Thursday, March 10, 2016

Operação prende 11 pessoas em flagrante por extração ilegal de madeira em TI Ka’apor


Ação conjunta da PF, Ibama e MPF ocorreu um uma região de intensa ação de madeireiros que vem causando conflitos e mortes na Terra Indígena 
 
Desde 2008 o povo Ka’apor, que vive na Terra Indígena (TI) Alto Turiaçu, em uma das últimas reservas de floresta do estado do Maranhão, vem pedindo socorro ao poder público, devido às intensas e violentas investidas de madeireiros em suas terras. Na última semana, o pedido começou a ser atendido.
Em uma ação coordenada entre as polícias Federal, rodoviária e Civil do Maranhão, junto com o Ministério Público Federal e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), 11 pessoas foram presas em flagrante e 15 serrarias que operavam ilegalmente na região foram interditadas, com fortes indícios de receptação de madeira ilegalmente extraída da Terra Indígena.
De acordo com Jair Schmitt, coordenador-geral de Fiscalização Ambiental do Ibama, diversos equipamentos utilizados pelos madeireiros foram inutilizados durante a operação. “Pelo menos 10 serrarias foram explodidas. A PF também queimou quatro caminhões e apreendeu outros oito. A intenção é impedir que eles voltem a operar”, detalha.
A operação contou ainda com o apoio dos Ka’apor, que realizam atividades autônomas de monitoramento em sua reserva desde 2013 e foram fundamentais para o sucesso das operações.
Localizada em uma ilha verde de remanescentes de floresta amazônica, em um estado devastado pelo desmatamento, a TI Alto Turiaçu sofre há anos com invasões de madeireiros e caçadores. Até 2014, 8% (quase 41 mil hectares) da Terra Indígena havia sido desmatada.
A pressão sobre as terras do povo Ka’apor é pautada pela madeira ilegal. Madeireiros abrem estradas e avançam pela floresta em busca de espécies nobres, como o Ipê, cujo metro cúbico processado e exportado pode atingir o valor de até 1.300 euros.
Pelo produto, vale tudo, inclusive assassinato. O último  deles, em abril de 2015, vitimou o indígena Eusébio Ka'apor, enquanto este voltava de uma visita a cidade vizinha. Desde então, a região tornou-se palco de um grave conflito. Em dezembro do ano passado um ataque a uma das aldeias dos Ka’apor deixou dois índios baleados.
Desde 2013, de forma coordenada, lideranças indígenas Ka’apor têm feito a vigilância de suas terras para evitar o avanço do desmatamento e a abertura de novos ramais de transporte de madeira ilegal. Ramais e trilhas com maior movimentação de madeireiros e caçadores estão permanentemente ocupados pelos Ka’apor com novas aldeias, ou áreas de proteção, para facilitar a vigilância. Em agosto do ano passado, ativistas do Greenpeace realizaram um treinamento com 12 lideranças Ka’apor, moradores da TI Alto Turiaçu, para integrar o uso de tecnologia às atividades de monitoramento do grupo. Entre as ferramentas adotadas estão mapas mais precisos, armadilhas fotográficas e rastreadores via satélite. Os equipamentos, assim como rastreadores via satélite, foram doados pelo Greenpeace aos indígenas, graças ao apoio de nosso colaboradores.


Índios ka'apor receberam capacitação do Greenpeace para utilizar ferramentas tecnológicas em suas atividades autônomas de monitoramento (© Lunae Parracho / Greenpeace)

“A exploração ilegal de madeira continua sendo o maior fator de risco para os povo tradicionais. São inúmero os casos de violência e invasão de territórios.  É necessária uma reforma profunda no sistema de controle, para evitar que o mercado continue sendo inundado por madeira ilegal, esquentada pelos diversos esquemas que os criativos bandidos florestais inventam para enganar o frágil sistema de controle dos estados”, avalia Nilo D’Ávila coordenador de campanhas do Greenpeace Brasil. “Os Ka´apor conseguiram se articular para conseguir apoio para acabar com o problema. Esperamos que esta operação seja o início de um processo de efetiva proteção do território deles”, pondera.
De acordo com Schmitt, a partir de agora a região terá presença constante dos servidores federais e as operações se tornarão rotina. "O que a gente quer aqui é dar uma resposta a toda esta violência, mostrar que eles (madeireiros) serão combatidos e que não vamos deixá-los vencer esta batalha”, afirma.
Os investigados presos na última operação responderão por crimes como desobediência a decisão judicial, receptação qualificada, ter em depósito produto de origem vegetal sem licença válida, entre outros.

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