Thursday, February 9, 2012

Rebelde de resultados

















Paulo Adario, do Greenpeace, recebe premio inédito da ONU por sua atuação em defesa da Amazônia. Ele diz que a honraria homenageia a todos os que defendem a floresta
Perto do problema: Nas últimas duas décadas, Paulo Adario esteve embrenhado na Amazônia para denunciar a destruição da floresta.Ele chegou à Amazônia no início dos anos 1990 fazendo muito barulho: com outros ativistas, invadiu madeireiras para protestar contra a devastação florestal produzida pelo setor. Foi só o começo. Hoje, depois de muitas investigações e ações contra os culpados por crimes ambientais na região – que renderam a ele algumas ameaças de morte, mas contribuíram para derrubar os índices de devastação da floresta – o trabalho de Paulo Adario está recebendo um justo reconhecimento internacional.

Diretor do Greenpeace no Brasil, ele acaba de ser escolhido pela ONU “Herói da Floresta” na América Latina e Caribe. A honra chega para Adario justamente no ano em que o Greenpeace comemora 20 anos de atuação no país. Adario esteve desde o começo nesta empreitada. Em 1996 ele foi para a Amazônia, onde três anos mais tarde teve papel fundamental na criação da Campanha Amazônia, hoje uma das mais importantes do Greenpeace em todo o mundo.

A lista original de indicados tinha 90 pessoas de 41 países espalhados pelas Américas, Africa, Europa e Ásia. Em comum, todos têm uma vida de dedicação à proteção das florestas que ainda restam no planeta. A ONU apontou cinco “heróis”, um de cada continente. A cerimônia de entrega do prêmio, aliás inédito, acontecerá nesta quinta-feira, 9, na sede da ONU em Nova York. Ela encerra o “Ano Internacional das Florestas”, declarado pela organização, em 2011.Veja a galeria de fotos:“Encaro o prêmio como uma valorização do trabalho que eu, meus companheiros do Greenpeace e nossos aliados fazemos em defesa da Amazônia e outras florestas ao redor do mundo. Mas o título de ‘herói’ é um tanto quanto embaraçoso. Na Amazônia, tem muito mais gente que merece ser chamada de herói do que eu”, diz Adario. “O prêmio mostra que a ONU está alerta para o imenso risco que correm as florestas e que a sua conservação é vital para a manutenção do ciclo da vida e mitigar os riscos de mudanças climáticas que ameaçam o nosso futuro,” afirma Paulo Adario.

A alegria pela honraria recebida não diminui a preocupação de Adario quanto ao futuro das florestas no mundo, em especial da Amazônia. “As florestas estão sendo destruídas em escala alarmante, vítimas da expansão descontrolada do agronegócio, da exploração ilegal e predatória de madeira e demais recursos naturais”, diz ele. “Essa destruição, marcada pela violência contra povos indígenas e comunidades tradicionais, é responsável pela perda acelerada da biodiversidade. O desmatamento da Amazônia, nas últimas décadas, por exemplo, transformou o Brasil no quinto maior inimigo do clima. A conservação das florestas é a forma mais rápida, barata e inteligente de se enfrentar a crise climática.”

Adario anda sobretudo apreensivo com o futuro da Amazônia, por conta da política contraditória do governo brasileiro em relação às florestas do país. “Enquanto no exterior o Brasil vende uma imagem de defensor da Amazônia, ajudado pelo fato de que o desmatamento vem caindo nos últimos anos, na prática, várias medidas caminham na contramão desse esforço”, afirma. “Áreas protegidas estão sendo reduzidas pelo governo Dilma, grandes projetos de infraestrutura estão atropelando a região e a presidente da República está se omitindo na discussão sobre o enfraquecimento do Código Florestal, gestado pelos ruralistas no Congresso Nacional”.

Jornalista com passagem pelos principais jornais brasileiros, Paulo viveu as últimas duas décadas com uma missão: mostrar ao mundo as mazelas que estão empurrando a Amazônia – e o clima global – para o fundo do poço. Do meio da mata para mesas de reunião no Congresso ou em grandes empresas, Paulo, seus colegas do Greenpeace e os grupos com quem desenvolveu sólidas relações nos últimos 15 anos, sempre trouxeram fatos à tona para denunciar o desmatamento e propor soluções para acabar com ele.

Fotos, vídeos, relatórios e documentos têm mostrado, ao longo destes anos, a invasão de terras indígenas, extração ilegal de madeira, uso de trabalho escravo, assim como a prática de diversos crimes. E isto colocou o governo e determinadas empresas contra a parede. É o caso da indústria da soja que, após muitas denúncias, há cinco anos renova um compromisso de não comprar mais o grão plantado em áreas recém-devastadas. Ou da Terra Indígena Deni, no Amazonas. Imprensados por madeireiras, os Deni, com a ajuda do do Greenpeace, demarcaram seu território por conta própria, obrigando o governo a oficializar a posse.

Sem se afetar com a premiação e certo de que ainda faltam muitos passos até o fim do desmatamento, Paulo prefere jogar os holofotes para cima da floresta: “Enquanto estou recebendo esse prêmio, diversos crimes ambientais são cometidos na Amazônia. O Brasil e o mundo precisam saber e exigir que isso tenha um fim. Só com o engajamento de todos – poder público, corporações e sociedade civil – vamos conseguir pressionar para ver o Brasil finalmente livre da chaga do desmatamento”.

Além de Paulo Adario, dois ativistas brasileiros tiveram sua luta em defesa das florestas reconhecida postumamente. Os jurados decidiram outorgar um prêmio especial ao casal José Claudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo, os dois ativistas brasileiros que foram tragicamente assassinados ano passado por denunciar a atuação ilegal de madeireiros no Pará.Fone;Greenpeace

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