Wednesday, September 2, 2015

Uma gigante enfrenta a Shell

Urso polar de três toneladas do Greenpeace está na frente da sede da Shell, no Reino Unido; a atriz britânica Emma Thompson participa da manifestação

 
O urso de dois andares e três toneladas está em frente a sede da Shell, no Reino Unido (© Greenpeace)

Um boneco colossal de ursa polar – do tamanho de um ônibus de dois andares – foi colocado em frente à sede da Shell durante a noite. A aclamada atriz e roteirista britânica Emma Thompson se juntou aos 64 ativistas que estão ao lado dessa imponente criatura, a poucos metros da entrada da empresa que, ao explorar petróleo no Ártico, está colocando todo o planeta em risco. 
Aurora, que ganhou esse nome em homenagem à aurora boreal, soltará grunhidos durante toda a sua estadia no local e deve ficar lá até que a janela de perfuração da Shell no Ártico termine, no final deste mês. Seis manifestantes estão dentro do boneco para que ele não seja removido. 
Hoje, pela manhã, Emma Thompson recitará um poema de sua autoria, feito especialmente para os diretores da Shell. A atriz está no protesto de hoje, junto a mais de 7 milhões de pessoas que se uniram ao movimento Salve o Ártico


A atriz Emma Thompson ajuda a posicionar o urso gigante (© Greenpeace)

"Eu fui ao Ártico, vi a beleza, vi a vida selvagem e fico com o coração partido em pensar que a Shell está lá, agora, buscando petróleo e pondo a região em risco. Estou aqui para dizer que ‘não!’. Estou aqui para dizer que isso tem que acabar. Eu sou uma das milhões de pessoas exigindo que a Shell saia do Ártico", defende Emma Thompson. 
Região ameaçada 
Devido às mudanças climáticas, o manto de gelo no Ártico está derretendo a um ritmo alarmante e, em março deste ano, o Polo Norte teve o menor nível máximo de gelo já registrado. À medida que há menos gelo, fica mais fácil para as empresas petrolíferas levarem suas plataformas de perfuração ainda mais ao norte. 


A cabeça da ursa polar Aurora (© Greenpeace)

Foi isso que fez a Shell, mas, a cada segundo que opera no Ártico, a petrolífera aumenta o risco de um vazamento de petróleo nas águas geladas. Um acontecimento desse tipo seria catastrófico, pois o óleo não se dissolve em baixas temperaturas e não há uma técnica eficiente para limpar um derramamento nesse ambiente extremo. 
Além disso, pesquisadores concluíram que a exploração de petróleo na região é incompatível com a meta de limitar o aquecimento global a 2º Celsius acima dos níveis pré-industriais, um objetivo acordado pela maioria dos governos. Uma análise dos dados da própria Shell tem mostrado que a empresa está apostando em um aumento de temperatura de 4º Celsius em meados do século – o dobro do aumento descrito como "perigoso" por cientistas. 
Riscos da exploração 
Duas semanas atrás, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, deu à Shell as permissões finais para operar na região ártica. A empresa tem agora até 28 de setembro para encontrar petróleo, quando terá que interromper suas operações por causa da chegada do inverno. 
As condições extremas do Ártico, incluindo icebergs gigantes e enormes tempestades, fazem a perfuração em alto-mar ser extremamente arriscada. O próprio governo dos EUA reconheceu que há 75% de chance de um grande derramamento de petróleo durante a vida útil dos poços no Ártico. 
"A exploração no Ártico é uma ameaça para a região e para as milhões de pessoas que vivem na linha da frente das mudanças climáticas. No entanto, a Shell ignora tudo isso em sua busca cega por lucro”, disse a ativista do Greenpeace Reino Unido Elena Polisano. “Estamos interessados ​​em saber como eles pensam que colocar o mundo no caminho para um aumento de temperatura de 4º Celsius em meados do século vai beneficiar as pessoas deste planeta", questiona ela. 
Em 2012 a Shell já tentou explorar o Ártico, mas foi atormentada por múltiplas falhas operacionais que levaram ao encalhe da plataforma de perfuração Kulluk. A petrolífera voltou ao Mar de Chukchi utilizando equipamentos da mesma empresa, a Noble Drilling, que, durante a sua mais recente empreitada no Ártico, confessou ser culpada de oito delitos graves. Já a Transocean, proprietária de outra plataforma da Shell, esteve envolvida no desastre da Deepwater Horizon, no Golfo do México. Nesta temporada, a Shell já sofreu retrocessos, incluindo um rombo de um metro no casco de um dos seus navios.
A petrolífera tem enfrentado uma pressão pública cada vez maior contra a exploração no Ártico. Enquanto levava a plataforma Polar Pioneer para a região, ocorreram diversos protestos: ativistas embarcaram nela no meio do Oceano Pacífico; em Seattle, pessoas em caiaques a cercaram; e também houve uma ativista indígena se manifestando em alto mar contra a exploração. Já em Portland, o quebra-gelo Fennica teve sua partida retardada em 40 horas por um grupo de ativistas do Greenpeace, que se penduraram embaixo de uma ponte, bloqueando o caminho por onde o navio passaria. 
Nas últimas semanas, diversas personalidade mundiais, como Peter Capaldi, John Hurt e Maisie Williams, falaram contra a exploração no Ártico. Figuras públicas, como Al Gore e Hillary Clinton, também expressaram preocupações sobre a perfuração de petróleo na região. 
A Shell já gastou US$ 6 bilhões e deve gastar mais US$ 1 bilhão neste ano em suas operações no Ártico.

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