Sou de origem indígena e meu povo, nativo do México, é um dos últimos da América do Norte a manter suas tradições culturais pré-colombianas. A cada ano que passa, meu povo perde mais de si e da cultura que protegeu por milênios, assim como vem perdendo suas terras.
Nossas tradições em nossas terras estão sendo eliminadas ao mesmo tempo em que o governo mexicano constrói novas rodovias e implementa outros projetos de “desenvolvimento” nelas. Esta não é uma história única, mas uma experiência tragicamente comum a todos os povos indígenas do mundo.
A natureza é um dos pontos de interseção entre identidade, religião, cultura e comunidade para a maior parte dos povos indígenas. Temos, portanto, a necessidade de protegê-la. Vários elementos da natureza são sagrados para nós: plantas, animais, água, terra, chuva, vento e mares. As raízes indígenas sempre estiveram e sempre estarão plantadas nas terras que o colonialismo roubou.
Em todo o mundo, dos Estados Unidos ao Brasil, da Finlândia à Austrália, os povos indígenas têm crescido e seguem resistindo, há séculos, para proteger sua cultura e também suas terras. A terra é a nossa cultura e uma parte vital do nosso legado.
Hoje, os povos indígenas estão na linha de frente do enfrentamento à crise climática, protegendo algumas das terras mais ameaçadas. Essa proteção também inclui a água, os animais e as pessoas que têm as florestas como lares.
No Greenpeace, sabemos que para atingirmos o equilíbrio climático devemos priorizar a proteção dos povos indígenas. Os territórios tradicionais indígenas ocupam aproximadamente 22% da superfície terrestre do mundo, ao mesmo tempo que detém 80% da sua biodiversidade. Biodiversidade essa que está ameaçada pela mineração, extração de combustíveis fósseis, agricultura, pelo desmatamento e pelas mudanças climáticas.
O equilíbrio entre sociedade e natureza é essencial para a nossa sobrevivência, que tem início com a proteção e garantia dos direitos coletivos e individuais dos povos indígenas.
Garantir a proteção de direitos fundamentais aos povos indígenas e outras comunidades tradicionais é essencial se queremos reverter as mudanças climáticas e outros problemas ambientais. O Greenpeace, junto com outras organizações, está organizando a primeira conferência global sobre direitos humanos e mudanças climáticas, que acontecerá em setembro, com o objetivo de destacar que a atual crise climática deve ser abordada de uma forma que respeite, proteja e garanta os direitos humanos, incluindo os direitos indígenas.
O Greenpeace se junta com organizações indígenas de diversos países em apoio aos seus direitos:
- Tiny House Warriors, no Canadá, cuja missão é impedir que o oleoduto da empresa Trans Mountain atravesse o Território Secwepemc sem autorização. Para resistir, eles construirão dez pequenas casas estrategicamente localizadas ao longo do duto de 518 km da Trans Mountain.
- Indigenous Peoples Power Project (EUA), trabalha para oferecer treinamento de ações pacíficas, atividades de apoio e desenvolvimento de uma rede de contato para ativistas indígenas, que se enquadram de acordo com as suas tradições.
- Indigenous Environmental Network (EUA), uma aliança que trabalha para proteger a Mãe Terra da contaminação e da exploração, e pelo fortalecimento, manutenção e respeito dos ensinamentos indígenas e leis naturais.
- Honor the Earth (EUA), cuja missão é conscientizar e apoiar atividades ambientais dos povos e desenvolver recursos financeiros e políticos necessários para a sobrevivência sustentável de comunidades nativas, usando música, artes, mídia e a sabedoria indígena.
- Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, movimento nacional que tem o objetivo de unir, fortalecer e mobilizar os povos indígenas contra as ameaças e os ataques aos seus direitos.
- Mídia Índia (Brasil), uma rede de comunicação de jovens ativistas indígenas, que fortalece as vozes e a resistência dos povos indígenas por meio das redes sociais.
- Confederación Mapuche de Neuquén (Argentina), que trabalha para o fortalecimento dos direitos humanos indígenas das comunidades do povo Mapuche.
- O povo Baka, no sul de Camarões, que foi expulso de suas terras e enfrenta um extenso desmatamento causado pela empresa de borracha Sudcam (Halycon Agri).
- Os povos indígenas da Aldeia Lokolama, da República Democrática do Congo, que trabalham em conjunto com o Greenpeace África para garantir concessões para o manejo florestal comunitário, ao invés de atividades destrutivas de exploração industrial.
- Uma pequena aldeia remota de Irig N’Tahala, na província de Tiznit, no sul do Marrocos, recebeu uma rede de energia solar inteligente descentralizada. O Greenpeace MENA trabalhou com a organização “Enr ‘Afrique”, que fez a solarização para incluir também uma bomba solar de água, de modo que os agricultores também se beneficiassem do projeto. O impacto na vida em Tahala tem sido enorme e o projeto fornece um modelo de sucesso para a replicação em outros países árabes e norte-africanos.
- Center for Support of Indigenous Peoples of the North (Rússia), uma ONG que oferece treinamento e desenvolvimento de atividades práticas, capacitação, fortalecimento institucional e valorização do conhecimento tradicional e do patrimônio cultural para os povos indígenas.
- Pechora Rescue Committee (Rússia), trabalha para proteger a bacia do Rio Pechora, na República Komi, região noroeste da Rússia.
- International Indigenous Fund for Development and Solidarity “Batani” (Rússia), promove a cooperação e solidariedade entre os povos indígenas.
- Arctic Consult (Rússia), uma empresa de consultoria que assessora os povos indígenas do norte da Rússia, da Sibéria e do Extremo Oriente sobre direitos, recursos e autonomia da terra.
- Aman Papua (Indonésia), trabalha local, nacional e internacionalmente para defender as 2.373 comunidades indígenas da Indonésia e suas 17 milhões de pessoas.
- Bentara Papua (Indonésia), fomenta comunidades indígenas justas, sustentáveis e capacitadas.
O futuro é indígena.
Kaitlin Grable trabalha com campanhas digitais para o Greenpeace EUA. Ela é uma mulher indígena que atua para ampliar as vozes de marginalizados e minorias no movimento ambientalista.
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