Thursday, July 20, 2017

Indígenas Munduruku ocupam canteiro de hidrelétrica na bacia do Tapajós

Em ação pacífica no canteiro da UHE São Manoel, localizada no rio Teles Pires, indígenas reivindicam o respeito a seus direitos fundamentais e a reparação aos danos causados pelas hidrelétricas que estão sendo construídas na região
Ocupação no canteiro de São Manoel (Foto: Povo Munduruku)
 
Cerca de 200 indígenas do povo Munduruku ocuparam de forma pacífica, no último dia 16, o canteiro de obras da usina hidrelétrica de São Manoel, localizada no rio Teles Pires, na divisa entre o Mato Grosso e o Pará. Eles representam 138 aldeias da bacia do Tapajós e exigem um encontro com representantes do governo e das empresas responsáveis pelas obras das hidrelétricas no rio Teles Pires.
A ocupação busca soluções para diversos problemas vividos pelos povos da região a partir da construção das hidrelétricas de Teles Pires e de São Manoel, no rio Teles Pires, formador do Tapajós. Ambos os empreendimentos causaram a destruição de locais sagrados que são de extrema importância para estes povos e também desrespeitaram o direito à Consulta Prévia, Livre e Informada prevista na Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Lideranças indígenas afirmam que a ação ajuda a dar visibilidade às injustiças causadas por esses empreendimentos e reforça a necessidade desses povos serem ouvidos pelo governo e pelas empresas responsáveis.  
Em trecho da carta divulgada pelos munduruku no domingo, com o título “Porque nós munduruku estamos aqui?”, eles explicam alguns dos motivos para a ocupação: “Os nossos locais sagrados karobixexe e Dekuka’a foram violados e destruídos. Nossos ancestrais estão chorando segundo nossos Pajés. O nosso rio Teles Pires e Tapajós estão morrendo. Nossos direitos, que estão garantidos pela Constituição Federal e que passaram a existir depois de muito sangue indígena ter sido derramado, estão sendo violados. Nem mesmo o nosso protocolo de consulta foi respeitado”. (Leia a carta na íntegra aqui).
No dia 17 de julho foi divulgada a segunda carta do povo Munduruku sobre a ocupação, afirmando que o presidente da Funai confirmou sua presença no local. Veja aqui.
Dossiê revela impactos negativos das hidrelétricas São Manoel e Teles Pires
Em 2017 foi apresentado o Dossiê “Barragens e Povos Indígenas no Rio Teles Pires: Características e Consequências de Atropelos no Planejamento, Licenciamento e Implantação das UHEs Teles Pires e São Manoel”, elaborado por integrantes do Fórum Teles Pires.
O documento analisa os processos de planejamento, licenciamento ambiental e implantação das usinas hidrelétricas (UHEs) Teles Pires e São Manoel e destaca os conflitos relacionados ao não cumprimento da legislação ambiental, além do desrespeito aos direitos humanos e suas consequências para a vida dos povos indígenas (Kayabi, Apiaká e Munduruku) que vivem na região.
O dossiê foi entregue ao Ministério Público Federal (MPF) e apresentado à direção da Companhia Hidrelétrica Teles Pires (CHTP) em reunião realizada no fim de maio. Na oportunidade as lideranças expressaram forte preocupação com a destruição de seus lugares sagrados e a piora na qualidade da água e da pesca no rio.
Esses impactos são acompanhados de perto pelos indígenas que vivem no rio Tapajós e refletem a preocupação do povo Munduruku em relação às hidrelétricas previstas para serem construídas no Tapajós, fortalecendo a unificação das lutas dos povos dessa bacia. Como afirmam lideranças, o rio é único e é o mesmo que corre em todas as aldeias.
Atualmente, mais de 40 hidrelétricas estão previstas só na bacia do Tapajós. A insistência do governo em construir barragens neste local está no meio do caminho do processo de demarcação da Terra Indígena Sawré Muybu. A demarcação é uma das reivindicações da ocupação. São Luiz do Tapajós, a maior das barragens planejadas, cujo licenciamento foi arquivado em agosto de 2016, alagaria parte da Sawré Muybu, onde estão localizadas quatro aldeias e alagaria ainda outros locais sagrados para o povo Munduruku, entre eles o local conhecido como Travessia dos Porcos, que é considerado um dos mais importantes do povo. A Constituição Federal impede a remoção de povos indígenas de suas terras, exceto em ocasiões emergenciais, e, nestes casos, garantindo o devido retorno. 
“Considerando que atualmente as hidrelétricas figuram na lista dos principais vetores de ameaça aos territórios indígenas na Amazônia, a ação articulada pelos povos afetados para denunciar os reais impactos dessas obras sobre a floresta, os rios e sobre a cultura é sem dúvida uma importante contribuição destes povos para um processo de licenciamento ambiental transparente e fortemente comprometido com a conservação dos ecossistemas e com o respeito aos direitos humanos”, afirma Danicley de Aguiar, da campanha da Amazônia do Greenpeace.
Veja abaixo a pauta de reivindicação do povo Munduruku:
*Texto atualizado às 12h11 do dia 18/07/2017

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