Neste Dia da Mentira, contamos para você a verdade sobre algumas das “mentirinhas” que mais circulam pelas redes sociais e pela boca de políticos famosos
O termo fake news já se tornou bastante popular, mas tem uma palavra ótima em português para isso: MENTIRA. Sim, aquelas mentirinhas “inocentes” – ou nem tão inocentes assim – que de tão repetidas e replicadas em posts de redes sociais, grupos de whatsapp e por políticos de carreira, acabam sendo tomadas como verdade pelo público.Mas a gente vai te ajudar a reconhecer essas pegadinhas. Abaixo, reunimos algumas das mentiras mais absurdas que ouvimos nos últimos anos.
Mentira – As mudanças climáticas são um problema para daqui 50 anos!
Verdade – As mudanças climáticas já são uma realidade na vida de bilhões de pessoas ao redor do mundo. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima (IPCC), desde a revolução industrial a temperatura média do planeta já aumentou em 1.1C
. Trazendo para a realidade brasileira, as mudanças climáticas intensificam efeitos extremos, secas intensas, queimadas e até fortes chuvas, como as que ocorreram no Sudeste nesse verão. A ideia de que não somos impactados por essas mudanças não cola mais e, para confirmar isso, o Greenpeace ajudou a produzir o mini documentário “O Amanhã é Hoje: O drama dos brasileiros impactados pelas mudanças do clima.”
Mentira – A Amazônia tem muita árvore, desmatar não faz nem cócegas.
Verdade – A Amazônia brasileira já teve cerca de 20% da sua área total desmatada
. A ciência alerta sobre um ponto de ruptura do equilíbrio de grande parte do bioma Amazônico, o chamado ponto de não retorno, onde espécies e uma série de benefícios e serviços ambientais hoje trazidos pela floresta serão perdidos.
No ano passado, entre agosto de 2018 e julho de 2019, o desmatamento da Amazônia atingiu 9.762 km², um aumento de 30% em relação ao período anterior, segundo dados do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes) do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe). O desmatamento voltou a subir na Amazônia e os alertas de desmatamento apontam que em 2020 estes números podem ser ainda mais alarmantes.
Cientistas estimam que partes da Amazônia poderiam mudar para uma paisagem mais parecida com a de uma savana quando o desmatamento atingir de 20-25%
da área total, eles recomendam que o mais seguro é não deixar o desmatamento e outras perturbações romperem os 20%.
Mentira – A Floresta se recupera facilmente depois de desmatada.
Verdade – As florestas primárias são insubstituíveis e o que deveríamos fazer é parar o desmatamento e as queimadas em todas as florestas. É possível recuperar a cobertura florestal com uso de técnicas de restauração florestal, contudo, estes processos levam tempo, podem custar caro e acarretam em perdas ou alterações na biodiversidade que podem levar séculos para se recuperar
Mentira – É natural a Amazônia pegar fogo todo ano.
Verdade – Os incêndios na Amazônia não são naturais ou normais, apesar de infelizmente terem se tornado rotineiros ou “comuns”, já que ano após ano, no período de seca, entre julho e outubro, vemos o fogo se alastrar pela floresta.
Primeiro, é preciso entender que a Amazônia não evoluiu com o fogo e que as queimadas não fazem parte de sua dinâmica, como explica Erika Berenguer, pesquisadora sênior das universidades de Oxford e Lancaster, no Reino Unido. “Isso significa que quando a Amazônia pega fogo, uma parte imensa de suas árvores morrem, porque elas não tem nenhum tipo de proteção ao fogo. Ao morrerem, essas árvores então se decompõem liberando para a atmosfera todo o carbono que elas armazenavam, contribuindo assim para as mudanças climáticas”.
Apesar de acontecerem regularmente, estes não são eventos naturais, mas sim, causados pelo homem. Na Amazônia brasileira, as taxas de alerta de desmatamento estão intimamente ligadas à incidência de fogo, pois esta é uma ferramenta usada pelo homem para desmatar ou limpar pastos. Acontece que em épocas de seca os impactos das queimadas podem se agravar, já que o fogo pode se alastrar mais rapidamente e fugir do “controle”.
Mentira – Tem muita terra para pouco índio.
Verdade – Os povos indígenas possuem o direito ao uso da terra, mas elas continuam sendo um bem da União. Esse direito é originário, que quer dizer que é um direito anterior à existência do próprio Estado brasileiro – em bom português, os povos já estavam aqui antes mesmo de o Brasil existir como país. Quando uma terra é demarcada, este direito é apenas reconhecido, garantindo a um povo a posse e usufruto permanente da área.
Também é importante ressaltar que mais de 98% das terras indígenas estão na Amazônia, onde vivem 60% dos indígenas do país. Os outros 40% dispõem de apenas 1,5% de todas as terras, em geral em áreas muito pequenas para garantir a sobrevivência física e cultural dos povos.
Além disso, os dados mostram que os grandes produtores rurais é que têm muita terra. Ou seja, a concentração de terras no Brasil continua sendo um grave problema. Cerca de 60% dos 509 milhões de hectares de propriedades rurais no Brasil, cadastradas no Sistema Nacional de Cadastro Rural (SNCR) do INCRA em 2013, estão concentrados em menos de 2,5% dos imóveis rurais. Portanto, nota-se: temos no Brasil muita terra para poucos proprietários.
É fundamental, ainda, reconhecer que as terras indígenas conservam 98% da sua vegetação nativa, protegem seus rios e outros bens naturais, beneficiando toda a sociedade.
Mentira – Os vegetarianos são os principais culpados pelo desmatamento por causa da soja que eles consomem.
Verdade – Na verdade, cerca de 90% da produção mundial de soja é usada para ração animal. Ou seja, servem para alimentar aves, porcos, gado e caprinos em todo o mundo, que depois serão abatidos para consumo humano. Dessa forma, podemos dizer que, na verdade, é o consumo de carne o maior responsável pelo avanço do desmatamento para plantio de soja.
Segundo o IPCC, o consumo de carne mais do que duplicou nos últimos 60 anos, à medida que os solos foram convertidos para uso agrícola a um ritmo sem precedentes na história da humanidade. Hoje, as emissões do sistema alimentar como um todo, que incluem também o desmatamento para a plantação de soja, representam até 37% do total global de emissões de gases de efeito estufa induzidas pelo homem.
Mentira – O desmatamento não tem nada a ver com as mudanças climáticas, são só os combustíveis fósseis que causam esse problema.
Verdade – A Amazônia é vital para o clima do planeta. Além de ter o papel de regular ou equilibrar o clima regional e global, levar chuvas para regiões distantes, ela também armazena grandes quantidades de carbono. Uma vez que a floresta é cortada ou queimada, esse carbono é lançado na atmosfera, contribuindo então para o aquecimento global. Hoje, cerca de 40% das emissões brasileiras são provenientes do desmatamento, dessa forma, parar a derrubada de florestas é a maneira mais eficiente de reduzir as emissões do país e lutar contra as mudanças climáticas, para atingirmos a meta estabelecida pelo acordo de Paris de manter o aquecimento do planeta em no máximo 1.5 C° até 2030.
Mentira – É impossível abandonar os combustíveis fósseis
Verdade – O mundo não só tem as soluções para abandonar os combustíveis fósseis como precisa colocá-las em prática. Mas não estamos falando em parar com o uso dos combustíveis fósseis imediatamente, de uma hora para a outra. Estamos falando da necessidade de acelerar a transição para outras fontes.
E há soluções para isso. Na questão de geração de eletricidade, renováveis limpas, como energia solar e eólica, não apenas são uma realidade e complementares entre si, como são inclusive fontes mais baratas – ou seja, fazem bem para o planeta, para o bolso do consumidor e para a economia. Já no caso do uso do petróleo como combustível para transporte, as soluções estão relacionadas à eletrificação veicular, em repensar e melhor planejar a mobilidade urbana e diferentes meios de transporte.
Além disso, no caso do Brasil, é importante que o país passe a priorizar o transporte público, no lugar de transporte individual, e o transporte de cargas ferroviário, ao invés de usar rodovias. A transição para uma matriz energética 100% renovável inclui também uma transição justa de empregos para o setor.
Nós temos até 2050 para eliminar o uso de combustíveis fósseis e assegurar um planeta saudável e justo para nossos filhos, netos e futuras gerações. As tecnologias existem, precisamos agora de consciência, sabedoria e vontade política para fazer as mudanças necessárias
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