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Criação
de gado em área desmatada no Mato Grosso. A atividade pecuária ainda é
uma das maiores causadoras de desmatamento na Amazônia brasileira ©
Werner Rudhart / Greenpeace
O uso de práticas agrícolas ecológicas e a devolução de mais terras à natureza são fundamentais para evitar o agravamento da crise climática, fornecer alimentos suficientes para todos e para garantir a sobrevivência dos povos Indígenas em todo o mundo.
Infelizmente, um novo relatório importante do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) – órgão da ONU que fornece a análise científica para embasar a ação global – revela como os solos de todos os tipos (florestas, campos e zonas úmidas, para citar algumas) estão sendo maltratados, causando uma série de problemas sociais e ambientais.
Ironicamente, a maneira como produzimos nossa comida está causando muitos desses problemas. A agricultura industrial se expandiu por todo o planeta a uma taxa fenomenal, destruindo florestas e outras áreas naturais para produzir monoculturas e carne baratas.
Aqui estão as cinco principais razões pelas quais devemos ter mais cuidado com os solos:
- Usar terras com sabedoria vai combater a crise climática
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O
desmatamento na Amazônia foi o mais alto dos últimos dez anos e a perda
de florestas é a maior contribuição brasileira para o aquecimento do
planeta © Daniel Beltrá / Greenpeace
Mas o que está acontecendo na realidade é que as florestas e os campos estão sendo destruídos a uma taxa cada vez maior, em grande parte pela agricultura industrial. A iniciativa de produzir carne barata tem substituído vastas áreas de floresta por enormes fazendas de gado e plantações de soja para alimentar vacas, porcos e galinhas, como é o caso do Cerrado, que já perdeu metade da sua vegetação original. A conversão de florestas em terras agrícolas libera emissões de carbono. Portanto, não é surpresa que quase um quarto das emissões globais venha da agricultura, silvicultura e outros tipos de uso da terra – e a produção de carne e laticínios é responsável por uma proporção significativa dessas emissões.
A solução não é fácil e deve vir de um esforço coletivo: cortar a quantidade de carne e laticínios que produzimos e comemos diminuir a quantidade de florestas convertidas em terras agrícolas. Reduzir o consumo de carne ao redor do mundo em 50% nos próximos 30 anos (e por quantidades ainda maiores em regiões onde o consumo de carne já é alto, como Europa e América do Norte) é crucial para reduzir as emissões e combater a crise climática.
- Cuidar dos solos significa cuidar da vida selvagem e das espécies de plantas…
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As abelhas são essenciais para a produção de alimentos © Axel Kirchhof / Greenpeace
À medida que essas paisagens naturais são convertidas em terras agrícolas industriais, essa riqueza está sendo substituída por enormes áreas dominadas por apenas algumas espécies – pecuária domesticada e plantações como óleo de palma e soja. Muitas espécies silvestres estão sendo levadas à beira da extinção, e outro recente relatório da ONU adverte que até um milhão de espécies enfrentam o risco de extinção por causa da atividade humana.
Para evitar isso, a expansão implacável da agricultura industrial precisa ser interrompida e áreas naturais restauradas para que possam continuar a ser o suporte desta variedade desconcertante de vida que até hoje só foi encontrada em nosso planeta. Além disso, a adoção de práticas agrícolas ecológicas reduzirá o uso de produtos químicos como agrotóxicos – o que seria uma boa notícia para as abelhas e outros insetos que estão em sério declínio.
- …e garante também a sobrevivência dos povos indígenas
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Os Munduruku são um dos povos que bravamente vêm resistindo contra as agressões às suas terras © Anderson Barbosa / Greenpeace
Os povos indígenas representam menos de 5% da população mundial. No entanto, coletivamente, suas terras detêm mais de um terço de todas as áreas naturais remanescentes. Eles estão na linha de frente da luta para defender florestas e outras áreas naturais. Estudos mostraram que as áreas governadas por povos indígenas contêm mais biodiversidade do que em outros lugares e, no Brasil, registram taxas muito menores de desmatamento. O novo relatório do IPCC sobre uso da terra é claro: respeitar e apoiar os povos indígenas é vital para garantir que as florestas e outras áreas naturais sejam saudáveis e bem geridas.
- Terras saudáveis significam solos férteis
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O
movimento de expansão do agronegócio coloca em risco populações
tradicionais, a disponibilidade de recursos naturais, como água, e a
fertilidade dos solos. © Marizilda Cruppe
Reduzir a carne na dieta e substituir a agricultura intensiva por uma abordagem mais ecológica reduzirá a pressão sobre as terras e manterá a fertilidade do solo. E o solo é outro grande espaço de armazenamento de carbono, portanto, mantê-lo em boas condições é outra solução natural para a crise climática.
- Até mesmo sua saúde irá melhorar
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O
Festival Percurso, realizado na periferia de São Paulo, busca discutir
como disponibilizar alimentos saudáveis e sem veneno para todos. ©
Christian Braga / Greenpeace
Fazer essas mudanças é bom para a nossa saúde e para a saúde do planeta.
Dra. Reyes Tirado é pesquisadora do Laboratório de Pesquisa do Greenpeace na Universidade de Exeter, no Reino Unido. Ela lidera investigações de campo e análises científicas sobre mudança climática e biodiversidade, agricultura e sistemas alimentares.
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