O crimeambiental ocorre longe dos olhos do grande
público. Mas com apoio de imagens de satélite e monitoramento de campo,
denunciamos a destruição que avança sobre a floresta
O desmatamento e as queimadas geram impactos extremos
em nossa vida, afetando o clima, a disponibilidade de água, a
biodiversidade e a segurança de quem vive nessas regiões. Mas às vezes
pode ser difícil ter noção do tamanho desse impacto, já que são crimes
que ocorrem longe das vistas da maioria das pessoas, que vivem nos
grandes centros urbanos.
Para trazer atenção para essas proporções, criamos o Top 5 da
Destruição, onde traremos à público periodicamente alguns dos maiores,
mais escandalosos e absurdos casos de destruição florestal do período. A
ideia é que as investigações possam ser usadas pela sociedade como
ferramenta de denúncia e mobilização, amplificando os dados e os fatos,
para que possamos exigir ação de políticos e empresas.
Nos próximos meses, nossa equipe de pesquisas irá monitorar de perto o
avanço da destruição, e traremos essas histórias até você.
E para você que leu até aqui, temos um extra! A medalha de Nióbio.
Nossa menção desonrosa desta semana vai para um estado que tinha tudo
para ser exemplo de conservação, mas que vem há alguns anos
escorregando na missão: o Amazonas, que no mês de junho ocupou o segundo
lugar em desmatamento na Amazônia, atrás apenas do Pará.
Assim, a medalha de Nióbio fica para o município de Lábrea (AM), onde
encontramos um desmatamento de 1.392 hectares dentro de uma floresta
pública não destinada. Para você ter uma ideia, essa área é quase 26
vezes o tamanho do Jardim Botânico do Rio de Janeiro!
Acompanhe o avanço: imagem de janeiro de 2021. (fonte: PLANET)
É
tempo de fazer nascer a sociedade que queremos, onde o crime ambiental
não será tolerado, onde nossos rios corram sem barreiras e nossa terra
seja respeitada, com comida boa para todos e um ambiente saudável. O
lugar que queremos para agora, não para o futuro, e que cabe a nós
conquistar.
Entre para a Brigada Digital e faça mais pela proteção da floresta. Quer saber mais? Acesse aqui
Entenda como as mudanças climáticas estão provocando eventos extremos como essa friaca no Centro-Sul do país
Uma massa de ar polar avança sobre o país fazendo a temperatura cair
abaixo de 5ºC esta semana em algumas capitais como Porto Alegre,
Florianópolis, Curitiba, São Paulo e Campo Grande. No Rio Grande do Sul,
nevou em pelo menos 13 cidades. E então você pode estar se perguntando,
se existe aquecimento global e o planeta já está mais quente, como pode fazer tanto frio?
O aumento da temperatura média do planeta, conhecido como aquecimento
global, é um fenômeno que está sendo acelerado pelas ações humanas e
que tem provocado alterações no clima mundial, ou seja, se tinha chuva
ou sol em uma época do ano e em um determinado lugar, tudo isso está
ficando mais intenso, desequilibrado. São os chamados eventos extremos.
Ainda que a chegada de massas de ar frio seja comum nesta época do
ano, elas estão ainda mais frequentes. Segundo o Instituto Nacional de
Meteorologia (Inmet), essa é a terceira massa polar que atinge o país
somente em 2021.
Como o superaquecimento do planeta influenciou o frio que chegou ao Brasil?
Como já explicamos neste outro artigo, existe uma diferença entre o clima do planeta, que é um estudo feito no longo prazo, e a previsão do tempo para amanhã ou para a próxima semana, que é uma situação pontual e restrita a um determinado local.
O processo de agravamento dos fenômenos naturais em decorrência da
crise do clima é alertado há décadas pela ciência e se manifesta de
diferentes formas.
Em entrevista à BBC News Brasil,
o geógrafo e climatologista Francisco Eliseu Aquino, professor da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), explicou as origens
do frio extremo que atinge o “país tropical” neste momento.
Segundo Aquino, o sul do Brasil recebe massas de ar frio vindas da
Antártida, assim como envia massas de ar quente. Mas, com a alta
variabilidade climática provocada pelo aquecimento global, o calor fora
do comum no Brasil interfere neste sistema de trocas enviando mais ar
quente para a Antártida e, como consequência, abrindo espaço para a
chegada de ar frio.
O especialista detalha ainda que esta onda de frio, em específico,
será ainda mais severa por ter passado pelo Mar de Weddell, uma das
regiões mais geladas da Antártica.
Enquanto a seca e o frio avançam sobre o Centro-Sul do Brasil, alguns
países do Hemisfério Norte registram recordes de calor e volume de
chuvas. Como declarou o climatologista José Marengo em entrevista recente ao Greenpeace Brasil: “A atmosfera não reconhece fronteiras”.
Isso significa que todos já sentimos e sentiremos ainda mais as
consequências das mudanças climáticas se nada for feito. O Canadá, por
exemplo, conhecido pelas paisagens com montanhas cobertas de gelo,
chegou a registrar 50° em julho. A maior onda de calor dos últimos tempos causou a morte de centenas de pessoas e incêndios florestais em diversas cidades do país.
Poucas semanas depois, chuvas muito acima dos padrões inundaram
cidades na Alemanha e na China. Os eventos extremos nos três países
provocaram centenas de mortes.
“Este é um ano que está sendo marcado por eventos extremos, uma das
graves consequências das mudanças climáticas. Salta aos olhos, mas
também às casas e aos corpos,
o potencial devastador dos impactos e da emergência que vivemos.
Precisamos de medidas concretas para combater essa crise. No Brasil,
isso significa o fim do desmatamento, o maior fator de emissões de gases
de efeito estufa no país, e uma transição energética para fontes limpas
e renováveis”, diz Marcelo Laterman, da campanha de Clima e Justiça do
Greenpeace Brasil.
Veja alguns extremos do clima que já aconteceram no Brasil este ano:
Em julho, a falta de chuvas impactou o nível dos reservatórios de grande parte das hidrelétricas do país, provocando crise hídrica e aumento da conta de luz.
Já
existem soluções para a crise climática e que podem ajudar muito na
resolução da crise econômica e social brasileira. Precisamos apenas
ligar os pontos, contar com quem já está atuando junto e promover ações
que contribuam para a construção de um mundo mais justo, inclusivo e
considerando os limites da natureza. Assine a nossa petição para
se juntar ao movimento de pessoas que reconhecem a urgência da crise
climática, dar voz às pessoas mais afetadas por este problema e
manter-se informado para nos mobilizarmos pela causa e pressionarmos as
autoridades.
Lei Complementar 1.089/21 deixou diversas Terras Indígenas desprotegidas e vulneráveis
Lideranças indígenas de Rondônia, do noroeste do Mato Grosso e do Sul do Amazonas divulgaram recentemente uma carta
denunciando que, desde que a Lei Complementar 1.089/21 foi sancionada
pelo Governo de Rondônia, em maio, as ameaças e invasões aos territórios
indígenas se intensificaram.
A carta foi produzida entre os dias 12 e 14 de julho, num encontro
que reuniu diversas lideranças em Porto Velho (RO) e que foi realizado
cumprindo todos os protocolos sanitários de defesa contra a COVID-19. O
documento é fruto de um debate entre os representantes sobre a
conjuntura política envolvendo os seus territórios. Leia o conteúdo do documento.
Participaram desta discussão lideranças Karitiana, Karipuna, Kanoé,
Kassupá, Uru Eu Wau Wau, Oro Waram, Oro Waram Xijein, Salamãe e Oro Mon.
A produção da carta foi intermediada pela Organização dos Povos
Indígenas de Rondônia, Noroeste do Mato Grosso e Sul do Amazonas
(Opiroma).
A Lei Complementar 1.089 foi sancionada
pelo governador de Rondônia, Coronel Marcos Rocha (PSL), em 20 de maio.
Ela extinguiu 202 mil hectares de áreas protegidas no estado, retirando
a proteção de porções significativas da Reserva Extrativista
Jaci-Paraná e do Parque Estadual de Guajará-Mirim. Essa lei está sendo
questionada na Justiça (leia mais abaixo). A Resex Jaci-Paraná perdeu
171 mil hectares – quase 90% de seu território – e o Parque Estadual de
Guajará-Mirim perdeu 55 mil hectares.
Demandas
Na carta, as lideranças afirmam que a sanção da Lei Complementar
1.089/21 possibilitou que as Terras Indígenas Karipuna, Uru Eu Wau Wau,
Karitiana, Lage e Ribeirão passassem a sofrer mais invasões – uma vez
que as áreas protegidas que serviam como proteção ou zona de
amortecimento não existem mais.
Além disso, disseram as lideranças, os invasores sentem que suas
invasões serão legalizadas, o que fez com que eles tivessem mais
confiança e passassem a adentrar mais e mais os territórios. A carta
cita também a situação dos povos isolados da região – essa mudança nas
áreas protegidas reduziu sua área de circulação, deixando menos recursos
para a sobrevivência física e cultural desses povos.
Para repercutir o conteúdo da carta – que alerta para a maior pressão
de invasões dentro dos territórios indígenas e fala dos custos
ambientais que a LC 1.089 traz – as lideranças entregaram cópias do
documento para órgãos como o Ministério Público Federal (MPF) e para representantes da Embaixada da Alemanha que recentemente visitaram os povos indígenas de Rondônia.
Impactos
Um dos territórios mais impactados pela LC 1.089 é a Terra Indígena
Karipuna, lar do povo de mesmo nome que, por reunir uma população de
apenas 60 pessoas, têm sua existência ameaçada pelo crescente processo
de invasão de seu território.
No início de maio, representantes do povo Karipuna entraram com uma ação na Justiça Federal de Rondônia demandando
diversas medidas dos governos Estadual e Federal, incluindo a retirada
de invasores, fiscalização e vigilância da Terra Indígena e destruição
de obras dos criminosos no interior do território. Entre 2017 e 2020,
foram devastados 3.646 hectares da TI Karipuna. Hoje, ela é a 9ª Terra
Indígena mais desmatada da Amazônia.
Coordenador da Opiroma, José Luiz Cassupá falou sobre os perigos que a
Lei Complementar traz: “A LC 1.089 tem diversas consequências ruins
para as Terras Indígenas. Ela vai contribuir com o desaparecimento de
alguns rios e igarapés, vai abrir espaços para novas invasões, vai
aumentar o desmatamento, vai aumentar o registro do Cadastro Ambiental
Rural (CAR) dentro dos territórios e aumentar o número de queimadas. Por
tudo isso, nós não apoiamos essa lei, nós não estamos de acordo com o
que ela propõe”.
José Luiz disse ainda que está muito claro, às lideranças indígenas
rondonienses, que a Lei Complementar faz parte de uma ofensiva maior
contra os direitos indígenas que inclui o PL da Grilagem, o PL da Mineração e o julgamento do Marco Temporal.
“São vários projetos de lei que, analisados em conjunto, existem para
impedir a demarcação de novas Terras Indígenas e dificultar a proteção
daquelas que já existem. Hoje temos uma Funai fragilizada, um Ibama sem
agentes de fiscalização. Não temos hoje um órgão que fiscalize de
maneira eficiente os crimes contra as Terras Indígenas”, declarou.
Porta-voz da Campanha Amazônia do Greenpeace Brasil, Rômulo Batista
contou que a intensificação das invasões e o aumento das ameaças eram
consequências esperadas da aprovação da Lei Complementar 1.089.
“Essa lei, de maneira totalmente inconstitucional, piorou muito a
situação para diversas populações indígenas que dependem de seus
territórios para manter vivas suas famílias e culturas – e já eram
vítimas de ameaças e invasões. Esse aumento da violência já estava dado.
Estamos assistindo ao Governo de Rondônia premiar grupos criminosos
que invadiram, destruíram essas áreas dentro das Unidades de Conservação
e infelizmente nada indica que algo será feito para impedir o avanço
sobre as terras indígenas que ficaram ainda mais vulneráveis. Isso é só
mais um aspecto do genocídio indígena que estamos vendo acontecer hoje
no Brasil”, disse Rômulo.
Questionamento
A situação da Lei Complementar 1.089/21 não está resolvida: ela está
sendo questionada pelo Ministério Público Estadual (MPE) de Rondônia e
pelo MPF.
Antes mesmo de sua sanção, a Procuradoria Geral do Estado (PGE) de
Rondônia havia se manifestado contrariamente a essa lei, afirmando que
ela não foi precedida de nenhum estudo técnico (conforme preconiza o
artigo 22 da Constituição Federal) e que ela fragilizava um importante
corredor ecológico que liga diversas Unidades de Conservação e Terras
Indígenas.
Pouco dias após o governador Marcos Rocha sancionar a Lei
Complementar 1.089, o Ministério Público Estadual entrou na Justiça com
uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) contra ela. No início de
julho, foi a vez do MPF encaminhar o caso à Procuradoria-Geral da
República (PGR), também alegando inconstitucionalidade. Os procuradores
federais lembraram que não houve consulta livre, prévia e informada aos
povos indígenas afetados pela medida, conforme previsto na Convenção 169
da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Não podemos normalizar a violência contra os povos originários
e nem permitir uma política genocida que nos remete ao nosso passado
colonial. Exija a proteção imediata da vida dos povos indígenas e de
seus territórios assinando a nossa petição Basta de Violência contra os Povos Indígenas!
A mobilização da sociedade em defesa das florestas e contra a
destruição ambiental foi fundamental para frear as boiadas no primeiro
semestre. No segundo semestre, a boiada não passará!
O primeiro semestre de 2021 termina com a certeza de que a
mobilização da sociedade é fundamental para frearmos a destruição
ambiental, em defesa da Amazônia e outros ambientes naturais e dos
direitos das populações do campo, da floresta e da cidade. Apesar de ter
sido colocado em pauta mais de uma vez este ano, o PL da Grilagem não foi votado e um dos motivos para isso foi que pessoas como você,
junto com organizações ambientalistas e indígenas, movimentos do campo,
artistas e parlamentares, fizeram pressão para que o roubo de terras
públicas não fosse legalizado no país.
Devido à pandemia da Covid-19, o Congresso Nacional segue restrito
para a participação da sociedade. Mais do que nunca, os presidentes da
Câmara e do Senado, Arthur Lira (PP/AL) e Rodrigo Pacheco (DEM/MG),
respectivamente, precisam deixar de lado propostas que ameaçam o
bem-estar coletivo e a economia brasileira e focar em soluções para
conter a crise política, econômica e sanitária no país.
No momento, as atividades na Câmara e no Senado estão paradas devido ao recesso parlamentar e, por duas semanas, nada de boiada!
Mas é preciso preparar os corações, porque, em agosto, o trator
ruralista que atropela estará de volta querendo passar. Juntas e juntos,
continuaremos resistindo para não deixar isso acontecer.
No Congresso Nacional, passou boi, mas não passou a boiada! Confira
abaixo um resumo do que combatemos na Câmara dos Deputados e no Senado
Federal no primeiro semestre de 2021:
1. PL 2.633/2020 e PL 510/2021 – Os PLs da Grilagem
É sempre bom lembrar: grilagem é sinônimo de roubo de terras
públicas, ou seja, é crime. Mas, se nossos deputados e senadores
aprovarem os projetos de lei 2.633/2020 (Câmara) e 510/2021 (Senado),
deixará de ser. Uma reportagem recente
mostra que, no primeiro semestre de 2021, um terço do desmatamento na
Amazônia ocorreu em áreas florestais que não tiveram seu uso decretado
como unidade de conservação. Ou seja, terras públicas que foram ocupadas
ilegalmente, estimulando desmatamento e conflitos no campo.
No fim de abril, Rodrigo Pacheco tentou colocar em votação no Senado,
sem debate, o PL 510 do senador Irajá Abreu, conhecido e influente
ruralista. Mas, após forte pressão da sociedade civil, o projeto de lei foi retirado de pauta.
Já na Câmara, em julho, Arthur Lira também tentou votar o PL da
Grilagem (2.633/2020), após aprovação da urgência da matéria. Isso
significa que ele pode ser colocado para votação em plenário a qualquer
momento na Câmara, após o recesso.
Ação para o
segundo semestre: pressionar Arthur Lira e Rodrigo Pacheco para que os
PLs da Grilagem não entrem em pauta na Câmara e no Senado.
2. PL 4.348/2019 – Grilagem em assentamentos rurais
Em abril, na surdina, senadores tiraram da gaveta e aprovaram sem nenhum debate
o PL 4.348/2019, projeto de lei que ameaça direitos de agricultores e
agricultoras familiares e pode facilitar a ocupação ilegal de terras
públicas. O texto aprovado altera a legislação atual que regulamenta a
regularização fundiária em assentamentos rurais dentro e fora da
Amazônia Legal. No entanto, já existe lei para titular terras de
trabalhadores rurais – ela precisa ser aplicada.
O PL 4.348 está atualmente em tramitação na Câmara dos Deputados. Ele
chegou a ser colocado em pauta em julho, mas não andou. Se aprovado
pelos deputados, seguirá para sanção presidencial.
Ação para o segundo semestre: pressionar Arthur Lira para que o PL 4.348 não entre em pauta na Câmara.
3. PL 3.729/2004 – A lei do não-licenciamento
O licenciamento ambiental é um dos principais instrumentos de
controle que a sociedade dispõe para a proteção do meio ambiente e das
pessoas e, por isso, a proposta de uma nova lei precisa ser discutida
amplamente, através de audiências públicas, debates e participação
social. Mas, fechando totalmente os ouvidos para os argumentos de
ambientalistas, técnicos de meio ambiente, cientistas e outros setores, o
deputado Neri Geller (PP/MT) propôs a pior versão do PL 3.729, a Lei
Geral do Licenciamento Ambiental, desde que ele foi criado, em 2004.
Assim, a Câmara aprovou, em maio, o que pode ser chamado de PL do não-licenciamento e a “mãe de todas as boiadas”.
Atualmente, o PL 3.729/2004 tramita no Senado e tem como relatora a
senadora Kátia Abreu (PP/TO). Se os senadores alterarem o texto
aprovado, o PL retorna à Câmara, para rediscussão específica dos itens
modificados. Caso o Senado o aprove na íntegra, o PL segue para sanção
presidencial.
Ação para o
segundo semestre: pressionar Rodrigo Pacheco para que o PL do
Licenciamento não entre em pauta no Senado sem passar por amplas
discussões com a sociedade civil.
4. PL 490/2007 – Ameaça a territórios e povos indígenas
O PL 490/2007 foi mais um dos projetos desengavetados repentinamente
por parlamentares que querem tirar direitos dos povos indígenas
garantidos pela Constituição Federal. No fim de junho, alheia aos
protestos pacíficos de mais de 800 indígenas nas proximidades do
Congresso Nacional, em Brasília, a deputada Bia Kicis colocou a proposta em pauta na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e ela foi aprovada por deputados governistas e ruralistas.
O PL agora aguarda para ser votado no plenário da Câmara. Se
aprovado, ele abrirá caminho para uma nova onda de genocídio dos povos
nativos no Brasil, pois inviabilizará demarcações de terras indígenas,
além de escancará-las a empreendimentos predatórios, como garimpo,
estradas e hidrelétricas.
Ação para o segundo semestre: pressionar Arthur Lira para que o PL 490 não entre em pauta no plenário da Câmara.
5. PDL 28/2019 – Fragmentação de terras indígenas
Outra proposta que ataca direitos dos povos indígenas é o Projeto de
Decreto Legislativo (PDL) 28/2019, que exclui da Terra Indígena São
Marcos a área urbana da sede do Município de Pacaraima, em Roraima. Isso
significa uma brecha para que territórios indígenas sejam fragmentados
em todo o país. Lideranças indígenas e o Ministério Público Federal em
Roraima são contra o PDL 28.
Depois de passar pelo Senado em 2019, atualmente o PDL tramita na
Câmara dos Deputados e pode ser votado assim que o recesso parlamentar
terminar, em agosto.
Ação para o segundo semestre: pressionar Arthur Lira para que o PL 490 não entre em pauta no plenário da Câmara.
6. PL 984/2019 – Reabertura de estrada que corta ao meio o Parque Nacional do Iguaçu
O projeto de lei 984/2019 pretende reabrir a Estrada do Colono dentro
do Parque Nacional do Iguaçu, que é Patrimônio Natural da Humanidade e
uma área de Mata Atlântica rica em biodiversidade. Localizado no Paraná,
o parque seria cortado ao meio, ameaçando a vida de espécies animais e
vegetais que habitam nele.
O PL ganhou status de regime de urgência em junho e pode ir à votação
na Câmara dos Deputados a qualquer momento após o recesso. Mais de 300
instituições e lideranças já se posicionaram contra mais essa tentativa de destruição do meio ambiente.
Ação para o segundo semestre: pressionar Arthur Lira para que o PL 984 não entre em pauta no plenário da Câmara.
Veneno no prato dos outros é refresco
Além desses projetos de lei, outra boiada a que precisaremos resistir
no segundo semestre é a tentativa dos ruralistas e do governo Bolsonaro
de aprovarem o Pacote do Veneno, que vai aumentar ainda mais a quantidade de agrotóxicos no campo e no prato. Não queremos comer comida com veneno!
Anote os contatos dos presidentes da Câmara e do Senado
Jornalista do Greenpeace Brasil em Brasília, integra os times de
Políticas Públicas e Agricultura & Alimentação. Começou a abraçar
árvores ainda criança e não parou mais.
Illegal deforestation in the Gran Chaco forest region continues. A
Greenpeace Argentina team conducted an overflight last week and
discovered unlawful deforestation in the Chaco province of Argentina.
The deforestation of 10,329 hectares was detected by comparing
satellite images from November 2020 to July 2021. Greenpeace aerial
images from July also show bulldozers in operation, with forest
destruction recorded in at least 10 places in the province.
All of this illegal forest clearing is occurring despite the November 2020 ruling of the provincial government
suspending such activity for the Chaco province, part of the Gran Chaco
forest region in South America. The suspension of clearing was supposed
to be a temporary solution but has not stopped deforestation. What is
really needed is an update to Argentina’s Territorial Ordinance of
Native Forests — and enforcement of the law.
Why this matters
The Gran Chaco is the second largest forest ecosystem
in South America, after the Amazon. Divided amongst Argentina,
Paraguay, Bolivia, and a small part of Brazil, the Gran Chaco is home
to 3,400 plant species, 500 bird species, 150 mammals, 120 reptiles, and
100 amphibians. There are also more than 4 million people living in the
region, around 8% of whom are Indigenous People depending on the forest
to obtain food, water, lumber, and medicine.
Similar to that of the Amazon, clearings and logging with the Gran
Chaco forest are driven by industries seeking to secure land for
agricultural and livestock production, mostly for export to China and
Europe. However, deforestation worsens climate change and generates
extreme events, such as droughts and severe storms.
In the Argentine Chaco, there are around 200,000 native dwellers from
nine Indigenous Peoples groups (most of them Wichi and Qom). Yet,
according to Greenpeace Argentina monitoring, deforestation in the
Salta, Chaco, Formosa, and Santiago del Estero provinces (Gran Chaco
region of Argentina) was 44,815 hectares between January – June 2021 and
more than 6 million hectares in the past 30 years.
And when we talk about deforestation, we are not only talking about
loss of biodiversity, but also about the destruction of the home and
livelihood of Indigenous People. Indigenous communities have also
denounced the clearing and the advances on their territories.
According to data from the Argentina Ministry of the Environment,
Chaco was the province with the greatest loss of native forests between
2016 and 2019, with 130,487 hectares deforested. For its part,
Greenpeace satellite monitoring detected that, despite the restrictions
imposed by the COVID-19 pandemic, 13,128 hectares of forests were lost in the province during 2020.
How we must act
The floods and droughts that hit the Chaco every year increase as
deforestation progresses, leaving no doubt that the current health,
climate and biodiversity crisis in which we find ourselves will only
increase with increased deforestation and should force us to act
accordingly.
Any suspensions of clearing cannot be carried out with success while
deforestation is still being promoted by those putting profits over
people. Upholding of the current suspension requires a collaborative
process with Indigenous expertise and the objectives of ending forest
clearing, sustainable management, and restoration of native forests.
Além de produzir comida de verdade, a agroecologia promove práticas
de cuidado e saúde que vêm do saber popular e tradicional. Dividimos com
vocês algumas receitas enviadas por mulheres, mães e agricultoras
familiares desse imenso Brasil.
1 – Como fazer o xarope de cebola?
É bom pra quê?
Trata problemas respiratórios em geral, mas é especialmente indicado
para aliviar sintomas de sinusite e como descongestionante pulmonar.
Também é antifúngico e bactericida
Ingredientes
1 cebola grande
1 xíc. de açúcar mascavo (ou rapadura ralada)
3g de cravo-da-índia
Materiais e utensílios
Colher
Peneira fina ou coador de inox
Panela esmaltada, de inox ou vidro
Faca e tábua para corte
Vidro âmbar de 100ml
Modo de preparo
1- Corte as cebolas em rodelas finas
2- Misture o cravo-da-índia e o açúcar mascavo
3- Na panela, ponha uma camada dessa mistura e depois de cebola. Repita até que a última camada seja novamente da mistura.
4- Leve ao fogo brando a panela tampada. Ao levantar fervura, mantenha no fogo por mais cinco minutos e desligue
5- Após esfriar, coe e embale num vidro de âmbar. Conserve na geladeira por até 1 mês.
2- Misturar cravo e açúcar
Modo de usar
Adulto: 1 colher de sopa, 4 vezes ao dia
Crianças (acima de 1 ano): 1 colher de chá, 4 vezes ao dia
Unprecedented danger will be the new normal if we don’t take urgent action to stop fossil fuel-driven climate change.
From Canada and the United States to Russia and even the Arctic,
record-breaking heatwaves are putting lives, livelihoods, and
communities at risk. The soaring temperatures not only pose individual
health dangers, but they also put entire ecosystems and communities at
increased risk of wildfires and failures of power grids.
Hundreds of deaths in British Columbia in Canada and Washington and
Oregon in the United States have already been linked to the heatwave
that began late in June, according to The New York Times.
Those vulnerable communities facing the most intense impacts of the
climate crisis urgently need empathy and aid. At the same time, the
entire global community needs to demand that fossil fuel companies and
corporate polluters stop accelerating climate change with reckless,
profit-hungry drilling and burning of coal, oil, and gas.
After multi-day
stretch of incredible heat across British Columbia interior–including
121F degrees today in Lytton, the highest temp ever recorded in Canada
or on Earth north of 50°N–multiple large pyrocumulus plumes suggestive
of intense wildfires have quickly developed. #BCwxpic.twitter.com/Jv5eOFKleT
Parts of the United States are under the same heat dome as Canada. The temperature at Portland International Airport in Oregon reached 46.1°C / 115°F on 28 June. For context, the average high temperature at that airport during this time of year is approximately 22.8°C / 73 °F, according to forecasters.
⚠️It’s only
June, and Californians are already getting an alarming preview of what
many scientists are warning could be another devastating,
record-breaking wildfire season. #CaliforniaWildfires 🧵 (1/7) https://t.co/MG14emNQ4j
Fossil fuel companies have put profits over people and the planet and
will continue to do so while masquerading as friends of the environment
— unless we stop them. Meanwhile, those least responsible for the
climate crisis — especially communities of color and Indigenous Peoples around the world — have disproportionately experienced the most severe climate impacts and health harms.
If governments don’t take urgent action for a just transition to
renewable energy then the climate emergency is only going to get worse,
with parts of the world becoming uninhabitable.
What can you do?
We need to treat this as the emergency that it is and push for urgent action.
We can take lessons from the global action and local empathy in
response to the COVID-19 pandemic. We need empathy for communities in
danger paired with pressure around the world on governments to leave
fossil fuels to build back green.
There is still time to limit the disruption and stay on course to
meet the 1.5°C goal outlined in the Paris Agreement to avoid the
worst-case climate scenarios.
Wherever you are, you can look for ways to support impacted
communities and call on your government to accelerate a just transition
away from fossil fuels.
Em sua primeira semana de trabalho como novo ministro do meio
ambiente, Leite já teve que encarar 326 km² de área desmatada. No
acumulado de 2021, a área com alertas já é 17,1% superior a do mesmo
período de 2020
Dados do sistema DETER, do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe),
divulgados hoje, indicam que o desmatamento segue com tendência de alta
na Amazônia, números que não param de crescer desde 2019. Os dados do
mês de junho mostram uma área destruída de 1.062 Km2, aumento
de 1,8% na área com alertas de desmatamento em relação aos registrados
em junho de 2020. Somente na última semana do mês passado foram 326 Km2. No acumulado do ano, essa área já chega a 3.610 Km2, número 17,1% maior que o mesmo período de 2020.
Os números chegam em um momento crítico para o meio ambiente
brasileiro, com uma temporada intensa de seca, um novo ministro do Meio
Ambiente, Joaquim Alvaro Leite, que ao que tudo indica, seguirá à risca a
agenda de destruição de Salles, e a insistência do governo federal em
manter uma operação cara e comprovadamente ineficaz para lidar com o
problema, enviando tropas militares, através da GLO, para combater o
desmatamento.
“É mais um triste recorde para a floresta e seus povos. Esse número
só confirma que o Governo Federal não tem capacidade, nem interesse de
combater toda essa destruição ambiental”, declara Rômulo Batista,
porta-voz da campanha Amazônia do Greenpeace.
Esse tipo de operação vem, há dois anos, mobilizando recursos
públicos, muitas vezes superiores ao orçamento anual do IBAMA para
fiscalização, e um grande número de militares sem efetividade na
prevenção do desmatamento e queimadas. Além de não evitar o
desmatamento, o próprio governo divulgou os 26 municípios onde atuarão
as Forças Armadas, o que compromete o “elemento surpresa” necessário
para encontrar e punir criminosos.
Ainda de acordo com o DETER, no período de janeiro a junho, na
comparação com o mesmo período do ano passado, a área com alertas de
desmatamento por corte raso, quando toda a cobertura florestal é
retirada, teve aumento de 19%. Houve aumento também em outras classes de
desmatamento, com destaque desastroso para o aumento de 335% nas áreas
com cicatriz de queimadas e de 135% nos alertas de degradação, que é
quando há uma retirada parcial da floresta, que deixa as áreas mais
vulneráveis aos incêndios. No mesmo período, os alertas de desmatamento
em Terras Indígenas atingiram 7.369km² , um aumento de 7% na comparação
com o ano passado.
A nomeação de seu sucessor, Joaquim Álvaro Pereira Leite, entretanto,
não nos permite muito otimismo de que essas políticas desastrosas
venham a ser revertidas. Leite foi conselheiro de uma entidade ruralista
(SRB – Sociedade Rural Brasileira) por 23 anos e sua família, composta
por fazendeiros de café, tenta abocanhar um pedaço da Terra Indígena Jaraguá, em São Paulo.
O principal motivo da descrença, no entanto, é claro: Joaquim Álvaro
Pereira Leite se torna ministro de um presidente da República que já
provou, em diversas ocasiões, não estar preocupado com a conservação da
floresta e seus povos — e também não gosta de ser contrariado por seus
ministros.
Para Rômulo Batista, com a recorrência de indicadores ambientais
desastrosos – só nos dois primeiros dias de julho, o Deter já registrou
216 Km² de alertas – “empresas, governos e a opinião pública devem
pressionar para que a destruição ambiental cesse e não devem se enganar
com um novo rosto na cadeira do ministro, tendo em vista que a política
antiambiental estabelecida no Brasil nos últimos 30 meses tem na figura
do presidente o seu líder maior e o apoio cego do presidente da Câmara
Arthur Lira.”
Sabemos que, se depender do Congresso e do governo Federal, temos
motivos para nos preocupar. Projetos de Lei, como o 2633/2020, que
anistia grileiros, e o 490/2017, que abre terras indígenas para
atividades predatórias, acrescentam mais uma camada de pressão sobre
nossas florestas, que já são muitas.
“Ao invés dos parlamentares estarem focados em conter os impactos da
pandemia e combater o crime que avança na floresta, e que não só queima
nossas riquezas naturais, mas também a imagem e a economia do país, eles
tentam aprovar projetos que irão acelerar ainda mais o desmatamento, os
conflitos no campo e a invasão de terras públicas. Nosso país não
precisa da aprovação destes projetos. O que precisamos é de vontade
política para avançar no combate ao desmatamento, queimadas e grilagem
de terras”, finaliza Rômulo.
Dois meses na Amazônia e muito conhecimento depois, Leo Lanna,
bolsista do Programa Tatiana de Carvalho, e Lvcas Fiat iniciam agora uma
nova etapa do processo científico
Equipe da expedição Austral: Mantis da Amazônia
Em
1838, com a minha idade, Hermann Burmeister publicava na Alemanha mais
um de seus trabalhos descrevendo a biodiversidade de nosso planeta. O
naturalista foi responsável por descrever e nomear incontáveis espécies
de insetos e outros animais a partir de exemplares depositados em museus
e coleções particulares. Também realizou expedições, incluindo ao
Brasil, em uma época que se valorizava muito esse tipo de viagem. Hoje,
mais de 180 anos depois, abro um arquivo digitalizado de seu trabalho,
que lembra um pergaminho antigo escrito com letras medievais em alemão.
Busco sua descrição para uma espécie de louva-a-deus encontrada em nossa
expedição Austral: Mantis da Amazônia. É um clássico louva-a-deus verde
do gênero Stagmatoptera, característico pela mancha nas asas
dos adultos. Burmeister foi o primeiro a reconhecer a espécie como
única, a partir de ilustrações de um outro cientista chamado Stoll. Isso
descobri lendo um trabalho mais recente, de 2016, do especialista e
amigo Henrique Rodrigues, onde ele revisou todas as espécies desse
gênero de louva-a-deus, trazendo agora descrições detalhadíssimas,
fotografias de alta resolução e o histórico de cada uma. A espécie que
encontramos é conhecida, tem nome científico Stagmatoptera supplicaria
e pode ser encontrada em toda a bacia amazônica. O conhecimento sobre
ela, como se pode notar, foi construído através de gerações de
cientistas. Em breve os resultados de nossa expedição adicionarão mais
camadas a esse conhecimento.
Após dois meses na Amazônia, uma longa jornada nos trouxe de volta à
Mata Atlântica, no interior do Rio de Janeiro. Conosco vieram mais de
150 louva-a-deus e, entre eles, sete filhotes da espécie que citei
acima. Pela primeira vez o ciclo de vida da espécie será conhecido e
poderemos dizer quanto tempo vivem. Além disso, a ooteca (casinha de
ovos) de onde nasceram os louva-a-deus estava sendo protegida pela mãe
quando a encontramos, comportamento inédito para essa espécie,
relembrando que pouco conhecemos desses animais em seu ambiente natural.
Em dois meses de expedição, encontramos apenas essa única fêmea
protetora na floresta, fora os machos que vieram voando em nossa
armadilha de luz e os mais de cem filhotes que nasceram da ooteca, quase
todos devolvidos à mata. Isso sugere que a espécie vive nas partes mais
altas das árvores, longe de nossos olhos.
Esse é apenas um exemplo do sucesso da expedição, e quão rica e imersiva ela foi. Para cada espécie de louva-a-deus
encontrada reunimos uma enorme quantidade de informações. Até o
momento, já são mais de 30 espécies diferentes, incluindo ao menos três
espécies novas para a ciência. Muitos desses mantis só eram conhecidos
para o Norte da Amazônia, e foi importante mostrar que a região Sul, tão afetada pelo desmatamento,
também abriga uma riqueza enorme de espécies. Desvendamos diversos
mistérios e, como sempre, surgiram ainda mais perguntas. Por que algumas
espécies foram raríssimas e outras super comuns? Como as espécies se
adaptarão às mudanças climáticas, com secas mais severas na região? De
que forma os louva-a-deus típicos de Cerrado que encontramos na Amazônia
colonizaram a região?
Seguimos criando todos até a morte natural, aprendendo cada vez mais.
Conforme crescem e se desenvolvem, lembramos do momento em que os
achamos, das noites de calor iluminadas pela Lua, dos sons misteriosos
que nos rodeavam, dos detalhes das plantas e animais que habitam aquele
universo. Lá na RPPN Cristalino era um desafio buscar o equilíbrio entre
o trabalho de pesquisa científica, metódico e organizado, e a vibração
constante e efêmera que havia em nosso entorno. Acredito que
conseguimos. Foi a expedição mais bem-sucedida do Projeto Mantis, e um
orgulho de poder trabalhar nossa ciência contemporânea em seu auge,
construindo e transmitindo conhecimentos e sentimentos na busca pelo
bem-estar de nossa natureza.
Melhor ainda foi poder compartilhar a expedição com muitas pessoas,
seja aqui pelo blog do Greenpeace, nas redes sociais do Projeto Mantis
ou em lives e publicações que fizemos diretamente da Amazônia.
Localmente, demos uma das palestras mais emocionantes de nossa vida aos
funcionários da reserva, verdadeiros guardiões daquela floresta. Toda a
expedição foi ricamente documentada por vídeos e fotografias. As
milhares de espécies registradas serão compartilhadas por meio do
iNaturalist, incrível ferramenta de ciência cidadã que todos podem
contribuir. E claro, vamos continuar compartilhando histórias e memórias
dessa Amazônia que vivemos, tanto em nossas redes quanto aqui. Nos
conforta saber que, diante do cenário calamitoso que o meio ambiente
brasileiro enfrenta, o local que visitamos continuará protegido. Saímos
com a certeza de que aquela floresta guarda os mais preciosos segredos, e
logo voltaremos. Saímos renovados e gratos pelos aprendizados que a
Amazônia viva nos proporciona. Vamos garantir que a expedição ecoe
através dos tempos, seja nas publicações científicas, seja nas histórias
ao longo de gerações, contribuindo com a construção do conhecimento. A
diversidade, humana e selvagem, é nosso maior tesouro e força. Juntos,
resistiremos.
Entre 2003 e 2019, foram registrados 57 assassinatos de
indígenas no estado; não foi encontrada nenhuma sentença condenatória
relativa a esses casos
Um estudo publicado esta semana pela Coordenação das Organizações
Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), feito em cooperação com
Instituto Humanista para Cooperação e Desenvolvimento (Hivos), mostrou
que os povos indígenas do Maranhão têm enormes dificuldades para ter seus direitos e garantias constitucionais reconhecidos pelo Poder Judiciário.
O relatório mostra que existem grandes obstáculos na efetivação dos
direitos territoriais indígenas; que os indígenas maranhenses não
conseguem acessar seus direitos durante os processos penais; e que existem falhas sistemáticas na prevenção e repressão de homicídios contra indígenas.
A pesquisa foi feita com apoio do Greenpeace Brasil, da Articulação dos
Povos Indígenas do Brasil (Apib) e da Coordenação das Organizações e
Articulações dos Povos Indígenas do Maranhão (Coapima).
Diante da omissão do Estado brasileiro em cumprir o seu dever
constitucional de demarcar e proteger os territórios indígenas, diversos
povos têm assumido esse papel. O Greenpeace Brasil, através do projeto Todos os Olhos na Amazônia, apoia este movimento de autodeterminação. Em
parceria com a Coiab e a Coapima, por exemplo, já realizamos uma série
de oficinas para fortalecer o monitoramento territorial que os Guardiões da Floresta de oito terras indígenas realizam naquela região.
Conflitos
O Estado do Maranhão possui uma dinâmica territorial marcada por
conflitos e ameaças a seus povos originários. De acordo com o estudo Towards zero deforestation and forest restoration in the Amazon region of Maranhão state, Brazil, cerca
de 75% da Amazônia maranhense já foi desmatada. O Maranhão possui hoje
22 Terras Indígenas demarcadas ou em processo de demarcação – boa parte
dela palco de conflitos e disputas.
Os responsáveis pelo estudo fizeram uma pesquisa de jurisprudência que analisou decisões do Supremo Tribunal Federal (STF),
do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e da segunda instância do
Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1). Além disso, os
pesquisadores também investigaram a atuação do Estado nos casos de
assassinatos de lideranças (relembre, ao fim do texto, alguns desses
casos). Foram analisados inquéritos policiais e processos judiciais.
Entre 2003 e 2019, foram registrados 57 assassinatos de
indígenas naquele estado – e pelo menos um terço desses registros
(32,3%) estava ligado a conflitos de terra. O povo Guajajara
tem sido o mais visado: a cada 10 homicídios indígenas registrados no
Maranhão, nada menos que sete são registrados entre representantes deste
povo. Os conflitos ocorridos na Terra Indígena Arariboia, que ameaçam a
saúde e integridade física dos Awá e dos Guajajara, são motivo de
preocupação internacional.
Crimes impunes
De acordo com o estudo, o poder judiciário tem contribuído para dificultar a demarcação de territórios indígenas
e ressalta que os municípios estão entre os atores que mais ativam o
poder judiciário para impedir a efetivação dos direitos territoriais
indígenas.
O documento aponta ainda que crimes ambientais ocorridos dentro de territórios indígenas seguem impunes e os direitos indígenas à autodeterminação e autorrepresentação são sistematicamente desrespeitados.
Outros problemas apontados no documento incluem a descaracterização
étnica e ocultação do contexto de disputa por trás dos assassinatos.
Falhas
“O relatório revela a impunidade e a situação da violência contra os indígenas no estado do Maranhão. Mostra o quanto os processos latifundiários das terras indígenas estão paralisados e o quanto nossas lideranças têm sido criminalizadas.
Ele revela também a forma como o Estado, responsável pela proteção das
terras indígenas, tem falhado em todas as esferas”, disse a titular da
Coapima, Edilena Krikati.
“O fato de o Estado brasileiro ser omisso em garantir a aplicação dos
direitos indígenas garantidos na Constituição não é novo, mas neste
atual cenário a situação se agravou”, disse a porta-voz da Campanha
Amazônia do Greenpeace Brasil, Carol Marçal.
“Este é o primeiro Governo que declara publicamente que não irá cumprir o seu dever constitucional junto aos povos originários. Além disso, promove o ataque aos direitos dos indígenas e estimula a invasão de seus territórios.
Este relatório é um lembrete de que precisamos nos manter atentos e
continuar mobilizados cobrando do poder público e das autoridades”,
declarou a porta-voz.
Ação em rede
Desde 2018, o Greenpeace, juntamente com outros parceiros, vem
realizando um projeto focado na proteção territorial de áreas
específicas no Norte do Brasil. O “Todos os Olhos na Amazônia” tem como objetivo estimular a ação em rede como estratégia para apoiar a luta de povos indígenas e comunidades tradicionais pela conservação das florestas e de seus territórios tradicionais. Exija a proteção imediata da vida dos povos indígenas e de seus territórios – assim como a retirada do pacote de destruição ambiental atualmente em pauta no Congresso Nacional.
Relembre alguns casos:
Eusébio Ka’Apor – defensor da Terra Indígena Alto Turiaçu, foi assassinado com dois tiros nas costas
em abril de 2015. A abertura de inquérito por parte da Polícia Federal
ocorreu cinco meses depois do crime. As investigações não foram
concluídas até hoje e ninguém foi punido pela morte do líder indígena.
Paulino Guajajara – Membro dos Guardiões da Floresta – um grupo de indígenas voluntários que patrulham áreas protegidas no Maranhão – Paulino foi baleado na cabeça por invasores
em 1º de novembro de 2019. Sua morte ocorreu dentro da Terra Indígena
Araribóia. Dois suspeitos chegaram a ser identificados, mas ninguém foi
punido. Paulino foi nosso aluno no processo formativo no uso de
tecnologias para o monitoramento territorial. Assim como todos os
Guardiões da Floresta, lutava incansavelmente para proteger seu povo,
seu território, seu modo de vida e cultura.
Zezico Guajajara – Diretor de escola e professor, Zezico foi encontrado morto
perto de sua aldeia em 23 de março de 2020. Os suspeitos foram presos e
ouvidos em audiências que se encerraram em dezembro. Ninguém foi
punido. Se contarmos a partir do ano 2000, Zezico é o 19º indígena
Guajajara morto por denunciar invasões a terras indígenas no Maranhão.
Em entrevista ao Greenpeace, o climatologista José Marengo faz uma
análise da relação entre aquecimento global e a falta de chuvas que
impactou o nível dos reservatórios de grande parte das hidrelétricas do
país, um dos motivos da alta nas tarifas de energia
A escassez de chuvas entre setembro de 2020 e março
de 2021 nos reservatórios de grande parte das hidrelétricas do país
somada à falta de planejamento do poder público resultaram na pior crise hídrica
dos últimos 91 anos, no Centro-Sul. Cinco estados estão em alerta de
emergência para o período de junho a setembro: Goiás, Mato Grosso do
Sul, Minas Gerais, Paraná e São Paulo.
Por conta dessa queda no nível dos reservatórios, o governo anunciou o
acionamento das termelétricas para atender à demanda do consumo de
energia. Além de mais poluentes, a produção de energia por usinas
térmicas é mais cara e essa decisão reflete diretamente no bolso da
população, que é para quem o governo repassa o prejuízo com o aumento da conta de luz.
Mais emissões, maiores os riscos de novas secas. E o planejamento?
Uma vez que geram energia a partir da queima de combustíveis, como
diesel, gás e carvão, as termelétricas são mais poluentes, contribuindo
assim para o aumento das emissões brasileiras de gases de efeito estufa
que intensificam o aquecimento global e, consequentemente, o risco de um futuro com mais secas e ainda mais intensas.
Há tempos a ciência vem alertando que as mudanças climáticas estão provocando o aumento da intensidade e frequência de eventos extremos, caso de secas e cheias.
Como bem lembrou o climatologista e meteorologista José Marengo em
entrevista ao Greenpeace Brasil (que você pode conferir nos vídeos que
estão nesta página), “a atmosfera não reconhece fronteiras”. Enquanto o
mundo todo sofre os impactos do agravamento da crise climática, o Brasil
também paga seu preço, e em vez de tentar reverter este cenário com o
reconhecimento de que vivemos uma crise e um plano de enfrentamento, o
governo coleciona ações que seguem aumentando as emissões.
Como se não bastasse as dificuldades impostas pela pandemia, pelos eventos decorrentes da crise climática, insegurança alimentar e desemprego, agora o cidadão brasileiro vai ter de arcar com o aumento da tarifa de energia que,
como toda situação de crise, tem peso e consequências muito mais graves
sobre aqueles que vivem em situação de vulnerabilidade.
A situação atual poderia ter sido evitada? Será que em vez de
construir e acionar termelétricas, que agravam a crise climática, o
Brasil já não poderia ter acelerado em direção à transição para o
investimento em fontes de geração de energia limpa, renovável e
sustentável?
Para responder a algumas dessas perguntas, a gente te convida a ouvir
essa entrevista com José Marengo, climatologista, meteorologista e
coordenador-geral de pesquisa e desenvolvimento do Cemaden (Centro
Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais), órgão ligado
ao Ministério da Ciência.
A entrevista com Marengo foi realizada virtualmente no dia 25 de junho de 2021.
Parte 1: Eventos extremos, como a seca no Centro-Sul, poderão ser mais frequentes e intensos com as mudanças climáticas?
Nesta primeira parte da conversa, Marengo chama atenção para o fato
do clima mundial estar mudando como resultado da intensificação do
aquecimento global e que as consequências já estão sendo observadas. “O
aquecimento global é um processo natural, só que as atividades humanas
estão acrescentando e intensificando, assim como seus impactos. Nós
estamos sentindo coisas que não deveriam estar acontecendo, deveriam
acontecer nas próximas décadas ou 100 anos”, alerta.
Parte 2: O que pode ser feito para mitigar os impactos das mudanças climáticas?
Em novembro deste ano, representantes de países representantes dos
países-membros da Organização das Nações Unidas (ONU) vão se reunir na Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas
(COP26) para tratar de um inimigo comum e que não reconhece fronteiras,
a crise climática. O Brasil tem um papel fundamental neste
enfrentamento, que passa pelo fim do desmatamento da Amazônia.
O cumprimento das metas assumidas pelos países no Acordo de Paris
e o combate ao desmatamento são algumas das ações destacadas por
Marengo para mitigar os impactos das mudanças climáticas. Ele também
aborda a questão social, uma vez que as pessoas em situação de
vulnerabilidade têm sua realidade agravada pelas consequências da crise
do clima.
Parte 3: Ao acionar termelétricas para evitar apagão, Brasil entra no “cheque especial”
O Brasil tem um enorme potencial para investimento em geração de
energia limpa, renovável e sustentável, como eólica e solar. No entanto,
em um momento como este, por falta de planejamento, infraestrutura e
vontade política, precisamos recorrer às térmicas para evitar um apagão,
que são mais caras e poluentes.
Nesta terceira parte da entrevista, Marengo aborda as consequências
de ainda termos de depender de fontes de energia suja para situações de
emergência como a que estamos vivendo agora.
Parte 4: Quais outros eventos extremos são provocados pelas mudanças climáticas no Brasil?
Chegando ao fim desse papo sincero com a ciência que esperamos ter te
ajudado a pensar em algumas das perguntas lançadas lá no começo do
texto, Marengo comenta sobre alguns outros eventos extremos que já são
reflexo das mudanças climáticas.
A série “Preservação é saúde”, desenvolvida pelo Dr. Dráuzio junto a
um grupo de organizações, terá quatro capítulos, abordando a relação
entre desmatamento, queimadas, doenças e Covid-19.
Você sabia que o aumento crescente no desmatamento também traz graves consequências para a nossa saúde,
como problemas respiratórios, novas doenças e pode até causar novas
pandemias? Esses impactos não são tão visíveis como a perda da
biodiversidade, mas são igualmente preocupantes para o nosso bem-estar.
O próprio surgimento da pandemia da Covid-19 criou inúmeras
especulações sobre a origem do vírus. Especialistas e cientistas já
entendem hoje que o novo coronavírus surgiu através da transmissão por meio de animais e provavelmente esses mesmos hospedeiros foram consumidos por humanos.
E onde o desmatamento entra nessa história? É em como a destruição da floresta causa o desequilíbrio desse ecossistema que retém vírus e animais que são próprios para aquele habitat — com as espécies fora do lugar, a chance de surgirem novas doenças e pandemias cresce muito.
O doutor Dráuzio Varella explica
Essa relação é uma das coisas que o doutor Drauzio Varella, médico
oncologista, cientista e escritor brasileiro, explica com maestria na
série de vídeos “Preservação é saúde”, desenvolvida em parceria com um
grupo de organizações. Nos vídeos, o doutor também conta porque
precisamos conservar (com todo cuidado) nossas florestas, biodiversidade
e respeitar os povos originários.
Confira o primeiro vídeo da série e acompanhe o perfil oficial do YouTube do doutor Drauzio — os episódios serão lançados todas as segundas-feiras do mês.
Vazamento acidental no Golfo do México evidencia que é urgente acelerar uma transição energética justa
Um incêndio foi registrado nas águas marítimas
do estado de Campeche, no Golfo do México, após vazamento de gás de um
duto submarino da estatal Petróleos Mexicanos (Pemex) na última
sexta-feira (2).
O acidente ocorreu próximo à plataforma Ku-Charly e mostra, mais uma
vez, que precisamos abandonar as fontes fósseis e acelerar a transição
energética justa. Essas fontes são as principais causas das mudanças
climáticas e sua exploração traz riscos constantes, a exemplo do que
vemos acontecer novamente.
É importante lembrar que acidentes como esse – ou similares e até
piores – frequentemente afetam de maneira desproporcional as pessoas em
situação de maior vulnerabilidade.
Em 2019, o Brasil viu manchas de óleo atingirem toda a costa do Nordeste e dois estados do Sudeste, no maior derramamento da história do Brasil em
extensão (mais de mil localidades espalhadas por 3.000km). Até hoje as
populações, especialmente as mais vulneráveis, sofrem os impactos.
O próprio Golfo do México tem seu histórico de derramamentos de
petróleo e impactos desiguais nas pessoas. O mais “famoso” é o desastre
da plataforma Deepwater Horizon,
em 2010, que inclusive rendeu um filme que mostra a irresponsabilidade
da indústria petroleira na operação de poços de petróleo.
Novamente, a biodiversidade e as comunidades que dependem da saúde do mar e da costa para seu sustento são as mais afetadas.
“No acidente atual, a imagem de barcos – que parecem minúsculos –
tentando apagar um incêndio no mar choca. Nos faz lembrar das falsas
soluções apresentadas para a crise climática que vivemos”, afirma Thiago
Almeida, da Campanha de Clima e Justiça do Greenpeace.
“Apagar o incêndio não é solucionar o problema, abandonar os
combustíveis fósseis é. Não podemos lutar contra as mudanças climáticas
usando, por exemplo, compensação de carbono e offsets florestais que
permitem que a floresta siga sendo desmatada. Precisamos fazer uma
transição energética e ela deve ser, acima de tudo, justa”, defende
Almeida.
A destruição de ecossistemas naturais favorece o surgimento de
microrganismos nocivos à nossa saúde. Proteger as florestas é proteger
nossa vida
Existem vários fatores que favorecem o aparecimento e a transmissão
de doenças devastadoras, como a Covid-19. Mas o principal fator, segundo
relatório daEcoHealth Alliance, é a mudança no uso da terra,
ou seja, o desmatamento, que aparece como determinante em 31% dos casos
de novas doenças.
A destruição do meio ambiente favorece o surgimento de novas doenças e coloca nossa saúde em risco.
Para esclarecer essa relação, e chamar atenção para a urgência de
agir pela proteção da Amazônia, o Greenpeace Brasil publicou uma
história especial, desenvolvida em parceria com o time de pesquisas do
Greenpeace Internacional, que reúne informações sobre o desmatamento e a
biodiversidade, o histórico de pandemias ao redor do mundo e os fatores
que colocam a nossa saúde em risco.
Nossa sociedade, e principalmente nossos governantes, precisam
entender que o que acontece na floresta impacta nossa vida e nossa
saúde. Sem uma biodiversidade equilibrada, a humanidade não tem chance!
Precisamos agir agora, conheça e compartilhe essa história.
Jornalista do Greenpeace Brasil em Manaus. Adora acampar e o
cheiro da floresta depois da chuva. Ama sua filha, dormir, cozinhar e
contar histórias, nessa ordem.