Quando a Copa foi anunciada, mais uma vez a promessa de melhorias no
transporte público das cidades foi renovada. E mais uma vez ela não
saiu.
E mais uma vez a mobilidade urbana ficou no papel. Foto: Greenpeace/Otavio Almeida
Na próxima semana, a Taça do Mundo chega ao Brasil, para um passeio
pelas 27 capitais. Sorte a dela que virá em carro particular. Porque se
dependesse do transporte público, talvez ela não chegasse em seus
destinos.
Quando o Brasil foi anunciado como país-sede do Mundial de Futebol,
ainda em 2007, junto com o alvoroço veio uma promessa: com a Copa, viria
também o legado da mobilidade urbana para o país. Os recursos, afinal,
seriam volumosos. Era a chance de botar o sistema de transporte público
nos eixos.
Sete anos se passaram e a promessa saiu dos trilhos, não do papel. Os
trilhos, na verdade, continuam esperando trens e metrôs prometidos
chegarem. Nos pontos de ônibus, milhões de pessoas também esperam, por
horas. Enquanto isso, pedestres e ciclistas dão seu jeito para se
deslocar pelas cidades sem contratempos.
No ano passado, a panela estourou: milhões de pessoas tomaram as ruas
do país para gritar suas insatisfações com os serviços públicos, e os
governos sentiram a pressão. O governo federal acabou anunciando o Pacto
Nacional da Mobilidade, destinando mais de R$50 bilhões para a área.
Somados a outros bilhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC),
a bolada – de R$143 bilhões - representou mais recursos ao setor do que
o investido pelo governo nos últimos dez anos.
Parecia que era a hora da virada. Mas só parecia. Até o fim de 2013,
apenas 10% dos recursos tinham sido usados: o resto não saiu da gaveta
por falta de projeto e por incapacidade de estados e municípios de
entregar o prometido.
Além disso, enquanto os gastos com os estádios da Copa triplicaram
nos últimos anos, a grana destinada à mobilidade urbana – que deveria
superar em 50% os recursos com estádios – foi secando. Em 2011, a
previsão de investimentos nos estádios que vão receber os jogos era de
R$ 5,6 bilhões, enquanto em mobilidade era de R$ 11,9 bilhões.
Atualmente, ambos estão no mesmo patamar, R$ 8 bilhões, numa inversão de
prioridades que o país tem se especializado cada vez mais.
Nessa equação, a conta está saindo caro. Com uma mobilidade que não
anda e nem é democrática, os reflexos negativos vão em várias direções.
As emissões de gases estufa do setor de transportes aumentam sem freios:
foram 143% de crescimento entre 1990 e 2012. Secas no sudeste,
enchentes no norte e outros eventos climáticos extremos ao redor do
mundo, causando tragédias e afetando milhões de pessoas, indicam que
estamos na contramão.
Os gastos médios do sistema de saúde brasileiro com tratamentos e
outros custos decorrentes de acidentes de trânsito já estão na casa dos
R$ 50 bilhões, sem contar ainda o valor destinado ao tratamento de
doenças respiratórias decorrentes da poluição do ar, que também seguem
em disparada. São bilhões de reais a cada ano para resolver esses
problemas gerados por uma mobilidade mal resolvida.
Quando a Taça e a Copa do Mundo passarem, esses problemas vão ficar.
Mas se o evento é icônico do descaso dos governos com a mobilidade
urbana, um outro evento que chega em seguida traz novas oportunidades de
mudança. As eleições vêm aí, e a sociedade civil precisa aproveitar a
oportunidade para uma participação consciente e efetiva, para que a
mobilidade que queremos deixe de ser promessa e ajude, de fato, a
construir uma cidade melhor para todos.
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