Tuesday, August 1, 2023

Mineração em águas profundas não avança, mas ainda é uma ameaça

Lu Sudré 

Empresas não conseguiram sinal verde para iniciar a atividade de imediato; no entanto, isso não significa que os oceanos estejam protegidos

Dia Global de Ação Global contra a Mineração em Águas Profundas na Nova Zelândia (Foto: Greenpeace)

Após três semanas de intensas negociações, o encontro da Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA), na Jamaica, chegou ao fim na semana passada sem que os países entrassem em um consenso sobre a regulamentação da mineração em águas profundas. 

Apesar da pressão do setor para que a atividade fosse autorizada, 21 nações se pronunciaram favoravelmente à pausa preventiva – entre elas o Brasil. Os países defendem mais tempo para que os impactos da mineração sejam mais conhecidos e estudados.

Os governos acordaram discutir a proteção do ambiente marinho na próxima reunião da ISA, em abril de 2024 – uma excelente notícia para os defensores da vida marinha, já que a expectativa da indústria era ter autorização imediata para começar a dragar o leito marinho.

No entanto, ainda que as empresas não tenham conseguido um sinal verde para iniciar a mineração em escala industrial, os oceanos não estão protegidos por completo desta ameaça.

Empresas e países pró-mineração ainda podem acionar a chamada “regra dos dois anos” – um dispositivo da Convenção sobre o Direito do Mar que prevê que a ISA é obrigada a aceitar provisoriamente as propostas para a mineração comercial nos oceanos mesmo que a regulamentação não esteja em vigor.  

Por outro lado, a crescente mobilização global em defesa da pausa preventiva deve atrasar a análise e a aprovação desses possíveis pedidos. 

Dezenas de instituições financeiras, cientistas e entidades da pesca também estão se juntando ao movimento para frear essa atividade, que beneficia empresas do Norte Global e que pode gerar impactos irreversíveis para a vida no fundo do mar.

Mobilização contínua

A ISA, amplamente criticada pelas organizações ambientais por ser próxima à indústria, realizou muitas reuniões às portas-fechadas ao longo das três semanas de encontro na Jamaica e declarou que espera aprovar a regulamentação da mineração em águas profundas até 2025.

A participação da sociedade civil também foi cerceada pelo órgão durante o encontro: jornalistas foram restringidos e protestos pacíficos durante as reuniões foram reprimidos.

Todos esses movimentos sinalizam que a articulação em defesa das profundezas dos oceanos não pode parar.  Empresas como a canadense The Metals Company (TMC), que conta com uma subsidiária em Nauru, seguirão pressionando para a liberação da atividade.
 
“Esta claro que a maioria dos governos não quer que seu legado seja o de apoio à destruição dos oceanos. Cada vez mais países estão defendendo uma abordagem de maior precaução com relação a essa atividade. A única forma de impedir esta indústria é por meio de uma moratória que garanta a proteção dos oceanos”, defende Enrico Marone, porta-voz da campanha de Oceanos do Greenpeace Brasil.

Segundo Marone, o argumento que as empresas e governos apoiadores da mineração apresentam, de que a exploração de metais e minérios é imprescindível para a transição energética, não se sustenta.

“A transição energética justa que o mundo precisa pode acontecer sem impactos tão danosos ao mar profundo. Ao invés de irmos atrás de mais metais e minérios, destruindo os habitats marinhos, podemos direcionar esforços para o desenvolvimento de tecnologias e baterias mais eficientes”, adiciona o oceanógrafo. 

Na opinião do especialista, as reuniões na Jamaica evidenciaram que “avançar com a exploração do mar profundo em meio à crise climática não é apenas imprudente, mas politicamente incoerente. O mundo está se mobilizando contra a mineração em águas profundas e ainda há uma grande luta pela frente”.

Comunidades indígenas do Pacífico, principalmente as que vivem na Zona Clarion-Clipperton (CCZ na sigla em inglês), local onde estão sendo realizados testes pré-exploratórios, também estão se mobilizando contra a mineração e demandam ser ouvidas pelos líderes mundiais. 


sobre o(a) autor(a)

Lu Sudré é jornalista do Greenpeace Brasil em São Paulo. Tem experiência na cobertura de temas relacionados ao meio ambiente, direitos humanos e política.

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