por
Greenpeace Brasil
Apoiado pelos ruralistas desde a sua campanha, Jair
Bolsonaro elege a agenda ambiental como inimiga do governo e promove uma
avalanche de retrocessos
Antes mesmo de tomar posse, o novo
presidente já anunciava que acabaria com o Ministério do Meio Ambiente
(MMA), submetendo-o ao da Agricultura. A forte repercussão negativa fez
Jair Bolsonaro voltar atrás, mas não desistir de seu objetivo de
destruir a pasta. Em pouco tempo, colocou em prática um “plano B”,
nomeando como ministro Ricardo Salles, condenado em primeira instância
por fraude na elaboração de plano de manejo em uma Área de Proteção
Ambiental em favor de empresas mineradoras. A partir de então, uma enxurrada de medidas e decretos começou
a minar o ministério, diminuindo sua capacidade de atuação, desfazendo
conquistas importantes e até mesmo impondo uma lei da mordaça aos
servidores de alguns órgãos. Assim, ao invés de aniquilar o ministério em uma só canetada, o presidente o faz no varejo.
Nesses primeiros 100 dias, o
governo também adotou medidas e fez promessas que colocam em risco a
Amazônia e poderão fomentar ainda mais o desmatamento e a violência na
região. Nessa linha, Bolsonaro iniciou um ataque sem
precedentes aos povos indígenas: transferiu para o Ministério da
Agricultura a responsabilidade pela demarcação de terras, declarou que
vai rever todas as demarcações que puder e prometeu abrir terras
indígenas para exploração agropecuária e mineração. Segundo dados da
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), tais sinalizações já
foram suficientes para estimular mais invasões e violência no campo.
O desejo de entregar a Amazônia ficou
evidente durante missões governamentais internacionais, em falas de
ministros e do próprio presidente que, em conversa com Donald Trump,
propôs a abertura da exploração da região em parceria com os Estados Unidos.
Além de ilegais, tais atos também afrontam a soberania nacional, uma
vez que áreas protegidas e terras indígenas, que hoje pertencem à União,
poderiam ir parar nas mãos de empresas estrangeiras.
O ataque à pauta ambiental não para por aí. No
Palácio do Planalto, há uma ampla agenda dedicada a encher de veneno a
comida da população. Em 100 dias, já foram autorizados para uso 152
novos agrotóxicos, um recorde se comparado aos últimos dez anos,
considerando o mesmo período. Destas substâncias, 44% são classificadas como altamente ou extremamente tóxicas,
e ao menos quatro produtos são tão nocivos à saúde humana que foram
banidos em diversos países. Há ainda 322 novos pedidos de registro
acatados e que podem seguir pelo mesmo caminho.
“Nestes primeiros 100 dias, o atual
governo empenhou-se apenas numa agenda antiambiental. Não há, por
exemplo, nenhuma nova medida de combate ao desmatamento da Amazônia. Os
criminosos que destroem a floresta e roubam nossas riquezas, os
vendedores de agrotóxicos que contaminam nossa comida e os que querem
tomar as terras das populações indígenas são os únicos que têm algo a
comemorar”, diz Marcio Astrini, coordenador de Políticas Públicas do
Greenpeace.
O atual rumo das políticas ambientais
pode jogar por terra décadas de esforços no combate ao desmatamento,
colocar em risco a saúde da população e trazer um incalculável prejuízo
econômico e de imagem ao país. Cada vez mais, consumidores do mundo
inteiro rejeitam produtos manchados com a destruição ambiental.
Recentemente, o governo francês anunciou que irá bloquear a importação
de produtos agropecuários e florestais que contribuam com o desmatamento
da Amazônia.
“Bolsonaro não ganhou um cheque em
branco da sociedade brasileira para destruir nossas riquezas naturais.
Ele deve governar para o bem de toda a população, e não apenas de acordo
com seus interesses ou grupos aliados. Iremos cobrá-lo 24 horas por dia
da necessidade de proteger as florestas, assegurar a saúde da população
e agir para barrar as mudanças climáticas. Continuaremos lutando contra
todo retrocesso socioambiental, de forma independente, como tem sido ao
longo dos nossos 27 anos de história no Brasil, não importando quem
encontra-se na cadeira da Presidência da República”, afirma Astrini.
Confira aqui os atos e promessas do governo que promovem retrocessos na área socioambiental nestes primeiros 100 dias de governo, e aqui a lista dos agrotóxicos liberados.
No comments:
Post a Comment
Note: Only a member of this blog may post a comment.