Tábuas de madeira foram construídas, no Centro de Manacapuru, para garantir o deslocamento de pedestres durante a enchente. © Raphael Alves / Amazônia Real

Atualmente, o Brasil lida com dois graves eventos que, a princípio, parecem ser bastante diferentes, mas que guardam entre si uma grande similaridade. As cheias no Norte e a seca no Centro-Sul do País são dois reflexos do mesmo fenômeno: os eventos extremos causados pela mudança climática, que são uma realidade global e que, por falta de vontade política e econômica, ainda não foram endereçados de maneira adequada. 

Pior, esses fenômenos geram prejuízos e danos gravíssimos às populações mais pobres e em situação de vulnerabilidade do Brasil, aprofundando o cenário de crise e caos social em que vivemos.

No Brasil, uma das principais fontes de emissão dos gases que causam as mudanças climáticas é o desmatamento na Amazônia – que vem registrando altas recorde desde o início do governo Bolsonaro. Abril de 2021 fechou com 58 mil hectares desmatados, área equivalente a 75 mil campos de futebol. Este índice é 43% maior do que o registrado em abril do ano passado e o pior índice da atual série histórica!

Íntegra e saudável, a Amazônia absorve o gás carbônico da atmosfera, contribui para o equilíbrio do clima global, regula o regime de chuvas no Brasil, evita o avanço de secas em diferentes áreas do nosso país e guarda nossa riquíssima biodiversidade. No entanto, o atual rumo tem levado essa floresta para outra direção, e as consequências não tardaram em chegar…  

Inundações

Quem passa o olho pelo noticiário se depara com relatos preocupantes vindos do norte: o rio Negro, um dos mais importantes cursos d’água da região Amazônica, está subindo a níveis alarmantes. Nesta quarta (19), ele atingiu 29,77 metros, o segundo maior índice da série histórica. A tendência é que ele continue subindo até junho, causando uma das maiores cheias de todos os tempos. Trechos da capital Manaus já se encontram invadidos pelas águas, prejudicando o trânsito e o comércio e agravando problemas de saneamento básico.  

A bacia do rio Solimões, a foz do Purus e a bacia do rio Amazonas também registram níveis altos para o período. Segundo o Governo do Amazonas, até semana passada 42 municípios e mais de 165 mil pessoas sofreram prejuízos causados pelas cheias.      

Em fevereiro, o estado do Acre também vivenciou uma cheia histórica, que prejudicou mais de 130 mil pessoas em dez cidades diferentes. A subida dos rios Acre, Juruá, Envira, Iaco e Purus levou o governador Gladson Camelli a decretar situação de emergência.

Sobrevôo em Tarauacá sob inundação, Acre, Brasil © Alexandre Noronha / Greenpeace

Se lembrarmos que a região Norte, de maneira geral, ainda se recupera dos duros golpes sofridos pelo coronavírus e agoniza com a crise econômica e social, é possível ter uma ideia da grandeza dos problemas enfrentados.

Seca

O Centro-Sul do Brasil, por sua vez, lida com um problema que é quase literalmente o “outro lado da moeda”: registrando o menor nível de chuvas dos últimos 91 anos, uma seca severa atinge o Mato Grosso do Sul, o noroeste de São Paulo, o sul de Goiás e o Paraná. 

Segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), órgão vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, nesta semana mais de 347 municípios da região enfrentam seca extrema.

Produtores rurais já se queixam de prejuízos em suas colheitas e os reservatórios de água das principais hidrelétricas do centro-sul estão em níveis baixíssimos. Este último fenômeno fez com que o governo tivesse que acionar todas as termelétricas disponíveis para poupar os reservatórios e evitar um possível apagão esse ano, além de importar energia elétrica de outros países, como Argentina e Uruguai. Ou seja, para um problema previsível, estamos adotando as soluções mais caras e poluentes.

São sinais de que, sem planos concretos de mitigação e adaptação às mudanças climáticas, estaremos eternamente em um círculo vicioso. O país lida com os efeitos da crise do clima aumentando as emissões de carbono (com a queima de óleo e gás nas termelétricas) e quem paga a conta somos todos nós. Isso afeta mais ainda aquelas pessoas que já são as mais impactadas pelo clima, pela pandemia e pela fome que volta a assolar o país. 

Realidade

A ocorrência desses dois fatos simultaneamente mostra que os efeitos das mudanças climáticas não são algo para um futuro distante – mas sim uma realidade já presente em nosso dia-a-dia. Eles têm se tornado cada vez mais intensos e frequentes; e está claro quem mais sofre suas consequências.

“Precisamos de um plano para o país que olhe para as vidas ameaçadas pelas mudanças climáticas. E que tenha metas de descarbonização, assim como medidas efetivas de adaptação e redução das desigualdades. Hoje, no Brasil, aqueles que menos contribuem para a crise climática são os primeiros e mais impactados por ela”, disse Marcelo Laterman, da campanha de Clima e Justiça do Greenpeace. 

“Assim como a negação do problema e negligência do governo em relação à pandemia levou o país a mortes evitáveis e ao estado de desamparo social e sanitário, estamos vendo o governo repetir sua postura negacionista em relação à questão climática. Fechar os olhos para ela é uma escolha que impacta vidas”, ressaltou Marcelo.

Precisamos cobrar de nossas autoridades medidas imediatas de mitigação às mudanças climáticas, como a transição para fontes de energia limpas e renováveis, o fim do desmatamento e compromissos para adaptação e aumento da resiliência das populações mais vulnerabilizadas.

Por isso, assine a nossa petição e junte-se ao movimento de pessoas que reconhecem a urgência da crise climática e que quer dar voz às pessoas mais afetadas:
Crise Climática | Greenpeace