Munduruku pedem que General Electric não participe da construção de
hidrelétrica no rio Tapajós, em atividade realizada durante reunião
anual da empresa. A obra terá impactos socioambientais irreversíveis na
região
Jairo Saw Munduruku e Adalto Akay Munduruku protestaram
diante da sede da General Eletric, na Flórida (USA) (© Fran
Ruchalski/Greenpeace)
Prevista para ser instalada no coração da Amazônia, a barragem no rio Tapajós poderá, caso viabilizada, inundar parte importante da Terra Indígena Sawré Muybu, dos Munduruku, e forçar a remoção de pelo menos três aldeias, além de milhares de ribeirinhos. Também causará impactos negativos à rica biodiversidade da região, considerada por especialistas como excepcional até para padrões amazônicos.
“Saímos de nossa casa para vir até os Estados Unidos para falar com as empresas que participam da construção de hidrelétricas, fornecendo turbinas para gerar energia no Brasil. A construção de barragens causa grandes impactos e as empresas, mesmo sabendo disso, escolhem participar da destruição do meio ambiente e da vida das pessoas", disse Jairo Saw Munduruku, liderança do povo. "Eu vim dizer para a General Electric que, se eles participarem da construção de São Luiz do Tapajós, serão responsáveis pela destruição desse enorme patrimônio que é a Amazônia. O pedido do povo Munduruku é para que a empresa não participe de projetos que impactem povos indígenas e ribeirinhos"
A multinacional americana General Electric adquiriu, em 2015, parte da empresa francesa Alstom, que forneceu turbinas hidrelétricas e outros equipamentos para a Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, e é uma das empresas com potencial de se envolver na construção de hidrelétricas no rio Tapajós.
“São Luiz do Tapajós é mais um projeto polêmico, com benefícios econômicos duvidosos e que, se concretizado, trará impactos inaceitáveis para o rio, a floresta e seus povos. Considerando os custos socioambientais da obra, participar desse empreendimento representa um grande risco aos compromissos de sustentabilidade e direitos humanos que a General Electric diz respeitar”, afirma Tica Minami, coordenadora da Campanha da Amazônia do Greenpeace Brasil. “Em vez de participar de um projeto que pode destruir a vida de milhares de pessoas e a biodiversidade amazônica, a General Electric deveria direcionar seus esforços para a produção de energia verdadeiramente limpa, como a eólica e a solar”, conclui.
Antonia Melo, liderança do movimento Xingu Vivo Para Sempre, também esteve presente no evento e compartilhou os impactos trazidos pela construção de Belo Monte. "Os proponentes de Belo Monte quebraram todas as promessas feitas repetidamente às comunidades locais. O projeto seguiu em frente graças à corrupção instalada no governo e à ganância por lucro das empresas, curvando as leis aos seus próprios interesses. O desastre de Belo Monte poderia ser evitado – e é por isso que o projeto de São Luiz do Tapajós deve ser cancelado imediatamente", afirmou Antonia.
"As hidrelétricas na Amazônia só são possíveis graças ao apoio técnico de empresas internacionais fornecedoras de turbinas e outros equipamentos – como é o caso da empresa francesa Alstom, adquirida pela General Electric no ano passado", disse Christian Poirier, diretor de Programas da Amazon Watch. "Com a aquisição, a General Electric agora é responsável diretamente pelos impactos irreversíveis de Belo Monte. Se a empresa quiser evitar se envolver em futuros desastres causados pelas hidrelétricas na Amazônia, ela deve se distanciar do rio Tapajós".
Esse foi o terceiro protesto realizado pelos Munduruku no exterior em parceria com o Greenpeace. Em março, representantes do povo indígena e ativistas estiveram na Áustria em um protesto na frente da Andritz e, em abril, ativistas do Greenpeace protestaram na Alemanha, na sede da Siemens.
Outro caminho é possível - No início de abril, o Greenpeace lançou o relatório “Hidrelétricas na Amazônia: um mau negócio para o Brasil e para o mundo”, que apresenta cenários de geração de eletricidade utilizando fontes renováveis mais limpas e menos prejudiciais, como a combinação de eólica, solar e biomassa. Esses cenários mostram que, aliando investimento nessas fontes e medidas de eficiência energética, é possível garantir a energia que o país precisa sem destruir a Amazônia. Confira aqui.
Suspensão do licenciamento - O povo Munduruku vem lutando há décadas para manter o Tapajós livre de barragens. Na última semana, a Funai publicou o relatório que reconhece a ocupação tradicional dos Munduruku na Terra Indígena Sawre Muybu, onde a barragem está prevista para ser construída. Em seguida, o Ibama suspendeu o licenciamento de São Luiz do Tapajós ao reconhecer os impactos irreversíveis que a obra causaria ao povo Munduruku. Apesar dessa grande conquista, ainda é preciso obter o cancelamento definitivo do projeto por parte do governo e a demarcação da Terra Indígena Sawré Muybu.
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