No Dia Mundial da Água em 2015, a sociedade estava
mobilizada para falar e pensar a água, porque entendeu a
fundamentalidade do recurso. Passado um ano, a chuva lavou a memória da
seca e, novamente, o escasso recurso parece ter sido esquecido.
A falta de água não é apenas consequência da falta de
chuva e das mudanças climáticas, mas também das ações do homem. O
Brasil conta com 12% da água doce do mundo. Mesmo assim, enfrenta secas
em locais que historicamente possuem abundância do recurso, como é o
caso de São Paulo e Rio de Janeiro.
As chuvas de verão que retiraram o sistema cantareira
do volume morto, resultaram em enchentes em diversos municípios com
mortes e prejuízos sociais, evidenciando as alterações em cursos d’água
causadas pelas grandes cidades.
As cidades encobrem rios e poluem águas, de forma a contribuir com a
escassez hídrica, e transformar chuva em enchente. A captação de água é
cada vez mais longe dos centros urbanos, em áreas rurais, onde os
mananciais ficam suscetíveis às oscilações climáticas devido ao
desmatamento de áreas que deveriam ser de preservação permanente. No
Sistema Cantareira, o desmatamento histórico é de mais de 70%. De acordo
com o Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPE), há 35% de cobertura
florestal, 46% de pasto, e 56% de eucalipto, um cenário de completa
devastação.
O problema é crônico, mas há soluções permanentes,
sem que as alternativas sejas obras que no futuro não serão mais
eficientes, pois apenas contribuem para transferir a seca para outro
manancial, como é o caso emblemático da transposição do rio Paraíba do
Sul para o Cantareira, que pode comprometer o próprio Paraíba do Sul,
também castigado pela estiagem. Além disso, as obras foram realizadas
sem estudos de impactos ambientais, em caráter emergencial, podendo
agravar a situação dos mananciais à medida que não se sabe qual os
impactos dessas obras milionárias.
A recuperação das águas brasileiras passa pelo
desmatamento zero e recuperação de áreas de preservação; pela economia
de água por meio da utilização de água de reuso e reestruturação da
infraestrutura de distribuição de água; por fim, pelo tratamento de
esgoto e despoluição dos rios. Não existem soluções mágicas, faz-se
necessário um trabalho árduo de governo e município para que as cidades
tenham a infraestrutura necessária para utilizar a água de maneira
sustentável, e que o desmatamento não comprometa as fontes de
abastecimento urbano e rural.
O Greenpeace pede, no Dia Mundial da Água, por justiça para
a água e para as pessoas que dependem dela. A água é um recurso de
direito de todos, e no momento em que todos possuírem esse direito,
estaremos mais próximos de um país menos desigual.
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