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Barragem desativada na comunidade de Casa Branca, em Brumadinho, provoca medo na população do entorno. © Nilmar Lage/ Greenpeace
A tragédia em Brumadinho nos mostra que a forma como as barragens de mineração vêm sendo licenciadas e fiscalizadas é extremamente frágil e equivocada no país, fazendo aumentar a desconfiança e o medo das populações que vivem próximas a esses empreendimentos.
A professora e ambientalista Vera Baumfeld é uma das pessoas que se sentem ameaçadas. Moradora de Brumadinho, ela tem participado desde o ano passado das discussões sobre licenciamento e fiscalização das barragens no estado, e atesta: há um acordo de cavalheiros entre os políticos locais e as mineradoras, impedindo a participação da sociedade no processo e garantindo a manutenção de um sistema assassino, pouco preocupado com a segurança da população.
Como membro do Movimento Águas e Serras de Casa Branca, Vera participou ativamente dos capítulos que precederam o fatídico 25 de janeiro de 2019, na tentativa de evitar o pior — sem sucesso. Mesmo com diversos grupos alertando para os riscos, o Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam), a pedido da Vale, aprovou em dezembro licença para que as minas Córrego do Feijão e Jangada, estruturas vizinhas, tivessem sua capacidade produtiva ampliada. Além disso, a classificação de risco do empreendimento foi rebaixada de 6 para 4 e o licenciamento foi autorizado em uma só fase, quando o correto é que seja realizado em três fases. “Nos vimos absolutamente oprimidos pelas mineradoras que atuam aqui”, ela diz.
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A
professora Vera Baumfeld, moradora de Brumadinho: “É possível não ter
esse passivo, esse rejeito para nós? Sim, mas isso custa um pouco mais
caro, diminui o lucro da empresa, e eles não querem”. © Nilmar Lage/
Greenpeace
Para piorar a vida da população de Brumadinho, a mineradora MGB vem tentando reativar a Mina Casa Branca, também situada na zona de amortecimento do Parque Estadual da Serra do Rola Moça, entre Brumadinho, Nova Lima e Belo Horizonte. O parque garante 40% do abastecimento hídrico da capital mineira e é refúgio de vida silvestre de muitas espécies ameaçadas do Cerrado. Se as duas barragens dessa mina romperem, Casa Branca, a comunidade que mais recebe turistas na região, será totalmente consumida, e a bacia do Rio Paraopeba será novamente afetada, com a lama invadindo os ribeirões Casa Branca e Catarina.
O comerciante Wander Alves, morador de Casa Branca, também está preocupado com essas barragens. “Meu medo é de ser atingido também, pego de surpresa. A lama que descer vai pegar nossos dois córregos, que é a parte mais baixa da nossa comunidade. É onde tenho meu comércio. Assim como pegaram gente almoçando em Córrego do Feijão, pode pegar pessoas se divertindo, turistas dentro do meu estabelecimento”.
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Wander Alves, comerciante de Casa Branca, teme uma nova tragédia em Brumadinho. © Nilmar Lage/ Greenpeace
Após o rompimento da barragem da Vale em Mariana, em 2015, a sociedade civil se mobilizou e apresentou o projeto de iniciativa popular Mar de Lama Nunca Mais (PL nº 5.316/2018), que prevê o descomissionamento (fechamento) de barragens de forma segura para a população do entorno. As organizações locais batalharam junto a deputados para que o projeto fosse aprovado. “A gente vem trabalhando muito para que o fechamento de minas seja feito responsavelmente, ou seja, para que a gente não fique com uma barragem de rejeitos sobre nossas cabeças”, ela conta. “Mas nos deparamos com o engavetamento e desconstrução desse projeto por parte de alguns deputados, que parece que trabalham para as mineradoras de uma forma irresponsável”.
Embora evidências provem o contrário, a Vale segue afirmando que não havia nada de errado com a barragem de Córrego do Feijão, e manipula as informações para que o que aconteceu seja entendido como um “acidente”. Ao lavar suas mãos para esse crime, prova que o lucro vem em primeiro lugar. Agindo assim, como podemos confiar que outras barragens não tirarão mais vidas?
“A Vale é uma empresa poderosa, emprega um número de pessoas muito grande. Gera recursos, trabalho, emprego e renda, mas ao mesmo tempo destrói o meio ambiente, traz um passivo horroroso, termina com os lugares de moradia e deixa as cidades sem alternativa de sobrevivência quando vai embora”, lamenta Vera. “O lucro vai embora e a gente fica com os buracos, as barragens, a dor e a lama”.
Wander concorda: “Valeu tirar o minério daqui? Será que vale a pena fazer esse estrago todo? Eu acho que não vale não.”
Participando do abaixo-assinado: https://act.gp/2SU3Eip
#ParemAVale
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