População que vive em plena Amazônia ficou sem o elemento mais imprescindível para as nossas vidas; o que isso nos ensina?
Em abril de 2020, logo no início da pandemia, a liderança indígena Aílton Krenak, em entrevista, questionou: “A nossa mãe, a Terra, dá de graça o oxigênio, põe a gente para dormir, desperta de manhã com sol, dá oxigênio, deixa pássaros cantar, as correntezas, as brisas, cria esse mundo maravilhoso para compartilhar, e o que a gente faz com ele?”.
Naquele momento ainda não imaginávamos que já no mês seguinte, maio do ano passado, faltaria oxigênio não só nos pulmões de milhares de pessoas, mas também em diversos hospitais no Brasil. Ficamos sem um dos elementos mais essenciais para as nossas existências que, geralmente, é compartilhado, gratuitamente, o tempo todo entre nós, humanos. Mais estranho ainda é pensar que em plena Amazônia, a maior floresta tropical do planeta, chamada por muitos de “pulmão do mundo”, houve um assustador colapso de oxigênio – que ficou ainda mais evidente quando atingiu Manaus, a maior cidade amazônica, em janeiro de 2021.
Diante desta situação inimaginável há alguns anos, organizações da sociedade civil articuladas pelo projeto Asas da Emergência, conseguiram concretizar agora em abril a instalação de uma usina de oxigênio medicinal em São Gabriel da Cachoeira, que beneficiará a região do Baixo ao Alto Rio Negro, no noroeste do Amazonas. Esta ação foi possível através da doação da usina pelo Greenpeace à Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn) e da atuação de parceiros, como a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e o Instituto Socioambiental (ISA). Com capacidade de envasar 12 cilindros de 50 litros diariamente, a usina tem capacidade de atender a população de 100 mil habitantes da região, onde vivem 23 povos indígenas.
“A gente acabou sendo surpreendido por este colapso geral aqui no estado do Amazonas, na área mais preservada da Amazônia. Isso que nos motivou e fez a gente pensar conjuntamente. Não foi uma ideia isolada, foi de um grupo de parceiros, pra buscar ter uma usina destas e beneficiar não só os indígenas, mas a população como um todo”, explicou Marivelton Barroso, do povo Baré, diretor-presidente da Foirn.
Veja como funciona uma usina de oxigênio medicinal:
Alimento para nossas mentes
Vale lembrar que naquela mesma entrevista concedida por Aílton Krenak há um ano, ele fez um claro alerta: “Todos precisam despertar. Se, durante um tempo, éramos nós, os povos indígenas, que estávamos ameaçados de ruptura ou da extinção dos sentidos das nossas vidas, hoje estamos todos diante da iminência de a Terra não suportar a nossa demanda. Tomara que, depois de tudo isso, não voltemos à chamada ‘normalidade’, pois se voltarmos é porque não valeu nada a morte de milhares de pessoas no mundo inteiro”.
A instalação da usina e inúmeras outras ações humanitárias, como as que têm sido realizadas pelo projeto Asas da Emergência, evidenciam que esta união e articulação cooperativa entre as diversas organizações da sociedade civil tem sido imprescindível para minimizar os severos impactos da pandemia de Covid-19; que é ainda mais agravada pelo contínuo negacionismo do governo brasileiro. “A Covid mostra que ou a gente trabalha juntos ou tem um massacre, de mortes, de perdas”, avaliou Marivelton durante a inauguração da usina.
Solidariedade, na prática
Na última sexta-feira (30/4), o Greenpeace Brasil fez uma homenagem às mais de 400 mil vidas perdidas para a Covid-19. Através de uma mensagem de solidariedade, realizada no Encontro das Águas, em Manaus, a organização cobrou do poder público medidas efetivas de combate à pandemia, com foco na proteção das pessoas. Para escrever a mensagem, foram necessárias 18 toneladas de materiais, como alimentos, máscaras, materiais de higiene e cilindros de oxigênio, que serão doados para comunidades e instituições que já vêm atendendo famílias em situação de vulnerabilidade na capital do Amazonas e no seu entorno: Cufa Manaus, Parque das Tribos, Comunidade do Julião, Aldeia Beija-flor e Associação Omisma Watyamã.
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