuladores, o Conselho Nacional
de Direitos Humanos (CNDH), em parceria com outras entidades, realizava
um Ato Denúncia pelos direitos e contra a violência no campo nesta terça
(23) na Procuradoria Geral da República, em Brasília. As Medidas
Provisórias 756 e 758,
de autoria de Michel Temer, pioradas pelos ruralistas e agora aprovadas
pelos senadores, apenas intensificam o cenário de disputa de terra e
violência.
Uma mesa formada por um time de juristas do CNDH,
Ministério Público Federal (MPF), Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e
Conselho Nacional de Justiça (CNJ) ouviu testemunhos de quilombolas,
indígenas, ribeirinhos e trabalhadores rurais, em força tarefa para
construir uma carta de exigências ao poder público e firmar compromissos
da sociedade civil com a defesa dos direitos e contra a violência no
campo.
“A violência continua contra todos os povos indígenas
do Brasil que reivindicam seus direitos e lutam pelo que está previsto
da Constituição. Muitas vezes são povos que não sabem como se defender, e
quando tem alguma liderança que sabe, ela é crucificada”, explicou
Nailton Pataxó, liderança indígena do povo Pataxó, na Bahia.
Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o ano de
2016 atingiu a vergonhosa marca de 3,8 conflitos por dia. De 61
assassinatos de trabalhadores rurais no ano passado, 58 foram
relacionados a conflitos de terra. Das vítimas, 13 eram indígenas,
quatro quilombolas e seis eram mulheres.
Gracinalva Gamela, representante do povo Gamela,
brutalmente atacado no Maranhão no final de abril deste ano, afirmou que
a investida havia sido planejada com antecedência. “Nós estamos com
medo e muita raiva também. Já morremos muito, estamos cansados de correr
atrás de nossos direitos. Espero que eu não seja a próxima”, afirmou
ela.
Ainda segundo a CPT, quase duas mil pessoas sofreram ameaça de morte entre 2007 e maio de 2017.
“Tivemos nas últimas semanas o crescimento da
violência no campo. Kátia Rodrigues foi assassinada no município de
Castanhal, perto de Belém. Ela já estava sendo perseguida. Foi
assassinada com cinco tiros enquanto estava com o neto”, contou o
trabalhador rural Carlos Augusto, do Pará, aos advogados presentes.
Augusto se refere aos últimos 15 violentos dias nos
campos do Brasil. Em 19 de abril, Colniza, no Mato Grosso, foi palco de
uma chacina de nove trabalhadores rurais. Em Vilhena, Roraima, três
pessoas foram carbonizadas e em Santa Maria dos Barreiros, no Pará,
outras quatro pessoas foram encontradas queimadas. Sem contar o brutal
ataque aos Gamela, que, embora não tenha deixado mortos, vitimou 22
pessoas, sendo que algumas tiveram membros mutilados.
Após os testemunhos, a carta do ato denúncia, com as
exigências ao poder público e os compromissos firmados pela sociedade
civil com a defesa dos direitos e contra a violência no campo, foi lida
ao público presente. A carta é assinada por 20 organizações e está
aberta para mais adesões. Leia aqui.
ONU está de olho
O relator especial de Direitos Humanos e
Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU), John
Knox, em visita ao Brasil para um evento promovido pelo Senado Federal,
se reuniu com organizações da sociedade civil para ouvir os relatos e
denúncias sobre a relação do atual momento político brasileiro com os
inúmeros retrocessos ambientais e a escalada de violência no campo.
John Knox em encontro com sociedade civil em Brasília (© Alan Azevedo / Greenpeace)
Ao final do encontro, Knox se comprometeu a levar as
questões para a Comissão de Direitos Humanos da ONU para gerar pressão
internacional sobre o governo brasileiro.
Estavam presentes na reunião o Greenpeace, Instituto
Socioambiental, Conselho Indigenista Missionário, Conectas Direitos
Humanos, SOS Mata Atlântica, WWF, MST, Via Campesina, Articulação dos
Povos Indígenas do Brasil, entre outros.
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