Jorge Eduardo Dantas
A preparação do painel levou duas semanas e envolveu intensa logística. Com a atividade, o Greenpeace Brasil se solidarizou com as famílias enlutadas e cobrou do poder público sua responsabilidade no enfrentamento da pandemia
Dezoito toneladas de suprimentos, uma mensagem de mais de 90 metros e 685 cestas básicas doadas a comunidades de Manaus. A mais recente ação do Greenpeace Brasil foi recheada de números superlativos – e o escopo desta iniciativa envolveu muito trabalho prévio dos ativistas.
Na semana em que o Brasil atingiu a trágica marca de 400 mil vidas perdidas para a Covid-19, a organização ocupou uma balsa de quase 100 metros com a mensagem “400 Mil Vidas” no Encontro das Águas de Manaus (AM). Com esse gesto, a instituição se solidarizou com as vítimas da Covid-19 no Brasil e cobrou do governo Bolsonaro uma ação firme e efetiva de controle da pandemia e proteção da população.
Inquietação
A grave crise econômica, sanitária e social que o país atravessa neste momento tem levado ao agravamento das desigualdades sociais no Brasil e deve ser enfrentada com solidariedade e união, e não com a divisão e o medo, como prega o atual governo.
O Greenpeace entende que não há dilema entre um meio ambiente equilibrado e uma população saudável e próspera, pois um é condição para o outro. A lição deste momento é que é de nosso interesse prevenir pandemias investindo em políticas públicas estruturantes e inclusivas para proteger todas as pessoas e a natureza, pois a destruição ambiental aprofunda as desigualdades, estimula violências e esgarça os limites ecológicos
Em referência à crise sanitária que vivemos, a atividade utilizou alimentos, kits de higiene e equipamentos de proteção, como luvas e máscaras, garantindo texturas e cores distintas para compor a mensagem e que poderiam ser posteriormente doados para famílias em necessidade, com o objetivo de gerar um efeito benéfico para a sociedade com a realização da atividade.
Doação
No total, foram utilizadas mais de 18 toneladas de suprimentos para formar a mensagem – entre alimentos, materiais de limpeza, cilindros de oxigênio e equipamentos de proteção individual – que estão sendo doados a instituições de Manaus atuantes no combate à fome e que prestam assistência humanitária a comunidades da periferia da capital do Amazonas.
Fizeram parte do mosaico mais de 4,4 toneladas de arroz; cerca de 4 toneladas de açúcar e mais de 2 toneladas de macarrão, além de 2 mil máscaras.
Balsa & escritório
Cerca de vinte ativistas participaram desta intervenção (fora pessoal de apoio e suporte). Em campo, a operação inteira levou duas semanas: uma de preparação no escritório do Greenpeace em Manaus; e outra de preparação na balsa .
Segundo a Diretora de Programas do Greenpeace Brasil, Tica Minami, além da preocupação com a segurança do time envolvido na atividade, um dos pontos de atenção da equipe foi com a “jornada” dos alimentos.
“Queríamos garantir, desde o começo da operação, que os alimentos fossem manuseados de maneira correta – desde a organização, limpeza e higienização – para que pudessem ser usados na atividade e depois doados em boas condições de consumo”, explicou ela.
Foi preciso que os alimentos fossem manuseados um a um, numa operação demorada e exaustiva: “Imagine manipular quase 18 toneladas de alimentos nessas condições – prezando pela higiene e durabilidade, buscando o desperdício zero, um trabalho gigantesco de higienizar item por item. Foi um grande desafio, mas ficamos felizes de poder reforçar a rede de solidariedade em torno dos brasileiros e brasileiras que mais precisam de ajuda neste momento”.
Diante da pandemia, a saúde dos ativistas envolvidos neste tipo de atividade é uma das principais preocupações do Greenpeace. “Trabalhamos com poucas pessoas, fizemos testagem em toda a equipe, usamos muitas máscaras e álcool gel para resguardar a integridade do nosso pessoal”, declarou.
Em ação
O trabalho de preparação da ação foi intenso e contou com uma enorme dedicação dos ativistas.O estudante de odontologia Matheus Siqueira, voluntário do Greenpeace em Manaus, que participou da intervenção, contou ter se emocionado ao participar da atividade: “Não pude conter as lágrimas quando vi a mensagem pronta. A todo momento, desde a preparação dos tecidos até a colocação dos alimentos na balsa, vinham na minha cabeça memórias dos meus familiares em hospitais e dos vários conhecidos que perdi para o vírus e que estavam entre as 400 mil vítimas do coronavírus. É muito triste saber que muitas daquelas pessoas poderiam estar vivas hoje”.
Os ativistas confeccionaram faixas feitas à mão e as bases das letras foram produzidas com tecidos. No pré-preparo, foi preciso limpar a balsa, fazer marcações no chão com giz e fitas e em seguida distribuir os suprimentos para formar as letras.
Em pelo menos cinco ocasiões, os ativistas precisaram passar a noite trabalhando para que o cronograma fosse cumprido. Eles enfrentaram condições climáticas adversas: houve momentos de muito sol e calor e outros de muita chuva, em que o vento e água retiravam as marcações das letras e obrigavam a um trabalho de retoque.
Assim, certos dias de trabalho começavam com camisetas de manga longa, óculos de sol, bonés e muito protetor solar – e mais tarde exigiam grossas capas de chuva quando o clima mudava. Durante as tempestades mais intensas, o trabalho era interrompido por questões de segurança. À noite, era hora dos repelentes que protegiam dos insetos.
O trabalho intenso se traduziu em uma mensagem poderosa para o Brasil e o mundo: é urgente proteger a vida. Para Matheus, o ativista que se emocionou durante a preparação da atividade, o trabalho foi duro, porém realizador: “Fiquei emocionado por ter feito parte disso . Estávamos cobrando as autoridades, cobrando o governo, mandando uma mensagem de solidariedade aos brasileiros e, com a doação dos alimentos, ainda ajudando milhares de famílias que estão passando necessidade”, declarou ele.
Para outro ativista que participou desta ação, o estudante de nutrição Rômulo Pereira, estar envolvido neste trabalho “foi uma honra”: “Neste período pandêmico, é fundamental que estejamos engajados nestas causas que somam o ambiental, o alimentar e o social. É isso que vai definir o futuro do País daqui pra frente, o modo como a gente vai tratar as pessoas e a maneira como estamos olhando para o próximo”.
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