Desmatamento e queimada próxima à Floresta Nacional Bom Futuro, em Porto Velho, Rondônia, em outubro de 2023. © Marizilda Cruppe / Greenpeace

De acordo com os dados preliminares divulgados hoje (9) pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, relativos ao Programa de Monitoramento do Desmatamento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (Prodes), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), houve uma queda de 22,3% na taxa de desmatamento da Amazônia em 2023. 

De agosto de 2022 a julho de 2023, período analisado pelo sistema, a Amazônia perdeu 9.001 quilômetros quadrados (Km²) de florestas, uma redução na comparação com o resultado de 2022, quando foram desmatados 11.594 Km², e a menor taxa desde 2019. O resultado é um alívio e uma boa notícia para a floresta e para o mundo, tendo em vista o aumento expressivo dos alertas de desmatamento registrados nos últimos cinco meses do governo Bolsonaro e nos três primeiros meses do governo Lula. 

“O novo governo teve dificuldade de retomar a governança na região, mas a partir de abril os resultados da mudança do discurso sobre a área ambiental, da atuação firme dos órgãos de controle e fiscalização e da retomada de políticas públicas começaram a aparecer, levando a esta queda na taxa”, afirma Rômulo Batista, porta-voz do Greenpeace

Apesar da boa notícia, a redução ainda é insuficiente para que o Brasil cumpra a meta de NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada) assumida junto a Organização das Nações Unidas (ONU), de reduzir em 48% suas emissões até 2025, e 53% até 2030, valores comparados aos níveis de 2005.

O desmatamento é atualmente a principal fonte de emissões de gases do efeito estufa do Brasil e, para atingir a meta de redução de emissões, o País terá que avançar muito mais e rapidamente para reduzir a destruição florestal. Se quiser combater a crise climática e a perda de biodiversidade em curso, o Brasil tem que ser capaz de reduzir até 2026 o desmatamento até os níveis de 2012, quando chegou 4,6 mil km², o menor número da série histórica.

“O governo Lula e a ministra Marina Silva já conseguiram isso antes, mas terão que se esforçar e ampliar as ações e programas para gerar renda que sejam compatíveis com a floresta em pé, levando assim justiça social e ambiental para região. Além disso, o governo deve usar toda sua articulação política para evitar que o Congresso avance com as boiadas antiambientais, como é o caso de derrubar o veto do marco temporal das Terras Indígenas”, analisa Rômulo Batista.

Para isso, o governo terá que avançar no reconhecimento, criação e gestão de áreas protegidas, bem como em políticas econômicas e sociais que levem a uma transição ecológica definitiva para o Brasil, e que estabeleça na Amazônia um modelo de desenvolvimento que traga avanço real e qualidade de vida para quem vive na região, com floresta em pé, dignidade e mirando no futuro. 

Desmatamento nos Estados

De acordo com os dados divulgados pela pasta de Meio Ambiente, a redução de 2.593 km² no desmatamento da Amazônia, na comparação com a última taxa, evitou a emissão de 133 milhões de toneladas de CO² equivalente. Atualmente, o desmatamento e as queimadas correspondem a 49% das emissões nacionais.

Entre os estados,  a maior redução foi registrada no Amazonas, onde houve queda de 40% na área desmatada, passando de 2.594 km² em 2022, para 1.553 km² este ano. É o menor número desde de 2020. Apesar disso, a ministra Marina Silva ressaltou que “só a sinalização da feitura da BR-319 fez com que o desmatamento aumentasse 110% nessa região”. Já o Mato Grosso apresentou aumento de 9%, indo de 1.927 km² no último ano, para 2.088 este ano, a segunda pior taxa dos últimos cinco anos.

De acordo com representantes no ministério, no MT vem ocorrendo uma dinâmica específica, que é o desmatamento por degradação progressiva, que é quando a floresta vai sendo fragilizada pelas queimadas, até que a área deixa de ser considerada floresta e entra na conta do desmatamento. 

Dados por estado

Estado 20232022
AC597840 – 29%
AM15532594 -40 %
AP1214-14%
MA284271+5% 
MT2086 1927+8%
PA32724162-21%
RO873 1480-42%
RR297279  +6%
TO2627-3% 

Queimadas seguem sendo um desafio

Apesar da boa notícia quanto à taxa de desmatamento, a Amazônia ainda enfrenta uma seca sem precedentes, que criou o ambiente perfeito para a disparada do número de focos de calor em outubro. “Apesar da diminuição do desmatamento vimos um mês de outubro bastante ruim no Amazonas e no Pará, quando olhamos os focos de calor e queimadas, a crise ambiental e o fenômeno El Nino, que se agravaram neste período, levando o fogo entrar em áreas de florestas. Além disso, há quantidades enormes de áreas desmatadas e não queimadas nos últimos anos que estão sendo queimadas esse ano”, complementa Rômulo. Segundo informações do Ministério do Meio ambiente, é previsto que o El Niño persista até 2024, o que inspira atenção no combate e prevenção às queimadas. 

“A melhor forma de diminuir incêndios é reduzindo o desmatamento. Esse ano tivemos um fenômeno onde cerca de 30% dos focos de calor se deram em florestas primárias. Já estamos passando por um estresse hídrico da própria floresta, onde o incêndio já está se dando em floresta primária e isso já é um sinal dos efeitos das mudanças climáticas incidindo sobre a floresta”, disse Marina Silva. “Somos desafiados a quebrar a inércia dos resultados já alcançados”, completou.