A pedido dos ruralistas, governo melhora Plano Safra para médios e
grandes produtores enquanto financiamento para Agricultura Familiar e
agroecológica fica estagnado
Um mês após o governo anunciar que o crédito para a
Agricultura Familiar permaneceria o mesmo do ano passado, em R$ 30
bilhões de reais, o Ministério da Agricultura disponibilizou R$ 190
bilhões por meio do Plana Safra para os médios e grandes produtores – um
aumento de cerca de 2% em relação ao período 2016/2017, que ficou na
marca de R$ 187 bilhões. Boa parte dos juros também baixaram e o crédito
fica disponível até junho de 2018.
No Brasil, 70% da comida que chega ao consumidor é
produto da Agricultura Familiar. No entanto, é a agricultura
convencional que recebe cerca de 85% de todo investimento público para a
produção rural. A política de crédito do governo é uma das principais
responsáveis pela consolidação e constante expansão do modelo industrial
e, por consequência, do uso excessivo de veneno na comida e no meio
ambiente.
“Hoje existem outros atores e fatores que contribuem
para perpetuação desse modelo perverso, mas a política de créditos é
protagonista dessa situação e contribui muito para que a renda e a
terra continue concentrada nas mãos de poucos”. explica Marina Lacôrte,
da campanha de Agricultura e Alimentação do Greenpeace Brasil.
“Mesmo que o aumento para os grandes pareça pequeno, é
preciso levar em conta o que o governo sinaliza para a sociedade quando
estagna o crédito para a Agricultura Familiar agroecológica e aumenta
para os grandes proprietários de terra”, pontua Lacorte.
A paisagem agrária brasileira expressa uma rica
sociobiodiversidade muito pouco contemplada nas políticas públicas do
país. A população rural familiar, os povos indígenas e comunidades
tradicionais como quilombolas, ribeirinhas e extrativistas contribuem
tanto para o abastecimento familiar e comunitário quanto para a
comercialização no mercado regional, nacional e mesmo internacional e
poderiam contribuir ainda mais, além de serem verdadeiros guardiões da
agrobiodiversidade. Porém, estão praticamente à margem de políticas que
reconheçam seus territórios, direitos e suas estratégias tradicionais de
convivência com os ecossistemas.
No longo prazo, o modelo de produção agrícola
brasileiro deve mudar seu direcionamento e incentivar quem produz comida
de verdade e de forma sustentável.
Panelinha ruralista
Para aprovar as reformas que o governo tanto deseja, é
preciso muito apoio no Congresso, algo que tem sido uma enorme
dificuldade para o atual presidente. No entanto, a bancada ruralista se
coloca à disposição para apoiar o governo – claro, com alguns favores em
troca.
Essa ‘conta’ ruralista pode ser muito alta para a
sociedade e inclui no pacote itens como o encaminhamento e aprovação do
Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural), flexibilização do
Licenciamento Ambiental, revisão de índices da Reforma Agrária e outras
questões como a liberação da venda de terras para estrangeiros. Isso
acaba de ocorrer no caso da Medida Provisória (MP) 759, conhecida como a
MP da Grilagem, aprovada recentemente. Esse pacote ameaça direitos da
sociedade e acirra ainda mais a desigualdade do país e a violência no
campo.
Na semana passada, Temer recebeu uma visita de uma
comitiva de representantes da Frente Parlamentar Agropecuária em sua
residência oficial para tratar dessas agendas ruralistas. Ou seja, esses
e outros retrocessos podem suceder e rápido.
“Os ruralistas também pressionam por um nova Lei de
Agrotóxicos que incentiva ainda mais o uso de pesticidas nas lavouras
brasileiras e facilita o registro e liberação de novas substâncias”,
pontua Lacôrte. Essas medidas, assim como tantas outras do atual
governo, também podem entrar de forma rápida e silenciosa via Medida Provisória.
A união criada
entre o presidente Temer e a bancada ruralista é muito perigosa para o
meio ambiente e também ameaça direitos fundamentais garantidos na
Constituição Federal de 1988. Projetos de Lei antigos, que nunca
chegaram a ser levados a sério, agora tramitam a toque de caixa graças a
essa parceria. Diga não aos retrocessos. #Resista!
No comments:
Post a Comment
Note: Only a member of this blog may post a comment.