Número de focos mantém patamar alto, este é 3° pior mês de agosto dos últimos onze anos, todos registrados desde o início do governo Bolsonaro
Dados divulgados hoje pelo sistema de monitoramento do INPE mostram que, em agosto, foram registrados 28.060 focos de calor na Amazônia, mantendo o patamar alarmante de incidência de fogo. É o terceiro maior índice para o mês desde 2010, perdendo apenas para 2019 e 2020, ou seja, desde o início do governo Bolsonaro e sua política antiambiental.
A alta segue, mesmo com o Decreto nº 10.735 em vigor desde 29 de junho, que proíbe o uso do fogo, portanto todas as queimadas registradas em agosto são ilegais.
O estado do Amazonas bateu recorde histórico para o mês e, pela primeira vez no mês de agosto desde ao menos o ano 2000, concentrou o maior número de focos, foram 8.588, 30% do total, seguido do Pará (28%) e de Rondônia (15%). Os números refletem a preocupante escalada do desmatamento na região do sul do Amazonas, que já vinha sendo identificada pelos sistemas de monitoramento.
Em agosto, 4.378 focos de calor foram registrados em Unidades de Conservação no bioma Amazônia, sendo a Área de Proteção Triunfo do Xingu (APA) a mais atingida, com 1.424 focos. Foram registrados, ainda, 1.425 focos de calor em Terras Indígenas (TI) no mês, sendo a TI Apyterewa a mais afetada, com 152 focos detectados em agosto.
“Desde 2019, a quantidade de focos de calor registrada em agosto tem atingido patamares absurdos. É como se o governo tivesse criado um “padrão Bolsonaro” de destruição”, afirma Cristiane Mazzetti, da campanha de Amazônia do Greenpeace. “Tamanha destruição é resultado de uma visão retrógrada de desenvolvimento que não conversa ou beneficia a maioria dos brasileiros, além de seguir na direção contrária dos esforços para conter a emergência climática”, declara.
Crise ambiental é alimentada na esfera política
“Estamos vivendo uma crise na saúde e uma crise climática, ambas agravadas com os recordes de queimadas e desmatamento. Mas ao invés de combater o crime ambiental e garantir o bem-estar dos mais impactados pelos incêndios florestais, o governo federal opta pelo enfraquecimento deliberado das políticas de proteção ambiental, enquanto o Congresso Nacional discute projetos que ameaçam o meio ambiente”, alerta Mazzetti.
O último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) emitiu um alerta claro: estamos vivendo uma última janela de oportunidades para a tomada de ação em direção a favor do clima. Segundo o relatório, entre 2011 e 2020, a média da temperatura global já atingiu 1.09°C acima dos níveis pré-industriais, e é inequívoca a influência humana sobre o superaquecimento do planeta.
Enquanto isso no Brasil, em 2019 o desmatamento foi responsável por 44% das emissões de gases do efeito estufa e Congresso e Executivo vêm demonstrando que não há intenção de atuar com ambição na redução do desmatamento e das emissões, pelo contrário. Os poderes vêm atuando contra o meio ambiente.
No Congresso, deputados e senadores tentam passar às pressas projetos de Lei que vão estimular mais grilagem, desmatamento e queimadas – PL 2633, PL 490 e outros – expondo ainda mais a saúde do povo brasileiro e contribuindo para novas crises hídricas, como a que vivemos e já deixa a conta de luz dos brasileiros cada vez mais cara. No Executivo, segue o desmonte dos órgãos de proteção e controle ambiental.
O Brasil precisa mudar de direção imediatamente, no sentido de uma política que favoreça o conjunto da sociedade e o meio ambiente, e não apenas os interesses de alguns.
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sobre o(a) autor(a)
Rosana Villar
Jornalista do Greenpeace Brasil em Manaus. Adora acampar e o cheiro da floresta depois da chuva. Ama sua filha, dormir, cozinhar e contar histórias, nessa ordem.
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