Trinta anos após sua morte, encontro marca legado do líder ambientalista no país que mais mata ativistas do campo
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Reserva
Extrativista (Resex) Chico Mendes, no Acre, com a comunidade Dois
Irmãos. As Resex foram um dos maiores legados do líder seringueiro. ©
Marizilda Cruppe/ Greenpeace
Em 22 de dezembro de 1988, Chico Mendes foi assassinado na cidade que agora recebe lideranças extrativistas e movimentos sociais de diversas regiões do Brasil, além de amigos e parentes. Reconhecido internacionalmente, Chico passou a vida lutando pacificamente contra as motosserras que derrubam a floresta. Seu empenho em diminuir as injustiças no campo resultou em um bem-sucedido programa de alfabetização para os seringueiros e na criação das Reservas Extrativistas (Resex), um tipo de unidade de conservação de uso coletivo que permite que as populações utilizem seus recursos, como extração de borracha e castanha, sem destruí-la.
Joaquim Belo, presidente do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) e líder extrativista de Mazagão, no Amapá, conta que, mais jovem, ficou fascinado pela história de Chico. “Se tem algo que une todo mundo na causa pela Amazônia e as populações tradicionais, é o Chico”. Ele acredita que o evento em Xapuri pode contribuir para a formação política da nova geração de seringueiros. “Eles precisam saber que são fruto de uma luta. Se eu não entendo da onde vim, não valorizo onde estou”.
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Casa onde Chico Mendes morou e foi assassinado, em Xapuri © Marizilda Cruppe/ Greenpeace
Brasil lidera ranking de assassinatos no campo
A abertura do “Encontro Chico Mendes 30 anos: Uma memória a honrar. Um legado a defender”, no último sábado, aconteceu no dia em que Chico completaria 74 anos. Nessa mesma manhã, mais uma liderança do campo foi morta. Gilson Maria Temponi presidia a Associação dos Agricultores Nova Aliança, no Pará, e lutava pela regularização de terras junto ao Incra.
Gumercindo Rodrigues, amigo de Chico, em Xapuri © Marizilda Cruppe/ Greenpeace
Lutar pelo meio ambiente e os direitos das pessoas no campo é tarefa arriscada no Brasil, que continua sendo o país que mais mata ativistas que defendem a terra, as florestas e os rios no mundo, segundo relatório recente da Global Witness. Em 2017, 57 mortes foram registradas no Brasil, sendo que 80% dos crimes aconteceram na Amazônia em decorrência de conflitos ligados ao agronegócio e à exploração de madeira e mineração ilegais.
“Líderes como Chico Mendes, Marielle Franco e Irmã Dorothy trouxeram consciência de classe para as pessoas e colocaram em xeque esse modelo de desenvolvimento injusto e excludente, que vira as costas para os trabalhadores do campo e os mais pobres. Por promoverem mudanças concretas e nos inspirarem, viram alvos. Essa violência precisa acabar”, diz Danicley Aguiar, da campanha de Amazônia do Greenpeace, que foi a Xapuri honrar e reafirmar o legado de Chico na luta por justiça para a floresta e seus povos.
Novos tempos de resistência
Com a preocupação de que os conflitos no campo e a criminalização dos movimentos sociais aumentem nos próximos anos, o trabalho de mobilização coletiva será fundamental para garantir a proteção das Resex e os direitos dos extrativistas. Nesse aspecto, Chico Mendes deixou como legado sua incrível capacidade de fazer alianças em favor das populações e da floresta.Deixou também muitas sementes. Uma delas é Lívia Mendes, sua bisneta de 9 anos que pretende ser “pesquisadora da natureza”. Em carta escrita para o bisavô, Lívia diz: “Tomara que as pessoas tenham consciência e que tenham aprendido que elas não vivem sem a natureza”.
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Lívia Mendes, bisneta de Chico: uma semente do bem © Marizilda Cruppe/ Greenpeace
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