Greenpeace publica carta aberta aos governadores dos estados da Amazônia Legal, em um chamado por mais ação pela proteção da floresta e por dignidade para o povo que a habita
O Greenpeace acaba de lançar uma carta pública aos governadores que integram o Consórcio Amazônia Legal, onde traz uma série de recomendações de ações para deter o desmatamento e evitar a ocorrência de fogo na Amazônia.
Apesar da queda expressiva nos alertas de desmatamento nos primeiros sete meses de 2023 (42%), o número de focos de calor segue em um nível terrivelmente elevado, e que pode piorar nos próximos meses, graças à influência do fenômeno El Niño, que deixará o clima ainda mais quente e seco na região.
Na Amazônia, o fogo é usado no processo de desmatamento da floresta, e combater a destruição, o roubo de terras públicas e o crime ambiental é evitar que as queimadas e incêndios aconteçam.
Os governos dos nove estados da Amazônia Legal (Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Maranhão, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins) tem um papel fundamental neste desafio. Leia a Carta na íntegra e faça parte!
Carta pelo futuro: Chega de fogo na Amazônia
Srs. Governadores do Consórcio Amazônia Legal,
No
Brasil, o fogo que consome a Amazônia, e transforma em cinzas nossas
chances de mitigar a crise climática, é criminoso e impulsionado pelo
avanço da agropecuária sobre ambientes naturais.
Infelizmente,
ainda hoje, a floresta e seus povos são vítimas de uma visão
ultrapassada de desenvolvimento, um olhar meramente exploratório, onde a
floresta tem mais valor destruída, que em pé. No entanto, até aqui,
essa lógica não trouxe dignidade nem melhora de vida para quem mora na
floresta, nem longe dela. Pelo contrário, levou à corrosão dos direitos
humanos, a impactos ambientais, sociais, econômicos e sanitários, que
tendem a se agravar caso não mudemos a rota da lógica econômica
implementada na região.
Em 2019, o Consórcio Amazônia Legal, do
qual os Srs. fazem parte, lançou um projeto batizado de Plano de
Recuperação Verde, com o objetivo de propor soluções para reduzir o
desmatamento e levar desenvolvimento, renda e dignidade para a população
amazônica.
Mas os mesmos estados ainda não iniciaram ações
fundamentais para evitar que o desmatamento e o fogo aconteçam e este
ano pode ser decisivo: depois de altas consecutivas no desmatamento, nos
próximos meses enfrentaremos os efeitos do El Niño, que deixará o tempo
ainda mais quente e seco na região, um cenário perfeito para o crime
ambiental. É preciso agir para evitar uma crise ambiental ainda maior.
Cientistas
vêm alertando que a Amazônia pode estar perto de seu ponto de não
retorno e que já existem áreas da floresta que apresentam perda de
capacidade de recuperação. Não podemos permitir que a Amazônia atinja
esse limiar, que produzirá uma série de efeitos em cascata, nos levando
ao colapso climático que produzirá efeitos irreversíveis em nossas
vidas.
Considerando a urgência do momento e a necessidade de
avançar neste processo, a sociedade clama para que os Srs. Governadores
do Consórcio Amazônia Legal sejam mais ambiciosos na implementação de
seu Plano de Recuperação Verde, e se posicionem como verdadeiros
defensores da floresta e seus povos em 2025 durante a COP 30. Para
isso, se faz necessário que coloquem em prática imediatamente
compromissos e ações para evitar um desastre ambiental.
Para atenderem às solicitações da sociedade, os Governadores dos estados amazônicos devem ao menos:
●
Identificar e punir os proprietários de terras que não cumpriram os
Decretos Federais que proibiam o uso do fogo na Amazônia, que ficaram
conhecidos por moratória do fogo, nos anos de 2019, 2020, 2021 e 2022,
multando e embargando as terras em domínio estadual, desestimulando
assim novas queimadas;
● Adotar a meta de zerar todo o desmatamento até 2030 em linha com o governo federal;
●
Cancelar de maneira emergencial, até o final de 2023, todos os CAR
registrados em Terras Indígenas, Unidades de Conservação (que não
admitem propriedades; particulares), Territórios Quilombolas e Florestas
Públicas Não Destinadas. Validar todos os demais registros de CAR até o
final de 2024;
● Destinar as terras públicas estaduais para
conservação e uso sustentável, reconhecendo os direitos à terra de povos
e comunidades tradicionais e agricultores familiares;
●
Construir alternativas socioeconômicas viáveis para a região, superando o
atual modelo predatório, que concentra renda, produz desigualdade
social e engole a floresta.
São medidas urgentes para evitar que o
fogo aconteça na Amazônia hoje, e para que haja um nivelamento – para
melhor – das ferramentas de prevenção ao desmatamento e ao fogo em todos
os estados do Consórcio. Precisamos dificultar a atuação de criminosos
ambientais e valorizar o potencial da floresta em pé para a geração de
emprego e renda à população, incorporando novas tecnologias para a
produção de soluções sustentáveis na floresta.
É pelo futuro da humanidade e por mais dignidade e desenvolvimento real para o povo da Amazônia.
Assine a Carta e junte sua voz a este clamor pela floresta e seus povos.
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