Greenpeace Brasil A Itália é um dos maiores importadores de soja brasileira na Europa, inclusive relacionada a conflitos socioambientais. A ação ocorreu no porto de Ravenna
Na manhã de hoje (24), ativistas do Greenpeace realizaram uma ação no porto de Ravenna, na Itália, para denunciar o impacto da importação massiva de soja na Europa, plantada a partir da destruição do Cerrado e outros biomas. O grão é usado na Europa principalmente como ração para animais de corte, em criações intensivas.
Cerca de metade da soja importada pela Itália, que é a quarta maior consumidora do produto da Europa – atrás de Holanda, Alemanha e Espanha – passa pelo porto de Ravenna. O protesto pacífico aconteceu nas instalações da Bunge Italia spa, filial da Bunge Limited, uma das maiores agroempresas internacionais que negociam commodities agrícolas, incluindo soja.
Ativistas de vários países europeus escalaram os silos, usados para estocar toneladas de soja e abriram dois grandes banners: o primeiro com uma imagem de quase 200 metros quadrados retratando animais fugindo de uma floresta em chamas, e o segundo com as palavras “Soja que destrói florestas”. Um painel de 30 metros de altura, com a mensagem “Contém desmatamento”, também está sendo pintado em um dos silos.
A poucos quilômetros de distância, outro grupo de ativistas, usando um porco gigante feito de madeira reciclada e juta, barrou a entrada principal do centro de processamento da Bunge e se acorrentou a um dos portões com a faixa “Soja para ração = Desmatamento”.
O Brasil e a Argentina foram os principais exportadores de soja da Itália em 2020, correspondendo, juntos, por 65% das negociações. Os dois países latinoamericanos possuem ecossistemas de importância vital para o continente e para o clima no planeta, mas que se encontram ameaçados pelo avanço voraz do plantio de grãos para alimentação animal – o bioma Gran Chaco argentino também está sob ataque.
“Ecossistemas como o Cerrado, a savana mais rica em biodiversidade do mundo, estão seriamente ameaçados pelo agronegócio, apesar dos compromissos assumidos pelas empresas para protegê-los”, diz Martina Borghi, ativista de florestas do Greenpeace Itália. “A Bunge, por exemplo, já havia se comprometido em eliminar produtos de desmatadores de suas cadeias produtivas, ao redor do mundo até 2025, mas continua compartilhando interesses comerciais com megafazendas como a Agronegócio Condomínio Cachoeira do Estrondo”, completa.
Em 2019 a Bunge foi alertada pelo Greenpeace sobre os conflitos e o desmatamento promovido pela fazenda Estrondo no Cerrado, mesmo assim, a negociante manteve seus silos de armazenamento dentro da propriedade, contaminando toda sua cadeia com crimes socioambientais. Agora a fazenda iniciou um novo desmatamento, que já consumiu 3 mil hectares de Cerrado nativo, incluindo o uso de “correntão” para retirar de forma acelerada todo tipo de vegetação, em uma área sob disputa judicial, e a pergunta que fica é: a Bunge continuará compactuando com a violência e a destruição?
Sistema alimentar quebrado
Existe uma forte relação entre os alimentos que consumimos, a crise climática e a destruição de florestas e outros ecossistemas em todo o mundo. Hoje, mais terra é utilizada para cultivar comida para animais do que para as pessoas. Um milhão de espécies correm risco de extinção devido à destruição de seus habitats. Mesmo assim, o agronegócio continua avançando sobre ecossistemas e acabando com o nosso futuro.
“Apesar de parecer organizado, o atual sistema alimentar está totalmente fora de controle. Mas ele não é inevitável, ele foi planejado. E este sistema precisa mudar se quisermos ter uma chance de futuro, para nós, no Brasil e no mundo, e para as futuras gerações. O desmatamento gigantesco feito pela Fazenda Estrondo é um exemplo deste apetite de grandes produtores e traders pela destruição do Cerrado, que não respeita nada nem ninguém”, afirma Adriana Charoux, do Greenpeace Brasil.
Na semana passada, a União Europeia publicou o primeiro esboço da legislação para proteger as florestas do mundo, que ainda apresenta deficiências graves. O texto, de fato, reconhece a importância de proteger as florestas do mundo, mas esquece de outros ecossistemas igualmente importantes, como o Cerrado, que é uma savana. “Em pleno século 21, ter um órgão ambiental autorizando uma mega fazenda de produção de grãos a desmatar mais de 24 mil hectares é um contra senso absoluto, além de obsoleto e anticientífico. Isso desmente este discurso de altamente tecnológico, sustentável e à frente da legislação que o agronegócio brasileiro voltado para exportação tenta propagar externamente. E isso compromete a imagem do Brasil lá fora”, completa Adriana.
Além disso, a proteção e o respeito aos direitos humanos sequer está previsto no documento, o que significa que fazendas que promovem a violência no campo, como a Estrondo, continuarão sendo recebidas de braços abertos pelo mercado europeu.
Se a legislação proteger apenas as florestas, os impactos da produção agrícola industrial podem se deslocar para outros ecossistemas que, assim como as florestas, abrigam Povos Indígenas e comunidades tradicionais, espécies únicas de animais e plantas, além de fornecer serviços ecológicos, como a recarga de aquíferos e o armazenamento e sequestro de carbono.
Divulgado no último dia 17 de novembro, a Comissão da União Europeia lançou o projeto de uma nova legislação que proíbe a compra de produtos oriundos de áreas desmatadas, conhecida como FERC. O plano do bloco econômico prevê incluir a restrição a diversas commodities de regiões desflorestadas. No entanto, a proposta de lei visa apenas proteger as florestas, deixando outros ecossistemas vulneráveis, como o Cerrado brasileiro e áreas úmidas como o Pantanal. Isso dá um passe livre para as indústrias de soja que abastecem megafazendas industriais lucrarem à base de exploração de importantes ecossistemas não florestais.
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