Com menos de uma semana na presidência da Câmara, deputado Eduardo
Cunha diz não ter poder algum para acabar com a PEC anti-indígena
Kayapó cobraram do presidente da Câmara arquivamento definitivo
da PEC 215. © J. Batista / Agência Câmara
A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215 será desarquivada,
afirmou o recém eleito presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), em reunião com os índios Kayapó. O projeto transfere para o
Congresso Nacional a última palavra sobre a oficialização de Terras
Indígenas (TIs), Unidades de Conservação e Territórios Quilombolas.
Cunha recebeu a comitiva Kayapó no dia 4, que veio à Brasília para
sepultar definitivamente a PEC 215 e avançar na demarcação de TIs. No
entanto, Cunha afirmou que não poderia impedir o reinício da tramitação
da proposta, arquivada no final do ano passado. Segundo ele, qualquer um
dos 170 deputados que assinaram o projeto pode pedir seu
desarquivamento.
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E é isso que acontecerá: a bancada ruralista apresentou um
requerimento com esse objetivo ontem e, segundo Cunha, o Regimento da
Câmara obriga-o a acatá-lo automaticamente. “Não tenho poder ou
competência legal para acabar com a PEC 215 ou nenhuma outra PEC. Tenho
de cumprir o Regimento”, afirmou o peemedebista. Com o desarquivamento
do projeto, será necessário recriar a Comissão Especial que vai
analisá-lo.
Sarney Filho (PV-MA) e Nilto Tatto (PT-SP), que participaram da
conversa, são a favor de uma reunião entre deputados ruralistas e
socioambientalistas nas próximas semanas para discutir uma alternativa à
PEC.
“Os povos indígenas estão entendendo a PEC 215 como uma quebra do
contrato estabelecido com eles para garantir seus direitos na
Constituição de 1988. Se a PEC seguir tramitando, teremos toda a semana
uma manifestação aqui na Câmara contra o projeto”, advertiu Tatto. O
petista acredita que a análise e aprovação do projeto vão acirrar os
conflitos entre povos indígenas e produtores rurais. “Faremos tudo o que
estiver ao nosso alcance para que a Comissão Especial não seja aberta e
não funcione”, disse Sarney Filho.
Com a eleição de 2014, foi eleito o Congresso mais conservador desde
os tempos do regime militar. A bancada ruralista é o bloco de maior
expressão na Casa, e tem enorme influência nas decisões do plenário.
Cunha negou que tenha feito um acordo com os ruralistas para fazer
avançar a tramitação do projeto em troca de apoio à sua eleição para a
Presidência da Câmara, ocorrida no fim de semana.
*Essa matéria foi escrita pelo Comitê de Comunicação da Mobilização Nacional Indígena e publicada inicialmente no site do Instituto Socioambiental (ISA).
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