O que estamos testemunhando não é fruto do acaso, muito menos culpa da estação seca que sempre fez parte do clima da Amazônia. Dados do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) revelam que, desde o início da estação seca, entre os dez municípios com as maiores taxas de desmatamento e focos de calor, a maior parte não acumulou mais que 20 dias sem chuva, desmentindo o discurso de que estamos vivendo sob a influência de um evento de seca extrema.
Isso é fruto da retórica anti-ambiental do governo Bolsonaro. Ao reduzir em 50% o número de operações do Ibama, por exemplo, o governo emitiu sinais negativos em relação a proteção do meio ambiente e permitiu que a região fosse contaminada por um sentimento de impunidade, que levou um grande número de fazendeiros e grileiros a agirem à margem da lei, e até mesmo a anunciarem publicamente a intenção de derrubar e queimar extensas de áreas de floresta, sem nenhum constrangimento. Como resultado, os focos de calor na Amazônia representam nada menos que 50% dos focos do Brasil atualmente.
Durante os sobrevoos de monitoramento realizados nos últimos dias, conseguimos confirmar que muitas áreas que agora estavam queimando, ao longo da BR 163, já haviam sido detectadas pelo sistema de alertas de desmatamento DETER deste ano. Apesar de ter sido alvo de frequentes alertas, a gravidade da situação foi solenemente ignorada pelo governo, que preferiu colocar em dúvida a qualidade e a veracidade dos dados apresentados pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe).
O momento atual exige que Bolsonaro reconheça e combata a percepção de impunidade criada por sua retórica contra o meio ambiente e assuma, de uma vez por todas, suas responsabilidades com a proteção da Amazônia, conforme prevê a constituição brasileira.
Daqui da Amazônia ou de qualquer outro lugar, seguiremos informando a sociedade brasileira e exigindo o fortalecimento da política ambiental brasileira, a proteção da Amazônia, tal como todos os compromissos assumidos no combate a crise climática global.
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