Saiba o que será discutido na conferência e o que esperar da participação do Brasil
Em novembro, o Reino Unido receberá os líderes mundiais em Glasgow para a 26ª Cúpula Climática da ONU – também conhecida como COP26. A conferência acontece poucos meses após o lançamento do último relatório do IPCC, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, que afirmou ser inequívoca a influência humana no superaquecimento do planeta.
Entre 2011 e 2020, a média da temperatura global atingiu 1.09°C acima dos níveis pré-industriais. Estamos vivendo a última janela de oportunidades para a tomada de ação em direção a uma mudança urgente e necessária para conter as mudanças climáticas e a COP cumpre um importante papel neste cenário.
Nós respondemos algumas perguntas para tirar todas as suas dúvidas sobre o maior encontro global dedicado ao enfrentamento da crise climática. Confira.
O que é a COP26 e qual sua importância?
A COP (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas) acontece anualmente e é onde centenas de líderes mundiais se reúnem para negociar e acordar planos para combater as alterações do clima.
Em 2021, a 26ª edição da conferência climática acontecerá em Glasgow, na Escócia, de 31 de outubro a 12 de novembro. Esta é a reunião mais importante desde a COP21, em 2015, quando quase 200 líderes mundiais assinaram o Acordo de Paris e formalizaram seu comprometimento em frear as mudanças climáticas.
Para isso, em Paris, cada nação signatária prometeu desenvolver planos para diminuir consideravelmente as emissões de carbono e apresentar suas estratégicas cinco anos mais tarde, na COP26. O encontro estava previsto para ocorrer ano passado, mas teve sua data original transferida em razão da pandemia do coronavírus. A última COP aconteceu em Madrid, em 2019.
A conferência que se aproxima é de suma importância porque estamos na última década para juntar esforços e evitarmos que os impactos do aquecimento global sejam ainda mais perversos. Estamos falando sobre desastres naturais inimagináveis, eventos extremos cada vez mais intensos e frequentes, elevação do nível do mar e perda irreparável da biodiversidade.
Frente a pandemia da Covid-19, a COP26 também é uma oportunidade única para que a reconstrução de uma economia global mais forte, justa e sustentável seja um objetivo comum entre todos os países.
Quem participará da COP26?
Representantes de governos, organizações não-governamentais, empresas, cientistas, grupos religiosos e delegações de povos indígenas de todo o mundo estarão presentes na COP26, que também contará com intensa cobertura midiática.
A conferência acontece ao longo de duas semanas e tradicionalmente tem início com negociações técnicas, mas, este ano, a estrutura será um pouco diferente e o evento começará com a Cúpula Mundial de Líderes nos dois primeiros dias.
Devido à desigualdade no acesso aos imunizantes contra a Covid-19, muitos países não participarão de forma presencial, mas os organizadores estão trabalhando para garantir a conferência de uma maneira segura e com a colaboração de todos.
Além disso, nós, em conjunto com outras organizações, pressionamos para que não houvesse um acesso desigual à COP 26, e iremos monitorar tratamentos que não sejam equitativos entre delegações do Norte e Sul Global.
O Greenpeace defende que a COP só deve ser realizada se for acessível e segura a todos os participantes.
O que deve ser discutido na COP26?
A COP26 é o prazo final para que os países apresentem seus planos de redução de emissões de gases do efeito estufa. Juntos, estes planos precisam colocar o mundo no caminho certo para deter o aumento da temperatura global de mais de 1,5ºC até o final do século.
Apesar de serem um compromisso oficial, estes planos são muito improváveis de serem entregues e executados no atual cenário político e econômico, em que o incentivo aos combustíveis fósseis e a busca pelo lucro em detrimento do meio ambiente são predominantes.
Ao assinarem o Acordo de Paris, as nações mais ricas também prometeram US$100 bilhões por ano para ajudar os países mais pobres a reduzir suas emissões e se protegerem contra os impactos da mudança climática. Não se espera que isto esteja na agenda formal da COP26, mas ainda deve ser debatido.
Os graves danos climáticos não têm sido tratados, até agora, como uma prioridade nas negociações formais – apesar dos países do Sul Global, os mais afetados pela crise climática, pedirem que este ponto seja discutido urgentemente.
Os líderes precisam ir além dos compromissos já assumidos e respaldar suas promessas em planos, políticas e investimentos nacionais concretos. Para manter o aumento da temperatura global abaixo do limite de 1,5ºC, por exemplo, cada país precisa parar imediatamente todos os novos projetos de combustíveis fósseis.
E, novamente, as nações ricas precisam dar apoio financeiro extra aos países mais pobres para que façam o mesmo e para que lidem com os impactos das alterações climáticas que já os afetam.
Quais são os possíveis entraves da COP26?
As regras para os mercados de carbono também estão na agenda da COP26. Estas complexas discussões ameaçam inundar as negociações, deixando pouco espaço para acordos mais urgentes sobre financiamento climático e eliminação gradual dos combustíveis fósseis.
O Greenpeace defende, em nível internacional, que os mercados de carbono não devem se tornar uma distração em Glasgow. Eles frequentemente dão aos países e empresas um “passe livre” para continuar a poluir por meio da compensação de carbono.
Ao invés de apostarem e discutirem falsas soluções, os governos precisam se concentrar na elaboração de diretrizes firmes para que as empresas reduzam diretamente as emissões em suas atividades.
E o Brasil nisso tudo?
Nosso país enfrenta descrédito internacional devido à política antiambiental colocada em prática pelo governo Bolsonaro. Com taxas recordes de desmatamento e negacionismo em alta no Palácio do Planalto, não podemos esperar nada além do vexame que vivemos recentemente com a fala do presidente na Assembleia Geral da ONU.
Bolsonaro negligencia a gravidade da crise climática e apresenta somente falsas soluções para o problema, como o citado mercado de carbono. Enquanto tenta enganar o mundo com discursos mentirosos, seu governo continua defendendo projetos que atacam os direitos dos povos indígenas, os guardiões das florestas, e da Amazônia.
O Congresso Nacional segue as diretrizes do mandatário, e é esperada a participação de diversos parlamentares que podem vir a defender falsas e fáceis soluções para o clima, como o crédito de carbono, e envio de recursos sem prerrogativas. Estamos de olho neles!
Há ainda um grande ponto de interrogação sobre a participação presencial do presidente na conferência. Em razão da pandemia, os britânicos exigem o isolamento obrigatório de no mínimo cinco dias para representantes de países enquadrados na chamada lista vermelha do governo local, situação na qual se encontra o Brasil – segunda nação com mais vítimas fatais da Covid-19.
Crítico às limitações e aos protocolos sanitários mais rígidos, o Itamaraty tem sinalizado o envio de uma pequena delegação a Glasgow.
O que o Greenpeace faz na COP?
O Greenpeace entende ser importante o envio de representantes da sociedade civil à COP, em especial a juventude representante das novas gerações. É crucial para as negociações da conferência que contem com a participação de especialistas e ativistas que estão na linha de frente do combate à crise climática – observando, fazendo contribuições e assegurando que os políticos estejam escutando.
Nós apoiamos grupos de base e representantes de povos indígenas que participam da COP, sendo muitas dessas comunidades do Sul Global. O termo Sul Global é frequentemente usado para se referir a países economicamente menos ricos que são os mais expostos aos impactos climáticos, como incêndios e enchentes, apesar de serem os menos responsáveis. As decisões tomadas na COP26 irão, portanto, afetá-los mais diretamente.
Como uma organização global, o Greenpeace também trabalha para influenciar as negociações da COP antes mesmo da conferência. Isto significa trabalhar com ativistas em todo o mundo, ajudando-os a pressionar os líderes para que consigam melhores resultados nas negociações.
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