Com alguns avanços nas regras que colocarão em prática
o Acordo de Paris, falta ainda a ambição necessária para lidar com a
emergência da crise climática que já está impactando os mais vulneráveis
Manifestantes pedem ação imediata na Marcha do Clima, durante a COP23
As consequências de uma aumento de temperatura global acima de 1.5o C até 2100 podem ser ainda mais devastadoras do que já acontece no mundo. Ilhas como Fiji, que este ano presidiu a COP23, podem desaparecer. A presidência de Fiji trouxe o Talanoa Dialogue, diálogo facilitativo ligado a objetivos de longo prazo e para informar a preparação de contribuições nacionais (NDCs), ou seja, elevar as metas de redução de emissões estabelecidas por cada país. Espera que o espírito de Fji, uma ilha no Pacífico bastante impactada pelas mudanças climáticas, possa prevalecer e que os países consigam ser mais ambiciosos no ano que vem.
Secas, furacões, ciclones e inundações estão cada vez mais comuns. Todas essas mudanças no clima já impactam os mais pobres e vulneráveis e criam uma nova espécie de injustiça social. Normas internacionais para evitar que isso aconteça estão sendo criadas e apoiadas, mas os impactados pelo aumento da temperatura global não podem esperar.
Este ano o governo Trump oficializou a saída do Acordo, porém grande parte da delegação americana, composta por governadores e prefeitos, reafirmou o compromisso de, em seus mandatos, tomar atitudes em prol do meio ambiente e de uma economia sustentável. Trump se isola internacionalmente. Enquanto o presidente americano ruma sozinho de volta ao passado, vários países e estados anunciam que fecharão a indústria de carvão para geração de energia - uma aliança criada nesta COP, chamada “Powering Past Coal Alliance”, formada por Inglaterra, Canadá, México, França, Finlândia, Nova Zelândia, Itália, Dinamarca, El Salvador, os estados americanos de Washington, Óregon, e as províncias canadenses de Quebec, British Columbia e Ontário.
O governo brasileiro foi campeão, não apenas do “Fóssil do Dia”, mas também da contradição entre o que é dito e negociado internacionalmente e o que é feito dentro do país. No meio da COP23, enquanto a diplomacia brasileira propunha alternativas em busca de consenso entre os países, e até se colocou como o anfitrião para a COP25, em 2019, o governo Temer propunha a “MP do Trilhão”, medida provisória que pode dar, se aprovada pela Câmara, R$ 1 trilhão em subsídios para a indústria do petróleo. Em vez de anunciar pacotes de incentivo às energias renováveis e defender o Desmatamento Zero para conter as emissões de gases de efeito estufa no Brasil, o país toma esta atitude esquizofrênica que pode aniquilar a meta de 1,5 grau.
O avanço no combate às mudanças climáticas deve acontecer com a melhoria da vida de cada pessoa, na busca de um Brasil e um mundo mais justo. O Greenpeace sai da COP23 para a vida real apoiando uma agricultura sustentável e sem agrotóxicos, o desmatamento zero, o uso e implementação de transporte coletivo limpo e o investimento na energia solar. O que se espera dos governantes que estiveram nos corredores gelados de Bonn é que retornem para casa e arregacem as mangas a caminho de um futuro mais justo para todos.
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