Pesquisa busca estabelecer técnica mais eficiente para recuperar
a mata ciliar afetada pela lama da Samarco; um dos objetivos é evitar
que ações de restauração sejam desperdiçadas
As árvores fortes o suficiente para suportar a onda de lama que
varreu a bacia do Rio Doce, quando a barragem de rejeitos da mineradora
Samarco se rompeu, registram ainda hoje em seus próprios troncos, como
marcas arqueológicas, a dimensão da tragédia. A maior parte da vegetação
das margens, no entanto, foi carregada ou soterrada sob uma grossa
crosta que impede agora o nascimento de novas espécies e dificulta a
recuperação natural do solo. Para trazer de volta o verde onde o marrom
tomou conta, pesquisadores buscam estabelecer qual o melhor método de
restauração das matas a partir da melhor relação custo x benefício.
Diante das condições atuais, o estudo Comparação de Metodologias de Restauração Ecológica da Vegetação Nativa na Mitigação dos Impactos do Despejo de Rejeitos de Mineração na Região de Mariana (MG) se propôs a testar três diferentes técnicas de restauração em duas situações comuns na região: no pasto abandonado e no solo com lama de rejeito. Os blocos experimentais estão entre os municípios de Mariana e Barra Longa.
As técnicas avaliadas são o plantio de mudas arbóreas nativas;
semeadura de espécies arbóreas nativas intercalada com semeadura de
adubação verde; e plantio de mudas arbóreas nativas com semeadura de
adubação verde. É chamada adubação verde a técnica de se adicionar
alguns tipos de plantas de crescimento rápido, como as leguminosas, para
aumentar a quantidade de nitrogênio no solo.
A pesquisa, que foi financiada com doações arrecadadas pelo coletivo
Rio de Gente e sob gestão e implementação do Greenpeace Brasil, é
executada pelo Laboratório de Ecologia e Restauração Florestal
(LERF/ESALQ/USP) em parceria com a empresa Bioflora Tecnologia da
Restauração, sob coordenação do Prof. Dr. Ricardo Ribeiro Rodrigues
(LERF) e do engenheiro agrônomo André Gustavo Nave (LERF e BIOFLORA).
De acordo com os pesquisadores, a recuperação das matas ciliares é essencial. A vegetação forma uma cobertura protetora que evita assoreamento e erosão de córregos e rios, age como um filtro contra poluentes, permite o recarregamento dos aquíferos através do aumento da permeabilidade dos solos à água das chuvas e produz matéria orgânica que entra na cadeia alimentar da fauna aquática.
“A heterogeneidade dos rejeitos, em termos de profusão e composição, e a heterogeneidade da influência da água nesses rejeitos, mostra que precisamos desenvolver uma metodologia que ainda não existe e que seja baseada em melhor qualidade e menor custo”, afirma o professor Ricardo Ribeiro Rodrigues.
Para avaliar a eficiência de cada técnica, são consideradas muitas
variáveis, como a altura das árvores, a quantidade de indivíduos de uma
mesma espécie em determinada área, o tamanho de copa, a cobertura e
condições físico-química dos solos, além da análise de custos referentes
à aquisição de sementes, mudas, insumos, mão de obra, maquinário e do
rendimento hora-homem.
Recuperação a médio prazo
“Os resultados preliminares indicam que a metodologia que utiliza mudas nativas com adubação verde nas entrelinhas do plantio foi a mais eficaz para o brotamento das primeiras mudas”, explica Rodrigues. Uma segunda fase, que deve durar até setembro de 2017, deve apontar os resultados referentes ao crescimento das mudas.
Os testes já foram iniciados e seus resultados serão verificados ao longo do tempo. De acordo com o engenheiro agrônomo André Nave, “numa situação normal, em torno de um ano e meio a dois anos a gente já consegue ter um aspecto de capoeira, com uma floresta diversa, que vai se desenvolver e transformar em uma floresta madura. Quando a gente tem uma situação que é o extremo, como aqui, eu suponho que isso possa demorar três, quatro, cinco anos, dependendo das condições de solo.”
“Recuperar as florestas nas margens do Rio Doce é uma maneira de
ressuscitá-lo”, afirma a coordenadora da Campanha de Água Fabiana Alves.
“A empresa Samarco, infelizmente, não fez nenhum tipo de restauração às
margens do rio, limitando-se a plantar um mix de gramíneas e
leguminosas. E o que o estudo mostra é que isso não recupera a vegetação
nem o rio”, ressalta.
Rompimento da barragem de Fundão, da mineradora Samarco,
destruiu a vegetação da bacia do Rio Doce - Foto: Victor
Moriyama/Greenpeace
Diante das condições atuais, o estudo Comparação de Metodologias de Restauração Ecológica da Vegetação Nativa na Mitigação dos Impactos do Despejo de Rejeitos de Mineração na Região de Mariana (MG) se propôs a testar três diferentes técnicas de restauração em duas situações comuns na região: no pasto abandonado e no solo com lama de rejeito. Os blocos experimentais estão entre os municípios de Mariana e Barra Longa.
Marca da onda de rejeitos na mata ciliar de Paracatu, em Mariana (MG) - Foto: Lerf-Esalq/Usp
As mudas de espécies nativas de recobrimento foram separadas
por quantidade e número de espécies para o plantio – Foto:
Lerf-Esalq/Usp
De acordo com os pesquisadores, a recuperação das matas ciliares é essencial. A vegetação forma uma cobertura protetora que evita assoreamento e erosão de córregos e rios, age como um filtro contra poluentes, permite o recarregamento dos aquíferos através do aumento da permeabilidade dos solos à água das chuvas e produz matéria orgânica que entra na cadeia alimentar da fauna aquática.
“A heterogeneidade dos rejeitos, em termos de profusão e composição, e a heterogeneidade da influência da água nesses rejeitos, mostra que precisamos desenvolver uma metodologia que ainda não existe e que seja baseada em melhor qualidade e menor custo”, afirma o professor Ricardo Ribeiro Rodrigues.
Plantio de mudas feito com plantadeira manual, em Barra Longa (MG) – Foto: Lerf-Esalq/Usp
Recuperação a médio prazo
“Os resultados preliminares indicam que a metodologia que utiliza mudas nativas com adubação verde nas entrelinhas do plantio foi a mais eficaz para o brotamento das primeiras mudas”, explica Rodrigues. Uma segunda fase, que deve durar até setembro de 2017, deve apontar os resultados referentes ao crescimento das mudas.
Os testes já foram iniciados e seus resultados serão verificados ao longo do tempo. De acordo com o engenheiro agrônomo André Nave, “numa situação normal, em torno de um ano e meio a dois anos a gente já consegue ter um aspecto de capoeira, com uma floresta diversa, que vai se desenvolver e transformar em uma floresta madura. Quando a gente tem uma situação que é o extremo, como aqui, eu suponho que isso possa demorar três, quatro, cinco anos, dependendo das condições de solo.”
Aplicação do adubo de cobertura ao redor das mudas plantadas
em área de rejeito, em Barra Longa (MG) - Foto: Lerf-Esalq/Usp.
Para baixar o estudo, clique na imagem abaixo:
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