No fim de semana do dia 19 de abril de 2017, quatro
homens armados com facas, facões, revólveres e espingardas entraram em
um ramal do Distrito de Taquaruçu do Norte, zona rural de Colniza, no
Mato Grosso, com o objetivo de matar e aterrorizar a população local. O
grupo de extermínio, conhecido como “Os Encapuzados”, percorreu cerca de
dez quilômetros promovendo execuções e tortura. Ao todo, nove pessoas
foram mortas.
Segundo denúncia do Ministério Público do Estado do
Mato Grosso (MPE-MT), o ataque, que ficou conhecido como “massacre de
Colniza”, foi motivado pela cobiça de madeireiros e grileiros pelos
recursos existentes na região de Taquaruçú do Norte, distrito do
município de Colniza.
Apontado pelo MPE-MT como o mandante do crime,
Valdelir João de Souza, conhecido como “Polaco Marceneiro”, é
proprietário das empresas Madeireira Cedroarana e G.A. Madeiras,
responsável pelo Plano de Manejo Florestal localizado ao lado do local
da chacina. A motivação do crime estaria na existência de espécies
valiosas, como o ipê, jatobá e massaranduba, amplamente utilizados para
construção de decks e móveis de alto valor comercial, na área de
floresta em que viviam os agricultores assassinados.
Souza está foragido, mas suas madeireiras continuam
funcionando normalmente, processando madeira que depois é vendida no
mercado nacional e internacional. Uma investigação do Greenpeace
publicada no relatório “Madeira manchada de sangue” mostrou que, de maio
a agosto de 2017, a madeireira Cedroarana enviou sete remessas de
madeira para os Estados Unidos. No dia em que ocorreu a chacina em
Colniza, essa mesma empresa embarcou cargas de madeira para os Estados
Unidos e Europa. Em 2016 e 2017, exportou milhares de metros cúbicos de
madeira amazônica para países como os Estados Unidos, Alemanha, França,
Holanda e Portugal.
Em protesto, ativistas do Greenpeace instalaram um banner na
madeireira Pampa, próxima de Belém (PA), em 2014, com o recado "lavado
para exportação". (© Marizilda Cruppe/Greenpeace)
Como afirma a extrativista Giselda Pereira Ramos
Pilker, moradora da Resex Massaranduba, que fica em Rondônia, região que
sofre com a violência promovida pela madeira ilegal, as ameaças
constantes acabam mudando a rotina de todos que dependem da floresta:
“Eu tenho orgulho de cuidar disso tudo. Tenho certeza de que não é meu,
que pertence a um bem muito maior, de bilhões de pessoas. E vou lutar
com todas as minhas forças até alguém me escutar”, diz.
Madeira ilegal e violência
Estados como Pará, Mato Grosso e Rondônia são
responsáveis por mais de 85% da produção de madeira serrada na Amazônia.
Se existisse um plano nacional de apoio ao manejo comunitário, a
exploração madeireira poderia servir como fonte de renda para as
populações da floresta e um meio de mantê-las na terra, em segurança,
protegendo a floresta. Mas não é o que acontece. Estudos apontam que
parte da madeira que entra no mercado foi explorada de áreas onde a
extração não é permitida, como Unidades de Consevação de proteção
integral , Territórios indígenas e áreas de manejo extrativista. Quando
populações tradicionais e indígenas oferecem oposição ao roubo de
madeira, acabam colocando-se na mira da violência, entre a floresta e os
criminosos.
“A impunidade para este tipo de crime e a falta de
seriedade do Estado em combater a ação de madeireiros ilegais criam um
ambiente propício para que a ilegalidade prospere”, afirma Rômulo
Batista, da campanha Amazônia do Greenpeace. “Diante desse cenário, fica
impossível confiar na procedência da madeira brasileira, pois a cadeia
está toda contaminada”, completa.
O relatório “Madeira Manchada de Sangue” faz parte da
campanha Chega de Madeira Ilegal do Greenpeace, que desde 2014
investiga, denuncia e expõe casos de fraudes em nos sistemas de
licenciamento e controle de madeira do Brasil. “Infelizmente, o Brasil
ainda não avançou. Não temos sistemas integrados de licenciamento e
controle da cadeia produtiva de madeira e planos de manejo com indícios
de irregularidades continuam ativos. Até que consigamos como sociedade
mudar isso, os povos que estão na linha de frente pela proteção das
florestas continuarão a sofrer as consequências diretas e o restante do
mundo as indiretas”, diz Batista.
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