A Polícia Federal prendeu, no último final de semana, Ezequiel Castanha, considerado o maior desmatador da Amazônia
Área de floresta sendo queimada ilegalmente para dar espaço a criação de
gado,
na floresta Nacional do Jamanxim, no Pará, próximo a BR 163.
(©
Rodrigo Baléia / Greenpeace)
No último sábado a Polícia Federal prendeu, em Novo Progresso, no
Pará Ezequiel Antônio Castanha, um conhecido contraventor ambiental,
considerado um dos maiores grileiros e desmatadores do Brasil. A gangue
de Castanha é acusada de ter desmatado pelo menos 15 mil hectares na
Amazônia, num período de dez anos. A prisão foi mais um dos
desdobramentos da “Operação Castanheira”, deflagrada no ano passado.
De acordo com o pedido de prisão preventiva expedido pela justiça do
Pará, Ezequiel é acusado por crimes como invasão de terras públicas,
desmatamento de Unidades de Conservação, furto de bens da União,
falsidade ideológica, além de lavagem de dinheiro e formação de
quadrilha. Castanha acumula, ainda, uma dívida que passa de R$ 30
milhões em multas ambientais.
O bando atuava no município de Novo Progresso-PA, principalmente ao
longo da rodovia BR-163, grilando e desmatando terras públicas para
depois vendê-las. Na região, Ezequiel liderou por muito tempo o
movimento contra a criação da Floresta Nacional (Flona) Jamanxim, junto
com Giovany Marcelino Pascoal - também preso na Operação Castanheira.
Operações como essa, que identificam e penalizam pessoas que cometem
crimes contra a floresta, são importantes no combate ao desmatamento,
mas, isoladas, não resolvem o problema. A Amazônia vem sendo ameaçada
por vários fatores, geralmente conectados entre si, como a grilagem,
desmatamento, exploração ilegal de madeira e avanço do agronegócio sobre
as áreas de floresta. Para piorar, a bancada ruralista no Congresso
Nacional vem atuando fortemente para enfraquecer a legislação que
garante proteção à floresta e seus povos, em um claro ataque às áreas
protegidas e terras indígenas.
O objetivo é abrir essas áreas aos seus interesses econômicos – ou
tirá-los do caminho de vez. A impunidade, aliada à histórica ausência de
Estado na Amazônia, tem perpetuado o ciclo vicioso de destruição da
floresta.
Fim do desmatamento exige mudanças profundas
Apesar da ótima notícia para o meio ambiente, sabemos que, com o
profundo problema de falta de governança na Amazônia, é bem possível que
outras “gangues” ocupem rapidamente a lacuna deixada por Castanha sem
serem incomodadas. A grilagem de terras tem sido uma prática comum ao
longo de todo o processo de ocupação da Amazônia, que apresenta situação
fundiária crítica e caótica.
Na tentativa de promover a regularização fundiária, o governo lançou, em 2009, o programa Terra Legal,
criado para regularizar antigas ocupações na Amazônia. O programa abriu
espaço para a obtenção de títulos de terras que foram griladas e
desmatadas ilegalmente, agravando ainda mais o problema. É um cenário
que combina a ação de “mestres” em burlar a lei com brechas legais,
ausência de fiscalização e falta de capacidade da justiça para tratar
tantos crimes juntos.
É preciso que governos e toda a sociedade passem a olhar com mais
atenção para a região e discutam com seriedade os problemas da Amazônia.
E todos podem colaborar para isso. O governo deve empenhar esforços
para proteger a floresta e atacar de fato o problema da regularização
fundiária na Amazônia. É preciso garantir a real implementação das
unidades de conservação e terras indígenas existentes, além da criação
de novas áreas protegidas, bem como a manutenção integral dos direitos
constitucionais dos povos tradicionais ao seu território ancestral.
Estudos apontam que as áreas protegidas e terras indígenas são o
mecanismo mais eficiente no combate ao desmatamento, garantindo, assim, a
proteção do clima.
Empresas que atuam na Amazônia também devem fazer sua parte, banindo o
desmatamento de suas cadeias de produção, excluindo fornecedores
envolvidos na destruição da floresta e em outros crimes associados, a
exemplo da Moratória da Soja e do Compromisso Público da Pecuária.
Por fim, a sociedade pode contribuir pressionando as outras partes
para que, juntos, possamos seguir no caminho para um mundo mais saudável
e com florestas. Foi seguindo esta trilha que mais de 1 milhão de
brasileiros já declarou apoio ao um projeto de lei pelo desmatamento zero, que visa proteger as florestas remanescentes
No comments:
Post a Comment
Note: Only a member of this blog may post a comment.