Os atores Giovanna Lancellotti e Rafael Cardoso e o cantor Vitão estiveram na expedição promovida pela Aliança Amazônia em Chamas, em setembro, e relatam como foi ver de perto a destruição da Amazônia
Entre os dias 15 e 17 de setembro, Amazon Watch, Greenpeace Brasil e Observatório do Clima se uniram para realizar uma expedição pela Amazônia, com pesquisadores, jornalistas e três artistas brasileiros — Rafael Cardoso (ator), Giovanna Lancellotti (atriz) e Vitão (cantor e compositor). A rota partia de Porto Velho, capital de Rondônia, e seguia até Lábrea, no Amazonas, recordista em queimadas no mesmo período.
Sobrevoando a região, o grupo avistou extensas áreas desmatadas
em julho e já consumidas pelo fogo — polígonos de 1.550 a 2.450 hectares
ou, respectivamente, de 2.012 a 3.181 campos de futebol —, que estão
entre os cinco maiores desmatamentos do estado do Amazonas. Também foram
detectados: cicatrizes de garimpo em meio a áreas protegidas, pistas de
pouso clandestinas, grandes glebas em preparo para plantio e gado
pastando junto a queimadas recentes.
“No começo do sobrevôo, eu até pensei “não deve ser um fogo tão grande, mas quando você chega nos focos de queimadas, é muito feio, dói! Quando você vê de cima, nessa proporção, é mais doloroso ainda, porque em volta está tudo verde, tudo lindo. E isso desperta ainda mais uma consciência e uma vontade de fazer alguma coisa para que a destruição diminua”, contou a atriz Giovanna Lancellotti.
Na parte terrestre, a expedição passou por Candeias do Jamari, segundo município mais desmatado em Rondônia, entre agosto de 2020 e julho de 2021, ficando atrás apenas de Porto Velho. Lá, estavam serrarias e muitos caminhões carregados de toras de árvores gigantes, além de gado pastando junto a áreas recém queimadas.
Perguntado sobre o que mais o impactou na expedição, o ator Rafael Cardoso declarou:
“Vi uma barbárie, um movimento contrário a qualquer tipo de
consciência, à sanidade. É revoltante ver grandes áreas sendo griladas,
grandes áreas já griladas queimando e outras esperando para serem
queimadas, e no meio do nada, ou seja, precisa abrir estradas para
acessar esses locais. São grandes formas geométricas organizadas sendo
queimadas, então, é preciso investir dinheiro. Depois que acabar isso
aqui, vamos pra onde? Não teremos vida sem água, planeta e ar pra
respirar. A única maneira de educar e mostrar para as crianças, que são
quem ficará aqui e serão os responsáveis por seguir esse trabalho. É o
exemplo que temos de dar, e eu vi isso nos meus filhos. Essa educação
ambiental para as crianças é o que me motiva hoje”.
Sob o governo Bolsonaro, o Amazonas superou Rondônia como o terceiro estado com o maior desmatamento, segundo o sistema Prodes, do Inpe. De acordo com dados do Programa Queimadas, de janeiro a meados de setembro deste ano, foram cerca de 12 mil focos de calor no Amazonas. Só em agosto, registraram-se 8.588 focos no estado, superando o recorde do mesmo mês em 2020, que, por sua vez, tinha superado o de 2019. Lábrea é a área mais crítica do país, com 2.959 focos em 2021. Porto Velho é o segundo município em quantidade de queimadas — com 2.700 focos — e a capital onde a floresta Amazônica mais queima.
“O que eu vi de impressionante nesse sobrevôo foram todas as
áreas de queimadas e desmatamento, que é uma coisa completamente
entristecedora. Fiquei chocado ao ver essas áreas queimadas de cima,
porque existe um contraste muito gritante entre as áreas com vegetação e
as áreas desmatadas e queimadas. É um cenário que realmente parece um
cemitério. Mas, não podemos abaixar a cabeça, temos agora que lutar para
que isso não aconteça mais. Poder comunicar isso para as pessoas que
gostam da minha música, mas que também escutam o que eu falo, além da
música, é muito importante e especial pra mim”, relatou o cantor e compositor Vitão.
Sobre a Aliança Amazônia em Chamas: parceria entre as organizações Amazon Watch, Greenpeace Brasil e Observatório do Clima para promover sobrevoos de monitoramento e divulgação de informações relativas a áreas de floresta desmatadas e/ou ameaçadas pelo desmatamento, fogo e garimpo.
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