Ativistas do Greenpeace confrontam navio que carregava containers
repletos de madeira ilegal da Rainbow Trading, na chegada do porto
de Rotterdam, na Bélgica. (© Bas Beentjes/ Greenpeace).
Em novembro do ano passado, após instalarmos rastreadores com GPS em caminhões de madeira para monitorar suas rotas no estado do Pará, conseguimos mapear em detalhes uma cadeia predatória de exploração operando livremente na região e que comercializa com o mercado nacional e internacional. No esquema da retirada ilegal de madeira, que demonstra total descontrole do setor madeireiro no Brasil, os caminhões saíam de áreas de floresta sem autorização para exploração e dirigiam-se para o pátio de serrarias da região, entre elas a Rainbow Trading.
Logo depois dessa denúncia, confrontamos um carregamento de madeira da Rainbow que chegava a Europa e que seria vendido para compradores da Bélgica. Nesse período, as autoridades belgas apreenderam seis containers da serraria que seriam destinados a empresas do país.
A partir daí, considerando os nossos alertas e
declarações do próprio órgão responsável pelo controle da atividade no
Pará (SEMA), empresas da Holanda, Suécia e da França suspenderam a comercialização com a serraria. Essas empresas admitiram o que vínhamos dizendo desde maio de 2014:
que atualmente é impossível garantir a legalidade e a origem da madeira
apenas verificando a documentação oficial emitida pelo governo
brasileiro.
Em efeito dominó, mais empresas passaram a dizer
“não” para esse crime. Recentemente, na Suíça, a empresa Getaz Miauton
deixou de comprar madeira de uma importadora exposta em nossa
investigação, a Ipezai, que ainda mantém relações comerciais com a
Rainbow Trading. Na Bélgica diversas empresas, membros da federação dos
importadores de madeira do país, acabaram de suspender a compra de
madeira da serraria. Entre alguns - dos cerca de 40 membros da federação
que decidiram parar de comprar madeira da Rainbow Trading por tempo
indeterminado - estão as empresas Leary Forest Products, a Vandecasteele
Houtimport, a Lemahieu, a Lagae, a De Groote e a Omniplex, todas
expostas em nosso relatório.
Bélgica libera entrada de madeira retida da Rainbow Trading
Apesar das reações positivas do mercado, as
autoridades responsáveis pelo controle da atividade no Brasil e pela
entrada do produto nos países importadores ainda não assumiram suas
responsabilidades em relação ao problema. Além do governo federal
brasileiro ainda não ter se pronunciado a respeito, seja por meio do
Ministério do Meio Ambiente, ou pelo Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), as autoridades
belgas liberaram recentemente a madeira apreendida nos containers da
Rainbow Trading, sem que houvesse prova confiável quanto à origem legal
da madeira vinda da serraria.
Desde a nossa denúncia, a Rainbow Trading está sob
investigação da Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Pará (Sema) e
suspensa em ambos os sistemas de controle eletrônicos (tanto no sistema
federal, quanto no estadual), o que a impede de realizar qualquer tipo
transação comercial. De acordo com as operações de fiscalização do órgão
estadual, a empresa foi multada por vender madeira ilegal; por
“lavagem” de madeira (isto é, vender o produto com créditos/documentação
obtidos de forma fraudulenta); e por inserir informação falsa no
sistema que registra essas transações. As investigações não acabaram e,
portanto, não há provas de que a madeira contida nos containers seja de
origem legal.
“Ao parar de comprar madeira da Amazônia, esses mercados estão dando o
recado de que o risco da ilegalidade é alto demais. Ainda assim é
preocupante que os governos desses países importadores se permitam serem
usados como porta de entrada para a madeira ilegal, tornando-se
cúmplices nesse crime”, disse Marina Lacôrte.Para Lacôrte, “o governo brasileiro não pode mais negligenciar esse problema, ele precisa liderar imediatamente a revisão de todos os planos de manejo aprovados desde 2006 e realizar uma reforma robusta no sistema de controle”, avalia.
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