A 24a Conferência de Clima da ONU teve início neste domingo com a mensagem clara: não há mais tempo a perder
Ao sair do pequeno aeroporto de uma cidade que tem pouco mais de 300 mil habitantes, é possível sentir o ar carregado, espesso. E não apenas pelo frio já intenso de um final de outono polonês, mas pela poluição advinda das fábricas de carvão. Bem-vindo à Katowice! Eu e o coordenador de Políticas Públicas do Greenpeace, Márcio Astrini, nos juntamos a outros colegas do Greenpeace para acompanhar a 24a Conferência da ONU pelo Clima, a COP24, que teve início neste domingo (2). Todos os países do mundo estão representados aqui com um objetivo comum: conter as mudanças climáticas. Ou seja, na definição do futuro do planeta, precisamos colocar pressão e sermos ambiciosos.Parece irônico e contraditório que esta conferência esteja sendo realizada em uma das principais produtoras de carvão da Europa – uma cidade gelada e escura, que usa as luzes de Natal para apaziguar o concreto do crescimento industrial. Não à toa, ativistas em vários países vêm realizando manifestações e protestos pacíficos pedindo o abandono dessa energia suja que tanto contruibui para o aquecimento global, como na foto acima.
A COP deste ano é de especial importância, pois o Acordo de Paris, que determinou os compromissos de todas as nações para limitar o aumento da temperatura global em 2 oC, começa a valor em 2020. Em pouco mais de um ano, portanto, os países precisam avançar substancialmente para concluir as regras desse Acordo e finalmente colocar em prática metas ambiciosas de redução de gases de efeito estufa.
O relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climática) alertou este ano que precisamos de medidas urgentes e sem precedentes para cortar pela metade nossas emissões atuais até 2030, do contrário, o mundo pode alcançar 1.5 oC de aquecimento global antes mesmo da primeira metade do século. É por isso que os governos precisam agir agora, não temos tempo a perder. Um aquecimento nesse nível causará alterações climáticas irreversíveis e eventos extremos mais frequentes, que prejudicarão não apenas a economia mundial, mas principalmente a vida das pessoas. O Observatório do Clima detalhou bem todos os passos e avanços nas negociações que são necessários este ano.
Liderança perdida
Este ano, estamos mais uma vez sob atenção da comunidade internacional, mas desta vez com desconfiança. Enquanto os líderes e diplomatas estão reunidos para deliberar sobre como serão as regras para conter a emissão de gases de efeito estufa por cada país, o governo brasileiro anunciou poucos dias antes que não sediará a Conferência do Clima de 2019, renunciando um papel importante de liderança no tema. Para somar a esta má notícia, o desmatamento aumentou 13,7% em relação ao ano passado. Entre agosto de 2017 e julho de 2018, foram destruídos 7.900 km2 de florestas, o equivalente a 987 mil campos de futebol e o maior aumento da década.
Nós estamos aqui para assegurar a transição para um mundo melhor. E para pressionar o governo brasileiro a conter o desmatamento no Brasil. A agenda climática é uma questão de Estado e deve ser tratada assim por Jair Bolsonaro. O presidente eleito precisa entender a importância de ser parte de uma mudança irreversível e necessária. Trata-se não apenas de promessa internacional, mas de uma obrigação com a sociedade brasileira que já está sendo impactada pelas mudanças climáticas e pelo desmatamento. Ainda existe esperança. Ter um Acordo ambicioso e efetivo é o que os países devem buscar nesse encontro, pois para o clima não haverá amanhã.
Fabiana Alves é especialista de Mudanças Climáticas do Greenpeace Brasil, e está em Katowice, na Polônia, acompanhando as negociações da COP24
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