Berta Cáceres ficou conhecida por sua luta contra uma grande
hidrelétrica em Honduras, combatendo interesses financeiros de grandes
empresas. Uma das principais lideranças indígenas do país, ela recebeu o
Prêmio Ambiental Goldman 2015
Berta Cáceres, liderança hondurenha contra hidrelétricas
assassinada em sua casa (Goldman Environmental Prize/Divulgação)
Na semana passada a ativista denunciou publicamente o assassinato de vários líderes indígenas e as ameaças as quais ela mesma estava sendo submetida diariamente. Ontem a notícia de seu assassinato ecoou pelo mundo. Ela foi assassinada tarde da noite na quarta 2 de março por dois homens que invadiram sua residência. O crime está sendo investigado.
Muitas comunidades indígenas enfrentam a mesma luta pelo seu direitos e territórios que Berta liderou. É o caso dos Munduruku, no rio Tapajós, na Amazônia brasileira, lutando contra a construção de uma barragem que pode acabar com suas vidas. No final de outubro, o movimento Ipereģayũ, do povo Munduruku, participou de uma cúpula indígena mundial sobre rios e meio ambiente, na Malásia, onde Cáceres estava presente. O encontro reuniu povos indígenas ameaçados por barragens da Malásia, Indonésia, Filipinas, Camboja, China, Estados Unidos e Honduras para compartilhar experiências, conquistas e estratégias de resistência.
Hoje ainda ressoam as palavras que ela disse ao receber o Prêmio Ambiental Goldman em 2015: “Vamos acordar Humanidade! Despertemos! Já não há mais tempo!”.
Rio Sagrado
De acordo com informações do Prêmio Goldman, quase 30% das
terras de Honduras estavam reservadas para concessões de mineração,
criando uma demanda por energia barata para abastecer as operações
desses projetos futuros. Para atender a essa necessidade, o governo
aprovou centenas de barragens em todo o país, privatizando rios, terras e
expulsando comunidades.
Entre eles estava a barragem de Agua Zarca, um projeto conjunto da
empresa hondurenha Desarrollos Energéticos SA (DESA) e a chinesa
Sinohydrol, a maior empresa construtora de barragens do mundo. Agua
Zarca, planejada para ser construída no rio Gualcarque, sagrado para
povo Lenca, iria ser realizada sem consultar o povo, o que seria uma
violação dos tratados internacionais que regem os direitos dos povos
indígenas, como a Convenção 169 da OIT (Organização Internacional do
Trabalho) que prevê a Consulta Prévia, Livre e Informada aos povos
tradicionais. A barragem iria cortar o fornecimento de água, alimentos e
medicamentos para centenas de Lencas.A partir de 2006, Cáceres coordenou uma campanha contra as obras da barragem, organizando assembleias que votaram contra o projeto e liderando protestos pacíficios que exigiam uma voz no projeto. A campanha também alcançou audiência internacionais, sendo levada a Corte Interamericana de Direitos Humanos. Em abril de 2013, ela organizou um bloqueio permanente com a comunidade Lenca para impedir o acesso da empresa hondurenha ao local de construção. No final de 2013, a Sinohydro encerrou o contrato com a DESA citando a resistência da comunidade e a violência que era cometida contra eles. Em seguida os fundos do Banco Mundial para a obra também foram retirados citando violação de direitos humanos.
Saiba mais: Vídeo da AJ + (em inglês)
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