Jorge Eduardo Dantas
Plataforma apresenta experiências de resistência de povos indígenas e populações tradicionais de Brasil, Peru e Equador
A conexão dos povos indígenas com seu território é uma das características mais marcantes dos povos originários de todo o mundo. Ao contrário dos não-indígenas, que veem os recursos naturais como recurso a ser utilizado e explorado, etnias como os Guarani, Tikuna, Kaingang, Macuxi e Terena possuem uma relação muito mais harmoniosa, próxima, espiritualizada e simbiótica com a natureza e seus elementos, como os rios, florestas e animais.
Por isso, defender os territórios é algo tão importante para esses povos e um pilar fundamental em suas lutas. Lideranças contam que não é possível imaginar uma resistência indígena que não passe pelo direito a um território íntegro e saudável.
Essa relação, no entanto, está ameaçada – a quantidade de projetos agropecuários, minerários e energéticos dentro ou no entorno de Terras Indígenas, principalmente no Brasil, só cresce. Reportagem da Agência Pública mostrou que, desde o início do Governo Bolsonaro, por exemplo, os processos de exploração minerária dentro de Terras Indígenas cresceram 91%.
Lucro x prejuízo
Para ajudar na luta em defesa dos territórios, o projeto Todos os Olhos na Amazônia – uma iniciativa da qual o Greenpeace Brasil faz parte, que busca interromper o desmatamento fortalecendo a luta dos povos indígenas e comunidades tradicionais – lançou recentemente uma série de estudos de casos, que examinam com detalhes como alguns povos da América do Sul promovem a defesa de seus territórios.
Esses estudos são compostos de vídeos, documentos em PDF, infográficos e linhas do tempo que contam como as populações tradicionais – que incluem indígenas, quilombolas, ribeirinhos e beiradeiros – têm organizado a resistência e defesa de seus territórios. O uso de tecnologia, estratégias de comunicação e formação de lideranças tem ajudado a frear o desmatamento e interromper projetos de exploração que visam o lucro de uns e o prejuízo de muitos.
Caso Sinagoe, do Equador
Em outubro de 2018, o povo indígena A’i Cofán obteve, nas cortes de justiça equatoriana, uma decisão que proibiu a exploração mineral em seu território – protegendo mais de 32 mil hectares. Para isso, os A’i Cofán empregaram uma série de estratégias que envolveu monitoramento territorial comunitário, uso de tecnologias e ações de comunicação e advocacy.
Caso Karipuna, de Rondônia (BRA)
Entre 2020 e 2018, os Karipuna conseguiram reduzir em 62% o desmatamento dentro de seu território, graças a um trabalho de monitoramento territorial, denúncias legais e advocacy que contou com diversas parcerias estratégicas – entre elas, o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e o Greenpeace Brasil.
Caso Puinamudt, do Peru
O caso peruano conta a história da Puinamudt – uma organização indígena fundada em 2011 que representa 89 povos e cerca de 23 mil pessoas, habitantes de uma área de 690 mil hectares. A Puinamudt foi criada para dar repercussão nacional às lutas dos povos da Amazônia peruana, que há mais de 50 anos enfrentam a exploração petroleira naquela região.
Caso PAE Lago Grande, no Pará
Este estudo de caso mostra como a formação e mobilização de jovens lideranças pode ajudar na proteção de territórios tradicionais. Os “Novos Cabanos”, como são chamadas essas lideranças paraenses, protegem mais de 250 mil hectares, representando mais de 35 mil pessoas e 144 comunidades contra projetos minerários que cobiçam as riquezas que existem no subsolo daquela área. A luta no PAE Lago Grande também conta com o apoio do Greenpeace Brasil.
Vale uma conferida também nas outras seções da plataforma Todos os Olhos na Amazônia – um repositório de estratégias inovadoras e colaborativas de combate ao desmatamento e degradação da floresta amazônica e a violação dos direitos de seus habitantes. É possível encontrar vídeos, podcasts, artigos acadêmicos e vários outros materiais.
Luta pela Vida
Porta-voz da Campanha Amazônia do Greenpeace Brasil, Carolina Marçal afirmou que os casos reunidos na plataforma mostram que, embora a luta contra os grandes interesses econômicos seja difícil, ela não é uma batalha impossível.
“Esses casos explicitam a resistência incansável de povos que resistem há mais de 500 anos, em uma luta pela manutenção de suas culturas, povos e territórios, em uma luta pela vida. Eles mostram que existem estratégias disponíveis que podem ser aplicadas em outros lugares, e que o uso de tecnologias, aliado a conhecimentos tradicionais, podem auxiliar na proteção territorial e na conservação de milhares de hectares de florestas. Precisamos olhar esses casos, estudá-los com atenção e reproduzi-los em outros locais – vemos aqui histórias poderosas de resistência que devem ser divulgadas”, disse Carolina.
Além de acessar a nossa plataforma do Todos os Olhos na Amazônia, você também pode assinar a nossa petição Basta de Violência contra os Povos Indígenas,
e se juntar a mais de 100 mil brasileiras e brasileiros que estão se
mobilizando digitalmente para fortalecer a luta indígena no Brasil.
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