Em Alagoas e Pernambuco, milhares de pessoas ficaram desabrigadas após fortes chuvas. O planeta dá sinais de que precisamos mudar, e rápido

Foto de cima de cidade em Alagoas com ruas alagadas e casas cobertas parcialmente de água.
09.07.2023 ©Edvan Ferreira / Agência Alagoas

Na semana passada, o Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, alertou: “as mudanças climáticas estão fora do controle”. A afirmação foi feita após o planeta ter batido vários recordes de calor. Quinta-feira, 6 de julho, foi o dia mais quente já registrado. A temperatura média global ultrapassou 17°C.

Enquanto alguns países na Europa ardiam em calor, outros eram atingidos por chuvas torrenciais, como no norte da Espanha, na cidade de Saragoça.  Aqui no Brasil, pessoas perderam lares e vidas, como consequência de um clima caótico e da falta de políticas públicas. 

No último final de semana, no estado de Alagoas, 23,6 mil pessoas ficaram desalojadas e desabrigadas após fortes chuvas, segundo balanço divulgado pela Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec) até a publicação deste texto. E 31 cidades estão em situação de emergência.

Em outro estado do Nordeste, Pernambuco, os moradores passaram por “tudo de novo”, como noticiou o Marco Zero. As casas foram inundadas e as ruas alagadas em regiões não adaptadas à nova realidade do clima, que já nem é mais tão nova assim, deixando mais de 440 pessoas desalojadas e 101 famílias desabrigadas até o momento, segundo a Defesa Civil. Neste domingo, o governo do Estado decretou situação de emergência em 12 cidades da Zona da Mata, fortemente atingida pelas chuvas.     

Retomando a fala de Guterres, é possível atestar o quanto a crise do clima está fora de controle quando tratamos das consequências dos eventos extremos do clima, em um país carente de políticas públicas que garantam a vida para quem está mais ameaçado. As cidades brasileiras não estão preparadas para os desafios impostos pela emergência climática e o poder público segue negligenciando os impactos desiguais.

No Brasil, cerca de 4 milhões de pessoas vivem em áreas de risco e isso não pode ser normalizado.

“As famílias que viveram e vivem nas áreas de risco são da mesma geração que anos atrás lutou e fugiu dos colonos, que precisaram se refugiar nos quilombos e favelas em busca de liberdade, proteção e uma vida digna. Antes era o Império Português, hoje é o Estado Democrático de Direito Brasileiro que continua a negligenciar recursos e medidas estratégicas de prevenção e adaptação climática para essa população preta e periférica, a mais atingida. Quantas mortes mais precisamos contar para que as políticas públicas de enfrentamento à crise climática se tornem prioridade para o poder público?”, questiona Rodrigo Santos, porta-voz da campanha de Clima e Justiça do Greenpeace Brasil.

El Niño criará ambiente propício para o fogo na Amazônia 

Todos os anos, na época de estiagem na região Norte, que vai de julho a outubro, vemos a Amazônia ser queimada em ações criminosas que visam transformar a floresta em pasto e monocultura. Este ano, entretanto, as consequências destas ações podem ser especialmente desastrosas, por conta do fenômeno El Niño, que deixará o clima ainda mais quente e seco na região. 

O fenômeno natural, causado pelo aumento das temperaturas do oceano Pacífico na altura do equador, próximo à costa da América do Sul, está associado a mudanças atmosféricas e provocará alterações no clima global, levando chuva em excesso para algumas regiões e seca e calor extremo a outras, como é o caso da Amazônia. 

Isso é preocupante pois o fogo na Amazônia é a última etapa do desmatamento e, graças à política antiambiental dos últimos anos, há um enorme estoque de áreas degradadas e em processo de desmatamento que estão prontas para queimar. Só em 2022, a Amazônia brasileira perdeu uma área de floresta equivalente a 1,6 milhões de campos de futebol, nos últimos quatro anos foram 45.586 km² desmatados, segundo dados do Prodes (Inpe).

E pior, mais fogo e destruição florestal significa mais emissões de gases do efeito estufa (GEE), que levarão a eventos climáticos ainda mais extremos. Atualmente, a mudança no uso da Terra, que inclui o desmatamento e as queimadas, responde por 49% das emissões de GEEs do Brasil, segundo dados do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG). É uma conta que será paga por todos. 

O planeta está dando sinais de que precisamos mudar, e com urgência. Já estamos vivendo o aumento da temperatura global no mar e na superfície terrestre, enquanto a extensão do gelo marinho global acaba de registrar uma baixa histórica. Diante das previsões da ciência para um futuro muito próximo, a situação poderá ser cada vez pior. 

Em consequência deste cenário, tornou-se comum ouvirmos que o “clima está louco”. Mas o que dizer da humanidade, que mesmo diante do pior cenário possível, insiste em cometer os mesmos erros? 

O poder público precisa urgentemente combater o desmatamento, tirar os combustíveis fósseis de cena e adaptar as cidades – as soluções precisam vir das experiências que já existem nos territórios, na inclusão de medidas que ajudem a reduzir as desigualdades sociais e que promovam resiliência e emancipação dos povos. 

Ajude a pressionar por políticas públicas que tornem as cidades mais justas e resilientes à crise climática. Participe do abaixo-assinado “Basta de Tragédias quando as Chuvas Chegam”.