Lideranças jovens têm o desafio de não ceder às falsas soluções para problemas do campo e da floresta
Mais do que reafirmar a importância de Chico Mendes para os povos tradicionais da Amazônia, o encontro realizado em Xapuri, no Acre, no último fim de semana serviu para marcar oficialmente a passada de bastão das antigas lideranças para uma nova geração de ativistas do campo e da floresta.Reproduzindo a máxima repetida em clamor no encerramento do evento, a juventude militante amazônica não quer mesmo soltar a mão de ninguém. Segura firme nas mãos dos mais velhos, que trazem a experiência de mais de 30 anos de resistência, mas também dá as mãos para possibilidades inovadoras de enfrentamento em prol dos direitos dos extrativistas, indígenas e quilombolas.
Soleane Manchineri, Dione Torquato, Mônica Bufon e tantos outros jovens são os novos representantes da luta pela sobrevivência das reservas extrativistas, terras indígenas, quilombos e das populações que habitam esses espaços. Uma geração que carrega o importante desafio de se desviar das falsas soluções para as questões socioambientais e frear processos decisórios construídos sem a plena participação dessas comunidades.
Como bem disse Dione Torquato, secretário de juventude do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), o fato de existirem áreas protegidas na Amazônia não é garantia real de que não serão alvos do agronegócio, mineradores e madeireiros: é preciso defender esses territórios, e assegurar acesso a serviços como saúde e educação. A vida na floresta precisa continuar a ser uma opção para as gerações de hoje e do futuro.
As novas lideranças têm muito trabalho pela frente: carregam a responsabilidade de pressionar o governo brasileiro a conter o desmatamento na Amazônia, que no último ano aumentou 13,7%, e combater o aquecimento global, que já afeta a Amazônia e outros ecossistemas do planeta. Sabem que será preciso brigar para que o presidente eleito Jair Bolsonaro não tire o Brasil do Acordo de Paris, o que colocaria em xeque a agenda climática. A capacidade que Chico Mendes tinha de fazer alianças e resistir pacificamente às injustiças sociais será mais do que nunca inspiradora nestes tempos difíceis que se aproximam.
O encontro em Xapuri gerou um manifesto coletivo, a Carta de Xapuri, que reafirma o compromisso com a Amazônia e suas populações. O documento lembra que mais da metade das pessoas que ali estavam eram jovens. Que essa juventude, tão bem articulada e capaz de fazer a conexão campo-cidade, siga firme nos próximos 30 anos de luta.
Leia a Carta de Xapuri na íntegra aqui.
* Danicley Aguiar é membro da campanha de Amazônia do Greenpeace e foi a Xapuri honrar a memória de Chico Mendes
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