No Dia Mundial de Combate à Seca e à Desertificação, a falsa solução do governo em investir em “energia suja” só agrava o problema, impactando diretamente o bolso da população

Expedição do Greenpeace aos principais mananciais superficiais da região sudeste do Brasil, onde milhões de pessoas foram ameaçadas pela escassez de água em 2014. © Gabriel Lindoso / Greenpeace

Hoje é o Dia Mundial de Combate à Seca e à Desertificação, uma data instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) e que a gente faz questão de lembrar, não para comemorar, mas para chamar a atenção sobre um cenário crítico e que exige mudanças imediatas. 

Imagine uma floresta cheia de árvores e rios de água corrente. Agora, tente pensar em todo este cenário se transformando em um grande “mar” de areia. A desertificação é a perda dessa cobertura verde, da biodiversidade, da capacidade produtiva daquela área; e a transformação e degradação de uma paisagem natural pode gerar prejuízos para muito além do local onde ela ocorreu, impactando modos de vida e fatores como redução e escassez de recursos hídricos que abastecem também outras regiões.

Segundo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), de 2019, o aumento de temperatura do planeta desde o período pré-industrial já é de 0,87 °C. Essa rápida elevação está impulsionando a desertificação e a degradação do solo, com preocupantes impactos sobre a segurança alimentar. 


A crise climática aumenta também a intensidade e a frequência de eventos extremos, como a seca que atinge parte do país hoje. O desmatamento na Amazônia, incentivado e promovido pelo governo federal, é uma das maiores contribuições do Brasil para a intensificação da crise do clima que, no final das contas, volta para a gente de várias formas, entre elas, a falta de chuva.

A crise hídrica no Centro-Sul

A seca no Centro-Sul do país tem impactos que recaem não apenas sobre as pessoas da região, mas de todo o Brasil. Em primeiro lugar, a crise hídrica pode ameaçar a disponibilidade de água para o consumo humano, que foi o que aconteceu em São Paulo em 2014, quando houve racionamento em diversas áreas da cidade, especialmente as afastadas do centro e onde moram pessoas em condições de vulnerabilidade, que sofreram cortes de água constantes. Em plena pandemia, isso pode trazer consequências ainda mais graves

A seca afeta também pequenos produtores agrícolas, responsáveis pela produção de 70% dos alimentos consumidos pelos brasileiros, além de aumentar a conta de luz e trazer de volta o risco de um apagão

A seca e o aumento da conta de luz

Para lidar com a seca e com os impactos na geração de eletricidade no país, a falsa solução proposta pelo governo é o investimento em termelétricas que utilizam combustíveis fósseis (gás, óleo ou carvão) e contribuem diretamente com as mudanças climáticas. Ou seja, agravam ainda mais o problema a médio e longo prazo.

Além de ser uma “energia suja”, o custo de produção das usinas termelétricas é maior e impacta diretamente o bolso da população, que é forçada a pagar tarifas cada vez mais altas. 

Enfrentamos esse cenário porque o Brasil tem uma matriz energética dependente de grandes hidrelétricas. No entanto, com as mudanças climáticas, os ciclos de chuva estão sendo alterados e as secas estão ficando mais intensas e frequentes em algumas regiões do país. Entre setembro de 2020 e março de 2021, a quantidade de chuva que os reservatórios receberam foi a menor em 91 anos.

Acionar termelétricas significa aumentar as emissões de gases de efeito estufa e contribuir para que o problema se agrave. Além disso, é uma fonte de geração de energia muito mais cara que as fontes eólica e solar. Por conta de escolhas como essa, os brasileiros pagarão muito mais pela energia que consomem e, assim como em todos os momentos de crise, as pessoas com menor renda serão as mais afetadas. 

“Precisamos adotar medidas para combater essa situação. Acabar com o desmatamento na Amazônia, criar áreas protegidas e fazer restauração florestal, protegendo as bacias hidrográficas. É necessário também que se faça uma gestão correta do uso da água e acelerar urgentemente a transição para uma matriz energética 100% renovável, verdadeiramente limpa e justa”, diz Marcelo Laterman, porta-voz da campanha de Clima e Justiça do Greenpeace Brasil.

Sem floresta, não tem água

Proteger as florestas é uma das soluções para garantir água e qualidade de vida para as pessoas. No entanto, o que estamos vendo o governo atual fazer? Ele incentiva e promove o desmatamento e o crime na Amazônia, a floresta que regula o regime de chuvas em grande parte do país.

Já existem soluções para a crise climática que podem ajudar na resolução da crise econômica e social brasileira. Precisamos apenas ligar os pontos, contar com quem já está atuando junto e promover ações que contribuam para a construção de um mundo mais justo, inclusivo e em equilíbrio com o meio ambiente. Assine a nossa petição para se juntar ao movimento de pessoas que reconhecem a urgência da crise climática, dar voz às pessoas mais afetadas por este problema e manter-se informado para nos mobilizarmos pela causa e pressionarmos as autoridades.