por
Adriana Charoux
No
dia 15 de março comemora-se o Dia Mundial dos Direitos do Consumidor.
Data criada para celebrarmos os direitos garantidos pelo Código de
Defesa do Consumidor. Mas entra ano, sai ano, e os consumidores
brasileiros ainda não têm respeitado seu direito de saber com clareza a
origem e composição dos produtos de sua alimentação.
Mais do que nunca, o consumidor brasileiro está exposto a uma
quantidade bizarra de veneno na comida, em volumes cada vez maiores e em
combinações cujos efeitos ainda são desconhecidos. Como se não
bastasse, estamos expostos à carne contaminada com desmatamento e
trabalho escravo. Infelizmente, apesar de promessas e compromissos de
mercado, medidas condizentes com a urgência climática que vivemos ainda
não estão sendo adotadas como deveriam.
Os supermercados líderes em vendas no Brasil, Grupo Pão de Açúcar (GPA) e Carrefour ,
tão eficientes em fazer promessas em matéria de sustentabilidade,
assumiram, em 2016, compromisso de tirar o desmatamento causado pela
pecuária de suas gôndolas até 2020. Mas, até agora, pouco fizeram para
implementar de forma eficiente a promessa que fizeram para a sociedade e
seus consumidores. Na prática, tais varejistas ainda correm grande
risco de estarem vendendo carne associada ao trabalho escravo e
desmatamento da Amazônia, tornando a sociedade cúmplice de um crime de
que não têm sequer conhecimento e alternativas para solucioná-lo. A tal
da liberdade de escolha do consumidor vira história para boi dormir
nesse reinado de propaganda e “autopromoção verde” das empresas.
Esses grupos varejistas não tem tratado com a transparência devida as
informações sobre a evolução das etapas de implementação de seus
compromissos. Desde que afirmou que eliminaria o desmatamento ofertado a
seus clientes, em março de 2016, o GPA apresentou dois informes cheios
de números abstratos e pouco resultados práticos. O Carrefour está ainda
pior no quesito transparência. Não apresentou nem um mísero informe,
depois de realizar um evento enorme de anúncio da política, realizado em
Cuiabá, na sede do governo do estado, seguido de projeto piloto para
promover a produção de bezerros livres de desmatamento. “É pouco, muito
pouco diante do que é preciso ser feito diante da urgência das mudanças
climáticas que não apenas ameaçam o futuro das próximas gerações, mas já
impacta a vida das populações atuais, especialmente as mais pobres e
também ameaça o negócio de empresas globais que atuam na produção de
grãos e insumos”, diz Adriana Charoux, da campanha de Amazônia do
Greenpeace.
Para piorar, há uma clara sinalização política de que os mecanismos
que asseguram a saúde da população e a proteção do meio ambiente serão
enfraquecidos. Os exemplos são infinitos no campo da produção e consumo
de alimentos. A garota veneno, ministra Tereza Cristina, está cumprindo à
risca a cartilha ditada pela bancada ruralista no Congresso, da qual
era líder antes de assumir o novo cargo, de aprovar em ritmo acelerado
vários agrotóxicos, sapateando na cara da sociedade que se mobilizou
para dizer “chega de veneno”.
Em seu relatório mais recente, o Painel Intergovernamental sobre as
Alterações Climáticas sublinhou o papel vital das florestas na limitação
da temperatura global do planeta, para que não se eleve acima dos
1,5ºC, ponto que, se ultrapassado, poderá acirrar ainda mais eventos
climáticos extremos, como secas prolongadas e enchentes como as que
presenciamos em diversos locais no Brasil nos últimos dias. O
Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António
Guterres, enfatizou a necessidade de se acabar com o desmatamento, e
falou da importância de adotarmos “medidas urgentes e muito mais
ambiciosas” e “Mudanças sem precedentes” para a forma como a terra é
usada e as mercadorias são produzidas.
Muitas empresas prometem justamente essas reformas há quase uma
década, incluindo os Grupos Carrefour e Pão De Açúcar. Se no Brasil,
assumiram o compromisso há quase 4 anos, desde 2010 os grupos globais a
que pertencem já haviam se comprometido em acabar com o desmatamento nas
cadeias de soja, gado, óleo de palma e papel e celulose até 2020.
O tempo está se esgotando. O ano de 2020 começa daqui a pouco. Ações
urgentes e muito mais ambiciosas e mudanças sem precedentes são de fato a
única opção. Greenpeace e consumidores do Brasil e mundo estão aqui
para refrescar a memória das empresas e não deixar essa responsabilidade
passar desapercebida.
As novas gerações já perceberam isso e, no mesmo dia em que
comemoramos as conquistas dos direitos do consumidor, jovens e crianças
de todo o mundo decidiram não mais se calar e realizam uma gigantesca Greve pelo Futuro
para exigir algo mínimo, um direito básico: que nós como sociedade,
nossos governos e as empresas chefiadas por adultos que nos fornecem
produtos tenham responsabilidade com o futuro e o mundo que deixaremos
para eles. Uma mensagem tão poderosa, que é impossível de ser ignorada.
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