Queimada em floresta pública não destinada federal localizada no município de Canutama, Amazonas, registrada em 2 de agosto de 2023 (© Marizilda Cruppe / Greenpeace)

O número de focos de calor na Amazônia registra nova queda em setembro, de 36%, na comparação com o mesmo mês de 2022, segundo dados divulgados pelo Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), ontem (1/10). Mas o resultado não chega a ser uma boa notícia, já que a base de comparação são os dados do ano passado, quando tivemos o pior setembro da última década, e o número de focos segue em um patamar inaceitável. 

Segundo os dados do Inpe, em setembro foram registrados 26.452 focos de calor no bioma, contra 41.282 do mesmo mês de 2022. O estado do Pará segue com a liderança, com 35,94% dos focos detectados no mês (9.507), com destaque para Altamira e São Félix do Xingu, que lideraram o ranking de queimadas. A APA Triunfo do Xingu, também no estado, concentrou 42% dos focos de calor detectados em Unidades de Conservação. 

Já o Amazonas segue ostentando a segunda posição entre os que mais queimaram, o estado foi responsável por 26,43% dos focos (6.991), ou seja, 1 em cada 4 focos de calor ocorreram no estado. O Amazonas também teve o maior número de municípios no TOP 10 de focos de calor, com quatro municípios neste vergonhoso ranking: Lábrea, Novo Aripuanã, Boca do Acre e Humaitá.

O estado é o mais afetado pela severa estiagem que já atinge diversos estados na região Norte. Até 29 de setembro, 23 municípios entraram em estado de emergência, e o Governador decretou situação de emergência no Estado, onde mais de 170 mil pessoas já enfrentam dificuldades, com acesso restrito a itens básicos, como alimentos e água potável. A população do estado vive debaixo de fumaça há quase dois meses, devido a intensidade das queimadas, aliada ao tempo excepcionalmente quente e seco deste ano, com pouca ação por parte do governo estadual para deter a grilagem, o desmatamento e o fogo criminoso. 

Pelo contrário, se de um lado o governador Wilson Lima (União) decreta emergência, devido às secas que afetam a população e a biodiversidade, de outro defende a mineração em território indígena, e se coloca ao lado de pecuaristas punidos pelo IBAMA no sul do estado, que vem se tornando o epicentro da destruição. A situação vivida hoje, foi agravada pelo intenso incentivo à destruição visto nos últimos anos. 

No acumulado de janeiro a setembro, o número de focos de calor chegou a 57.941, número 33% menor que o registrado no mesmo período de 2022, quando o número de focos já chegava a 87.304. Novamente, uma redução necessária, mas com números ainda aquém da necessidade que a emergência climática nos impõe. 

Ativistas do Greenpeace fazem uma manifestação em área recém queimada em Porto Velho, Rondônia. (© Marizilda Cruppe / Greenpeace)

Corrida contra o tempo

As secas extremas que já afetam milhares de pessoas na região Norte são efeito da crise climática e agravadas pelo El Niño, que ganhou força em um ambiente já mais quente. Junte-se a isso a fumaça das queimadas e você tem uma crise humanitária, ainda sem prazo para acabar, já que a previsão é que a estiagem pode durar até pelo menos novembro. 

Atualmente, 49% das emissões de gases do efeito estufa do Brasil vem do desmatamento e das queimadas. Então não adianta reclamar do calor e da seca, e continuar permitindo que o desmatamento e o fogo criminoso aconteçam. Pois, no final, os mais impactados pelos eventos extremos, como o que vemos agora no bioma, não são os gigantes do agronegócio, que contribuem para o problema, mas sim as populações ribeirinhas e indígenas, que têm pouco ou quase nenhum acesso a serviços e infra estrutura básicos. 

As mudanças climáticas intensificam os eventos extremos, como alerta o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) e cientistas ja vinham avisando dos possiveis impactos do El Niño deste ano desde julho.

O Greenpeace também vem emitindo alertas. Em julho, lançamos a Carta Pelo Futuro, onde recomendamos medidas importantes a serem tomadas pelos governadores do Consórcio Amazônia Legal, para endurecer o cerco contra o crime ambiental e evitar uma tragédia, como por exemplo, o cancelamento imediato do Cadastro Ambiental Rural (CAR) em áreas públicas e a validação de outros milhares. Esse registro autodeclarado vem sendo largamente usado no processo de grilagem de terras na Amazônia. Precisamos que os estados se comprometam com o Dezmatamento Zero até 2030 e começem a fazer por onde. O tempo das promessas já acabou. 

Lago do Padre, em Manacapuru, Amazonas. Em 2023, estados da Amazônia enfrentam uma forte estiagem, que secou leitos de rios e lagos em diversos municípios. (© Marizilda Cruppe / Greenpeace)

Greenpeace se une à sociedade para ajudar atingidos pela seca 

Neste momento de emergência, vamos trabalhar junto a parceiros para levar itens de primeira necessidade para as vítimas da seca extrema e prolongada no Norte do país. Para isso, o Greenpeace abriu uma campanha de arrecadação. 

Os recursos reunidos serão destinados à compra e entrega de suprimentos emergenciais, como alimentos e água para populações vulnerabilizadas pela seca – em especial, povos indígenas e comunidades ribeirinhas. Assim como fizemos durante a pandemia de COVID-19, nossos esforços e nosso avião estarão focados no apoio aos mais afetados por esse evento climático extremo.

 sobre o(a) autor(a)

Jornalista do Greenpeace Brasil em Manaus. Adora acampar e o cheiro da floresta depois da chuva. Ama sua filha, dormir, cozinhar e contar histórias, nessa ordem.