por Greenpeace Brasil
Número de alertas foi 11% maior que o registrado no mesmo mês de 2019, confirmando a tendência de aumento do desmatamento na Amazônia
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De acordo com dados divulgados hoje (10) pelo sistema DETER, do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), a destruição segue avançando em ritmo acelerado na Amazônia. Em junho, a área com alertas de desmatamento foi 11% maior que o registrado no mesmo mês do ano passado. Com 1034 km², junho foi o mês com a maior área de alertas de desmatamento do ano até o momento, o maior da série Deter-B (nova metodologia adotada em Agosto de 2015) e o pior junho desde 2007, se observarmos o histórico para o mês.
O Deter foi criado em 2004, com o objetivo de gerar informações em tempo real para subsidiar o trabalho de fiscalização e operações de combate ao desmatamento da Amazônia, permitindo que os órgãos de fiscalização e controle planejem com mais precisão suas atividades para coibir o desmatamento e as queimadas.
O sistema aponta, ainda, a tendência da taxa oficial de desmatamento (Prodes), divulgada anualmente, considerando sempre o período de agosto de um ano a julho do ano seguinte. Mesmo sem o último mês do chamado “período Prodes”, a área com alertas já soma 7.540 km² (agosto de 2019-junho de 2020), 64% de aumento em relação ao período anterior e 10% de crescimento em comparação com o ano anterior fechado (6.844km² entre agosto de 2018 e julho 2019).
É o maior acumulado para o período Prodes da série Deter-B e historicamente desde 2008. Como resultado já esperado deste cenário, a taxa oficial do desmatamento, que ultrapassou os 10.000 km² em 2019, tende a ser ainda maior em 2020. “Estamos seguimos na direção contrária dos compromissos assumidos na Política Nacional de Mudança do Clima, onde deveríamos reduzir à taxa de desmatamento na Amazônia para 3.900 km² em 2020, os alertas divulgados hoje apontam para a possibilidade de ter uma taxa cerca de três ou quatro vezes maior que a meta estabelecida para 2020, contribuindo negativamente para as mudanças climáticas e com a alarmante perda de biodiversidade”, avalia Cristiane Mazzetti, da campanha de Amazônia do Greenpeace.
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Apuí (AM), próxima a rodovia Transamazônica. À esquerda área em 28/03/2020 e à direita estado da área em 16/06/2020.
Desmatamento e fogo
O fogo é utilizado frequentemente no processo do desmatamento e os focos de calor também têm aumentado significativamente na Amazônia. Segundo o INPE, junho registrou o maior número de focos desde 2007 e, apenas na primeira semana de julho foram registrados 556 focos, 36% de crescimento em relação ao mesmo período em 2019.
“Não podemos mais perder tempo, é preciso agir de maneira rápida e efetiva para punir e coibir o crime na floresta, pois se nada for feito, em poucas semanas veremos essas mesmas áreas em chamas”, afirma Cristiane Mazzetti.
Governo têm se mostrado ineficaz
Apesar dos números crescentes, o governo federal segue incapaz de lidar com o problema, sem apresentar um plano efetivo de combate ao desmatamento e dando prosseguimento à sua política antiambiental, que fragilizou órgãos de fiscalização, como Ibama e ICMBio, enquanto prevê um gasto 10 vezes maior que aquele utilizado pelo Ibama para operações militares ineficazes comandadas pelo vice-presidente Mourão.
“Ao optar por não adotar medidas concretas para impedir o desmatamento e as queimadas na Amazônia, além de colocar vidas em risco, o governo brasileiro também aumenta dramaticamente a vulnerabilidade econômica do Brasil”, observa Cristiane Mazzetti. Esta insegurança já se reflete na relutância cada vez maior de alguns países europeus à acordos comerciais com o Brasil, e nas cartas enviadas ao governo brasileiro por representantes de países, investidores e empresas internacionais pedindo ações efetivas para a defesa da maior floresta tropical do planeta.
A reação do governo às pressões, entretanto, é esconder o problema atrás de uma cortina feita de campanha publicitária, viagens e ações de fachada. “Mitigar e reverter os danos causados à floresta e à imagem do país exigirá muito mais. Precisamos de resultados concretos e para isso será necessário um plano robusto para conter tamanha destruição, na linha do que foi o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDam), começando por ações de comando e controle permanentes e executadas por órgãos competentes e bem aparelhados. Este é um caminho já conhecido, mas que este governo infelizmente insiste em ignorar”, afirma Mazzetti. “Os números crescentes estampam a verdade, se enganam aqueles que aceitarem o que foi apresentado pelo governo até então como uma garantia de mudança de cenário”, completa.
Monitoramento de desmatamento – Julho 2020
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Sobrevoos feitos em julho de 2020 registraram desmatamento e degradação na Amazônia. Área desmatada de 1.022 hectares na Área de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu, na cidade de São Félix do Xingu, no Pará, com alerta de desmatamento do Deter de agosto de 2019 a junho de 2020. © Christian Braga / Greenpeace
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