Tuesday, March 31, 2020

Grileiros, madeireiros e garimpeiros não fazem home office

por Carol Marçal e Danicley de Aguiar, da campanha Amazônia do Greenpeace Brasil

Com o propósito de evitar uma catástrofe, o Estado brasileiro precisa implementar ações urgentes de proteção da floresta e de seus povos, como o esvaziamento dos garimpos

Garimpo ilegal dentro da Terra Indígena Munduruku, no Pará, em setembro de 2019 © Christian Braga / Greenpeace
Vivemos tempos difíceis que nos impõem a adoção de medidas inimagináveis há bem pouco tempo. Uma delas, o isolamento social, é um grande desafio para a sociedade brasileira. Porém, é a melhor opção para prevenir a proliferação em massa do novocoronavírus (Covid-19), segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), sejamos nós moradores da cidade, do campo ou das florestas.
Em que pese o isolamento geográfico, os povos que habitam áreas de floresta, especialmente na Amazônia, também não estão a salvo do vírus, como alguns pensam. As múltiplas relações sociais e de mercado estabelecidas entre estes e as cidades da região, associadas às severas limitações de logística e estrutura da Rede de Atenção Primária à Saúde, potencializam o risco de epidemia para os povos indígenas e as comunidades tradicionais. Diante da ameaça iminente, estes povos que vivem na e da floresta já adotam medidas de isolamento voluntário, especialmente os indígenas, que reconhecem sua histórica vulnerabilidade epidemiológica.
No entanto, na contramão de grande parte da população brasileira, grileiros, madeireiros e garimpeiros não paralisaram suas atividades e seguem a todo vapor cometendo atividades criminosas que destroem a floresta. Estas pessoas precisam, urgentemente, serem impedidas de prosseguir, sob pena de, em nome da ganância por terra, madeira e minérios, se transformarem nos transmissores do coronavírus para os mais de 400 mil indígenas dos 180 povos que há milênios vivem na Amazônia.
De setembro de 2019 a 12 de março, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foram gerados 16.212 alertas de desmatamento para 3.282,89 Km² de floresta, que, provavelmente, serão alvo das queimadas efetuadas por pecuaristas ou grileiros durante a estação seca na Amazônia. Um preocupante agravante, ainda mais neste contexto de pandemia, é que as queimadas sobrecarregam ainda mais o sistema de saúde da região.
Segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), entre maio e junho de 2019, no início da temporada de queimadas, nas áreas mais afetadas pelo fogo, o número de crianças internadas com problemas respiratórios dobrou. Foram nada menos que 2,5 mil internações a mais, por mês, gerando um custo excedente de R$ 1,5 milhão ao Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com dados da Fiocruz, viver em uma cidade próxima às queimadas aumenta em 36% o risco de internação por problemas respiratórios.
Na esteira dos impactos econômicos e da insegurança gerada nos mercados em meio à pandemia global, em apenas três meses o preço do grama de ouro subiu quase R$ 100, passando de R$ 197,54 em dezembro de 2019 para R$ 268,17 no final de março de 2020. Estamos já testemunhando uma nova corrida ao ouro, que trará consequências inestimáveis à floresta e a seus povos. O compromisso do governo Bolsonaro de atender as demandas do setor mineral, liberando a exploração de minérios nas terras indígenas e regularizando os milhares de garimpos ilegais, tanto dentro como fora desses territórios, acende uma perigosa luz vermelha.
Segundo a Rede Amazônica de Informação Socioambiental (Raisg), em dezembro de 2018, a Pan-Amazônia já vivia uma epidemia de garimpo. Só na Amazônia brasileira, seriam pelo menos 18 terras indígenas invadidas por garimpeiros, entre elas as dos povos Munduruku e Yanomami. Juntas, elas somam mais de 10 milhões de hectares de floresta nativa que, atualmente, estão infestadas por milhares de garimpeiros. Infelizmente, esses povos apresentam índices alarmantes de contaminação por mercúrio, com provável origem nos garimpos da região.
Preocupada com os impactos que essa nova corrida ao ouro vai causar, a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) divulgou um posicionamento  oficial no último dia 24 exigindo o esvaziamento dos garimpos e a devida proteção dos territórios indígenas do Brasil.
Diante do grave risco que a pandemia se espalhe pela Amazônia, podendo causar um outro genocídio indígena, é urgente que o Estado brasileiro ouça os alertas dos povos indígenas e implemente ações concretas de proteção da floresta e de seus povos. É inadmissível negligenciar a saúde daqueles que cuidam da floresta.
Texto publicado originalmente no portal de notícias UOL
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Como a Covid 19 impacta os indígenas isolados?

por Patrícia Bonilha

Aliás, quem são estes indígenas que perambulam por diferentes áreas da Amazônia Legal?

Grupo de indígenas isolados sente-se ameaçado diante de avião que sobrevoa acampamento feito por eles na floresta Amazônica
Grupo de indígenas isolados sente-se ameaçado diante de avião que sobrevoa acampamento feito por eles na floresta Amazônica – AFP © AFP
Nas duas últimas semanas, diversos veículos de imprensa divulgaram reportagens
sobre os perigos que a contaminação do coronavírus pode causar nos povos indígenas. A preocupação é bastante específica já que eles têm maior vulnerabilidade do ponto de vista epidemiológico do que os não indígenas.
Alguns textos
desta cobertura da mídia focaram nos grupos de indígenas que vivem isolados na Amazônia Legal. Houve, inclusive, muita apreensão por parte de indígenas e indigenistas no sentido de que a pandemia poderia ser utilizada como um pretexto para que a Fundação Nacional do Índio (Funai) autorizasse o contato com estes grupos isolados.
Toda esta inquietação faz muito sentido na avaliação de Guenter Francisco Loebens, da equipe de apoio aos povos indígenas isolados do Conselho Indigenista Missionário (Cimi).
A maior ameaça para os indígenas isolados hoje, além da pandemia, é o modelo de desenvolvimento extrativista agroexportador estabelecido em toda a América do Sul. As terras onde, secularmente, estes povos vivem são constantemente invadidas para a exploração ilegal de madeira, ouro e outras commodities desejadas pelo mercado, tanto nacional como internacional.
O problema é que o contato de apenas um indígena isolado com algum garimpeiro ou madeireiro significa uma possibilidade real de extermínio de todo seu grupo.
Nesse sentido, Guenter afirma: “Agora é momento não só de respeitar a decisão deles de se manterem isolados, que foi a estratégia de sobrevivência adotada por eles, como também do governo federal coibir, de modo contundente, todas as invasões aos territórios dos indígenas isolados. O garimpo, por exemplo, é um potencial fator de contaminação do coronavírus”.
O napë não cuida do índio
Os contatos forçados realizados no passado, que visavam acesso a recursos, como a borracha, ou a abertura de estradas, deixaram a digital do horror nestes povos. Além de violências, como mortes e estupros, a chegada de diversas doenças causou a extinção de diversos grupos.
Mesmo antes da pandemia se tornar uma ameaça alarmante aqui no Brasil, Davi Kopenawa foi à Organização das Nações Unidas (ONU) no início deste mês de março denunciar
que os povos isolados estão sob risco de serem dizimados. A Terra Indígena Yanomami , do seu povo, por exemplo, possui oito registros de povos isolados, um deles confirmado, os Moxihatëtëma, da Serra da Estrutura. Segundo Davi, os garimpeiros estão ilegalmente explorando ouro a poucos quilômetros desta região. “Se um dia eu encontrar os Moxihatëtëma, vou dizer que é melhor não encontrar o napë (não indígena), melhor eles ficarem por lá. O napë não cuida do índio”, constata o líder indígena.
Mas afinal, quem são estes indígenas isolados?
A Funai chama de “povos indígenas isolados” especificamente grupos indígenas com ausência de relações permanentes com as sociedades nacionais ou com pouca frequência de interação, seja com não-índios, seja com outros povos indígenas.
É curioso observar que antes da colonização não havia registros de povos isolados, ou em isolamento voluntário, ou “livres” – como eles também são chamados – no Brasil.
A antropóloga Patrícia de Mendonça Rodrigues explica que muitos “isolados” mantêm alguma proximidade com grupos vizinhos, nem que seja visitando furtivamente roças ou outro tipo de lugares, como trilhas em que as pessoas não isoladas andam. A partir de uma perspectiva baseada em fatos, ela dirime qualquer romantização que possa haver em relação à escolha destes indígenas em se isolarem na floresta.
“O ‘isolamento’ veio sempre em função de condições históricas opressivas, como fuga de massacres e escravização. Então, ele é compulsório. Não se tem liberdade para andar em qualquer lugar, não é uma vida livre, ao contrário. É uma certa ingenuidade achar que são ‘livres’, porque eles estão determinados também pelo processo colonialista e capitalista. Qual a liberdade de viverem em condições dramáticas, fugindo em abrigos inóspitos? Na verdade, eles são ‘refugiados’, que sabem muito bem o perigo do mundo que os rodeia. Esse termo ‘isolados’ mais confunde do que esclarece, porque nega o processo histórico, como se eles vivessem num paraíso idílico, fora da história, do nosso aqui e agora”, esclarece ela.
Segundo registros históricos, estes indígenas se isolaram após encontros com colonizadores ou expedições de contato mais recentes, como as realizadas durante a ditadura militar (1964 a 1985), que, de modo bastante violento, ameaçaram suas vidas e territórios. Muitos foram mortos e vítimas de epidemias.
Desde o final de dácada de 1980, a Funai substituiu suas políticas de “atração” e “pacificação” pela proteção e respeito à autodeterminação destes povos – G. MIranda/Funai
Na listagem sobre povos indígenas isolados da Funai figuram 114 registros. No entanto, segundo o Instituto Socioambiental (ISA) é preciso incluir o grupo de isolados que vive na Terra Indígena Alto Tarauacá, no Acre, demarcada e homologada em função da presença deles naquele território, totalizando 115 grupos de povos isolados na Amazônia Legal.
O Brasil é o país que registra o maior número de povos indígenas isolados na América do Sul, sendo que a maior concentração deles – 16 registrados, sendo 11 confirmados – encontra-se na Terra Indígena Vale do Javari, segunda maior do país, localizada no município amazonense de Atalaia do Norte.
Do ponto de vista antropológico, Patrícia afirma que os indígenas isolados são a própria materialidade da diversidade de modos e pontos de vista originais de se relacionar com o mundo, dotados de sabedorias e conhecimentos que não temos. “A perda de qualquer um destes grupos é incalculável, agravada ainda mais pela questão da justiça e dos direitos humanos, porque significaria dar continuidade ao genocídio histórico que a colonização trouxe para as Américas”.
Um outro genocídio é inaceitável
O fracasso desastroso das políticas de “atração” e “pacificação” destes povos, implementadas no passado pelo Serviço de Proteção ao Índio (SPI) e pela Funai, que o sucedeu como órgão indigenista do Estado nacional, fez com que no final da década de 1980 elas fossem substituídas por uma política de proteção aos isolados, que passou a respeitar a autodeterminação desses povos.
A Constituição Federal de 1988 também assegura o direito dos povos indígenas escolherem suas formas de vida, organização, língua, cultura e tradições. Além disso, legislações
, tanto nacionais como internacionais, definem que o contato forçado é uma violação clara dos direitos humanos fundamentais dos povos em situação de isolamento voluntário.
“Respeitar a autodeterminação destes povos e, por outro lado, as políticas e legislações que os protegem é fundamental para evitar que um outro genocídio aconteça no Brasil. E essa é uma obrigação a que o Estado brasileiro não pode se furtar”, conclui Guenter.
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Vidas valem mais

por Greenpeace Brasil

O Greenpeace Brasil é a favor da vida e de um ambiente saudável em primeiro lugar

Não podemos aceitar que, em um cenário dramático no qual o mundo soma esforços para seguir as recomendações da Organização Mundial de Saúde para conter o avanço da pandemia do coronavírus e evitar a perda de milhões vidas, o presidente Jair Bolsonaro vá na direção exatamente contrária. As comunicações e campanhas do Presidente da República  que trazem desinformação e convocam as pessoas de volta às ruas, comprometendo o isolamento social, são uma ameaça à saúde e às vidas dos brasileiros. 
O que o governo faz ao defender tamanho absurdo é colocar a vida das pessoas em segundo plano, algo irresponsável e desumano. O governo alega que a paralisação vai prejudicar a economia e que o impacto na população será maior que as mortes provocadas pelo coronavírus. Mas, assim como outros países estão fazendo, o momento é do governo federal centralizar forças e destinar recursos para que a população consiga cumprir as medidas de isolamento para a segurança de todos, especialmente dos mais vulneráveis, como povos indígenas e comunidades tradicionais, que são mais suscetíveis às doenças e têm difícil acesso a hospitais, e comunidades de baixa renda que não tem acesso à água,
saneamento básico ou itens de higiene básica, dentre outros milhões de brasileiros que precisam de suporte especial para o enfrentamento da pandemia.
Não deve existir uma polarização entre salvar empregos ou vidas, são duas questões incomparáveis. O apoio financeiro do Estado deve vir primeiro para a saúde e para garantir que as populações vulneráveis continuem vivendo, e depois socorrer a economia e as grandes empresas. É o Estado que precisa agir para centralizar esforços e minimizar os impactos sociais e econômicos da pandemia sobre o povo brasileiro, e não o contrário.
O momento é delicado e exige uma clara liderança em um único sentido. Os casos de Covid-19 estão em crescimento exponencial no país. Estados e municípios se preparam para uma escalada de ocorrências graves e se mobilizam para manter hospitais em caráter emergencial e evitar cenas como vistas na cidade italiana Milão. Após um mês da campanha “Milão não para”, as mortes na cidade causadas pelo coronavírus dispararam e chegaram a 4.474, e hoje o prefeito
admite que errou ao apoiar tal campanha.
Em vez de desorientar a população com minimizações irresponsáveis do grau do perigo que ela corre, o governo deve dar orientações seguras. É hora de nos protegermos, e ajudar aqueles que não podem se cuidar por conta própria.
O secretário-geral da ONU
, os líderes das principais economias do mundo , bem como economistas, ex-presidentes e diretores do Banco Central e ex-ministros , a sociedade civil brasileira e mundial , defendem que a prioridade no combate à pandemia global do coronavírus é uma só: salvar vidas e proteger a população mais vulnerável dos impactos econômicos e sociais resultantes da pandemia.
Nosso trabalho é orientado para assegurar um meio ambiente equilibrado para todos nós e as futuras gerações. E neste momento que pede por atenção e colaboração de todos, é em defesa da vida que nos posicionamos.
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Como o desmatamento tem nos deixado mais doentes

por Greenpeace Brasil

A saúde das florestas, das quais nós e todas as outras espécies dependemos, está sendo destruída mais rapidamente do que nunca. E a nossa também.

Forest Fires in Candeiras do Jamari, Amazon - Second Overflight (2019). © Victor Moriyama / Greenpeace
 Imagem aérea de uma grande área queimada na cidade de Candeiras do Jamari, no Estado de Rondônia, em agosto de 2019. © Victor Moriyama / Greenpeace
Quanto mais destruímos ecossistemas naturais, mais facilitamos o aparecimento de doenças, que podem se transformar em epidemias e pandemias e levar a perdas para toda a sociedade.
Estamos interferindo e destruindo cada vez mais as florestas do mundo. Estudos apontam
que a taxa atual de extinção de espécies no cenário global vem caminhando numa velocidade mil vezes mais rápida do que se estivesse ocorrendo naturalmente, e isso se dá em grande parte devido à perda de habitat dessas espécies. A escolha pela degradação desses ambientes e da diversidade de vida guardada ali tem trazido graves consequências, não só para as questões ambientais, mas também para a saúde da humanidade.

Nos últimos 50 anos, houve um aumento de 400% no número de doenças infecciosas emergentes, que afetam humanos com patógenos (fungos, vírus ou bactérias), novos ou que já existiam antes, para os quais temos pouca ou nenhuma imunidade desenvolvida. A maior parte dessas doenças (75%) que têm aparecido e atingido um número grande de pessoas em diferentes lugares do mundo é de origem zoonótica, ou seja, transmitidas de animais para humanos. Várias dessas doenças zoonóticas já são conhecidas nossas, como malária, zika, dengue e febre amarela. Os coronavírus também são de origem zoonótica, porém a origem exata do novo vírus que causou a Covid-19  ainda está em estudo
e, por enquanto, não há nenhuma ligação sugerida entre a proliferação da doença e o desmatamento.
Dentre todos, o maior vetor das doenças emergentes é a mudança do uso do solo
, o que inclui em grande parte o desmatamento. Um estudo recente feito pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), defende que desde 1940, 31% do aparecimento e surto desse tipo de doença (emergente e zoonótica), do qual fazem parte Zika, Ebola e Nipah, estão conectadas com a mudança do uso do solo, principalmente nas florestas tropicais.
A transformação dessas paisagens tem feito com que entremos cada vez mais em contato com os seres que carregam patógenos, que são capazes de afetar a nossa saúde e nos causar doenças infecciosas. A partir do momento que as florestas são invadidas para servirem à exploração desenfreada de seus recursos, aumentam-se as possibilidades de contaminação.
A expectativa é que a continuidade do desmatamento, somada à alta densidade populacional e  grande circulação das pessoas pelo mundo, potencialize um aumento cada vez maior de surtos de doenças infecciosas.
Um exemplo próximo de nós: a malária e o desmatamento da Amazônia
A perda de biodiversidade – em grande parte conectada ao desmatamento – também aumenta o risco de transmissão de doenças. Uma floresta com diversidade de espécies nos protege, pois um ambiente em equilíbrio cria um “buffer”, uma espécie de escudo que evita a proliferação de agentes causadores de doenças em humanos (por exemplo, os mosquitos). Ao interferir nas florestas, um desequilíbrio é criado e a capacidade da biodiversidade de proteger a saúde humana é reduzida.
No Brasil, pesquisadores fazem uma conexão direta entre o avanço do desmatamento
e o aumento de incidência de malária em regiões desmatadas. Um estudo feito na Amazônia mostrou que o aumento da perda de floresta em 4% de áreas recém-desmatadas de um município provocou uma elevação de 50% dos casos de malária. Isso ocorre porque conforme a destruição avança sobre as áreas verdes, as clareiras abertas acabam sendo um ambiente ideal para a proliferação do mosquito transmissor da doença.
De agosto de 2018 a julho de 2019, a Amazônia perdeu quase 10 mil km² de floresta – a maior taxa de desmatamento da década. O que significa que o planeta também está perdendo biodiversidade, ou seja, reduzindo espécies de animais e plantas que vivem ali, e perdendo também a capacidade de nos proteger do desequilíbrio que essa destruição pode provocar.
Tudo isso nos mostra que é fundamental repensarmos a nossa relação, hoje muito predatória, com a natureza, e buscar soluções para lidar com a rápida perda da biodiversidade e manter as florestas conservadas e saudáveis.
Degradação ambiental e surgimento de novas doenças também foi assunto dessa semana no nosso podcast “As Árvores Somos Nozes”: 
Achou alguma palavra muito difícil? Dê uma olhada aqui e veja a explicação:
Doenças infecciosas emergentes: As doenças infecciosas
emergentes podem ser definidas como as infecções que têm aparecido recentemente em uma população, ou então que já existiam, mas têm aumentado rapidamente em número de pessoas que ela contamina e podem chegar a regiões muito distantes de onde ela surgiu.
Patógeno: Um patógeno
é um agente infeccioso capaz de causar doenças em um hospedeiro humano, animal ou vegetal. Diferentes classes de patógenos incluem vírus, bactérias, fungos e germes.
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Covid-19: organizações cobram do governo compromisso com a preservação da vida

por Greenpeace Brasil

Mais de 60 organizações criticam a atitude do presidente Bolsonaro ao desprezar as recomendações dos órgãos internacionais de saúde e reivindicam que orientação de isolamento seja mantida por autoridades e governos locais

Em carta publicada pelo Pacto pela Democracia, mais de 60 organizações da sociedade civil criticam a postura do presidente Jair Bolsonaro frente à Covid-19. Entidades consideram “inconsequente e inaceitável” sua atitude ao fazer um pronunciamento se posicionando contra as medidas de prevenção e controle da pandemia recomendadas por órgãos de saúde internacionais e de seu próprio governo. Lideranças reivindicam que o Ministério da Saúde, o Congresso e os governos Estaduais e Municipais “mantenham as orientações de isolamento social, canalizem todos os recursos para a prevenção e enfrentamento do coronavírus, priorizando os setores mais vulneráveis da sociedade”.
Confira a íntegra da carta:
Diante da trágica eclosão da pandemia do coronavírus, que no momento de fechamento desta nota já havia infectado 435.400 pessoas e levado à morte de 20 mil pessoas nos cinco continentes do planeta, Bolsonaro explicita sua faceta mais inconsequente e desumana. Em vez de honrar a responsabilidade de liderar o país neste momento crítico, o chefe do Executivo optou por desprezar a ciência, as recomendações dos órgãos internacionais de saúde e das autoridades sanitárias de seu próprio governo, colocando em risco a vida de milhões de brasileiros e prejudicando o esforço de países em todo o mundo no enfrentamento da pandemia da Covid-19.
A cada novo pronunciamento, Bolsonaro evidencia seu descompromisso com a preservação da vida da população brasileira, buscando inclusive desacreditar as iniciativas tomadas pelos governos estaduais e municipais que, sem uma liderança nacional confiável, buscam responder a esta crise sem precedentes na história recente da humanidade. Ele afronta e busca destruir os pilares mais elementares da convivência em sociedade: o respeito e a solidariedade humana.
A postura do presidente Jair Bolsonaro frente à pandemia da Covid-19 é inconsequente e inaceitável. Seu pronunciamento na noite de 24 de março atesta sem margem para dúvidas sua incompatibilidade com o cargo que ocupa, desprovido de premissas básicas de humanidade, empatia, e incapaz de produzir cooperação e honrar o compromisso de promover o bem-estar dos seus concidadãos e concidadãs.
Para além de ignorar suas recomendações incabíveis, exortamos todos os setores e instituições democráticas da sociedade brasileira, particularmente o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional, brasileiros e brasileiras e toda a comunidade internacional a repudiar de maneira veemente a conduta irresponsável do Presidente da República Federativa do Brasil que, em vez de liderar o país, optou por trilhar o caminho da ignorância e da barbaridade.
Reivindicamos que o Ministério da Saúde, o Congresso Nacional, os Governos Estaduais e Municipais mantenham as orientações de isolamento social, canalizem todos os recursos para a prevenção e enfrentamento da Covid-19, priorizando os setores mais vulneráveis da sociedade e garantindo recursos para que possamos zelar pela sobrevivência daqueles que enfrentam os efeitos mais perversos desta crise. Nada é mais importante do que a preservação de nossas vidas neste momento, sem distinção.
A despeito da insanidade e irresponsabilidade do presidente da República, o único caminho para atravessarmos a atual crise de forma digna e democrática reside na união de todos os atores sociais e políticos comprometidos com o bem-estar coletivo, o interesse público e os inegociáveis valores de humanidade e solidariedade.
Confira as organizações signatárias aqui.

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Wednesday, March 25, 2020

Covid-19: compassion, cooperation, courage, choice

by Jennifer Morgan and Anabella Rosemberg

Dear friends,
The consequences of the covid-19 pandemic are – and will be – defined by choices. Those choices should be based upon values, not value: compassion, courage and cooperation. Those have always been ours. Let’s lean into them now.
The struggle to contain the coronavirus is our number one priority as people and as an organisation. Life and death decisions are not only being made by doctors and nurses but by each and everyone of us as we practice physical distancing. Together, let’s make the right choices.
Greenpeace is a family. Like every member of this family, we are facing our own coronavirus challenges. We both live in countries that have adopted us, Germany and France, from the US and Argentina. Our worry for our parents, brothers and sisters, nieces and nephews is compounded by distance and by health systems that might not be able to help them. It is hard to find balance in the emotional turbulence. But like all of you we find connection. We have discovered that in crisis our living rooms have become places to dance with our children and partners, revelling in the comfort of old and favourite songs! We hope you can find your balance, connections, and outlets.
We should all take the needed time: putting our families and our communities first. To take care of our children and the sick. And of course ourselves.
We are witnessing many acts of courage
, compassion, and community that provide inspiration and underline the power of people. We can see all around a resolute desire to not only survive but to thrive. Let us continue to join the chorus of collaboration and celebration of the best of humanity in the face of adversity.
Let’s ensure that the stories
we tell are of compassion for the most vulnerable, of coming together: countering the fear and blame.
While leading with compassion, let us also be vigilant.
In crisis, as we know the impossible becomes possible. For better or worse.
We all understand that in tackling the acute public health crisis and associated economic shocks, choices are being made that will have a profound impact on the chronic climate emergency.
We must prevent investment in industries with preexisting, planet wrecking and health destroying, conditions. And as the 2030 ‘climate’ tipping point fast approaches, these funds must be invested in public and planetary health. The vast previously ‘unavailable’ public funds must support a just transition to a better future, in which people and planet are in harmony: where every living being can thrive. We must hold leaders to account.
We must be vigilant against attempts to use the workers they normally exploit in poverty wages or exposed to deadly substances, day in day out, to capture and misdirect public support. The so-called ‘shock doctrine’
is in play, trillions of dollars, euros, yen are being pumped into the economy to try and inoculate it from the impact of the virus. Rules without consent are being adopted.
We must advocate for investment in the future. Rather than looking to the past to explain our current predicament, we should be looking to the future to see what must be done. A future that is open, cooperative, egalitarian, peaceful, in harmony with nature, and with public good as a driving force.
This virus does not have a nationality, it does not have an agenda or a political affiliation, it exists to spread where, when and how it can. The only thing that can stop it is community and cooperation.
This is not a time for blame or division. There are plenty of forces in the world doing precisely that for power and profit.
We must lead by example, extending our values, platform and knowledge to others, especially the most vulnerable in our society. Perhaps that means forging unusual allies, in this most unprecedented of times, or doing things outside of our comfort zones and echo chambers.
We want, need and deserve from this new chapter in our planet’s story that deep lessons are quickly learnt, root causes fully addressed, and true political leadership established.
When this pandemic passes, our collective character and future potential will be defined by the choices we made to protect the most vulnerable. Not how we protected industries. It will be strengthened by the lessons that we learn. Each and everyone of us holds a piece of the better world we need, where compassion and cooperation are the keys to a safer fairer future.

The future is being written today, let’s write it together with all of our hearts and our humanity.
Jennifer & Anabella
Jennifer Morgan and Anabella Rosemberg are the Executive Director and Programme Director at Greenpeace International, respectively.

10 bons documentários para esta quarentena (e depois dela também)

por Thaís Herrero

Em tempos de isolamento social, é importante nutrir o corpo e a mente e, quem sabe, mudar comportamentos. Selecionamos alguns filmes sobre questões ambientais sensíveis que nos fazem refletir sobre como melhorar a nossa relação com o planeta


Pandemias como a do coronavírus expõem duramente a forma ruim como temos nos relacionado com o meio ambiente – a destruição dos ecossistemas está ligada diretamente a expansão de várias doenças. Neste momento de isolamento social, em que solidariedade, paciência e respeito à Ciência tem sido cruciais, também é uma boa oportunidade para entendermos e refletirmos mais sobre o que estamos fazendo com este planeta.

Mais conscientes, podemos buscar soluções e mudar comportamentos quando esta crise passar, em vez de repetir os mesmos erros. Por isso, selecionamos alguns documentários que estão disponíveis nas plataformas de streaming e na Internet. Vai servir para a quarentena, mas vai servir também para sua vida. Além de histórias e imagens incríveis que vão te sensibilizar, você certamente vai aprender mais.
Confira nossa lista e clique nos nomes para saber mais ou acessá-los.
1. Como mudar o mundo

O filme conta a história da fundação do Greenpeace, que veio de uma ideia que parecia maluca: um grupo de hippies de vinte e poucos anos saiu em um barco para impedir testes nucleares no Alasca. O plano não deu certo, mas chamou a atenção do mundo para a proteção do meio ambiente e um pedido de paz. O resultado foi o surgimento do que é hoje a maior organização ambientalista do mundo, com escritórios em 55 países.
2. Mission Blue 

A vida da oceanógrafa norte-americana Sylvia Earle é incrível: quando jovem, começou a mergulhar e fazer parte de missões científicas num tempo em que o mulheres não tinham espaço para isso. Ela fez história com seu comprometimento. Chegou a ser a primeira mulher a chefiar a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA) e, em 1998, foi nomeada pela revista Time como a primeira Heroína do Planeta. Aos 84 anos, Sylvia continua mergulhando e sendo um exemplo de compromisso e determinação pela causa ambiental. 

3. Sob a Pata do Boi 
Desde a ditadura militar, a Amazônia foi ocupada ilegalmente. Terras públicas viraram pasto e, hoje, a pecuária é o maior vetor de desmatamento da floresta. O documentário explora a relação entre a destruição da Amazônia e a carne, mostrando histórias de fazendeiros e artimanhas políticas por trás da destruição da maior floresta tropical do mundo.
4. Minimalismo: um documentário sobre as coisas importantes

Poderíamos sintetizar e ser minimalistas neste texto: é um filme sobre ter menos coisas. Mas o documentário é rico em conteúdo e reflexões. Ele fala sobre o movimento que defende que é possível viver com menos consumismo e, logo, exigindo menos recursos naturais da Terra. Com menos tempo para suas coisas, sobra tempo para o que realmente importa, como passar mais tempo com a família e amigos.
5. O Amanhã é Hoje

As mudanças climáticas não são apenas uma previsão de cientistas. Elas são uma realidade para muitas pessoas no Brasil e no mundo e esse filme – disponível conta a história de brasileiros que já tiveram suas vidas afetadas de alguma forma. Um exemplo é a jovem indígena que se tornou brigadista voluntária depois que um incêndio florestal sem precedentes atingiu a terra indígena de seu povo, os Krikati. Ou a pequena agricultora do sertão de Pernambuco que enfrentou seis anos de seca. Tudo isso já é sinal de que o clima da Terra mudou e precisamos agir.
6. Dieta dos gladiadores

O mito do consumo de proteína animal para um bom desempenho físico é desmontado nesse documentário que traz até Arnold Schwarzenegger contando como sua saúde melhorou depois de adotar ao vegetarianismo. O nome do documentário vem da descoberta de que até mesmo os lutadores romanos não ingeriam carne animal. Mais de 5 mil ossos de gladiadores indicaram a dieta de legumes e verduras. Uma boa oportunidade para você repensar seu consumo de carne.
7. Nosso planeta

É uma série documental, então se prepare para mais de uma sessão. E, se puder, assista em uma televisão bem grande, pois as imagens são de arrepiar. Preste atenção em cada detalhe incrível de cores e movimentos na tela, de animais, folhas e até do vapor d’água produzido pelo rio Amazonas. Cada episódio traz imagens inéditas sobre a vida natural e diferentes habitats da Terra. O projeto ficou em produção durante quatro anos, passou por dezenas de países e contou com uma equipe de 600 pessoas.

8. Black Ice
Outro documentário sobre a história do Greenpeace. Dessa vez é sobre a marcante prisão de 30 ativistas na Rússia. Eles estavam a bordo do nosso navio Arctic Sunrise protestando contra a exploração de petróleo no mar do Ártico quando foram interceptados pela polícia e detidos sob a acusação de pirataria. Os ativistas ficaram presos por três meses e suas histórias de resistência pacífica, luta ambiental e a injusta acusação rodaram o mundo e conquistaram uma ampla rede de apoio a eles e em defesa da liberdade de protestar de forma pacífica.

9. Em busca dos corais
Um grupo de cientistas e fotógrafos australianos saem pelo país mergulhando em busca de evidências de que o aquecimento global está matando os recifes de corais. Entre dificuldades científicas e alguns imprevistos, o chamado branqueamento dos corais surpreende negativamente pelo alcance e mortandade das espécies. O que poderia parecer uma história com final trágico se transformou em uma rede de solidariedade em defesa dos oceanos. Spoiler: você vai chorar vendo fotos de recifes de corais…
  
10. A Lei da Água

O documentário brasileiro retrata a importância das florestas para a conservação das águas, explicando a relação do Código Florestal que havia sido aprovado em 2012 e a crise hídrica brasileira. Apesar dos anos que nos separam do lançamento do filme, continua valendo a pauta da importância das florestas para nossa qualidade de vida, a fertilidade do solo e a produção de alimentos.

Tem mais alguma recomendação? Conta pra nós.


Agora é hora de mais transparência, e não menos

por Greenpeace Brasil

Com justificativas vazias, governo altera a Lei de Acesso à Informação e restringe acesso a dados públicos durante pandemia do coronavírus

Nota conjunta de repúdio às alterações do acesso à informação pela MP nº 928 © Amin Monshrerif / Unsplash
As organizações e os especialistas abaixo manifestam seu repúdio às alterações nos procedimentos de acesso à informação feitas pela Medida Provisória (MP) nº 928. O texto, publicado no último 23 de março de 2020, ataca gravemente os mecanismos de acesso à informação e de transparência pública. Pelos motivos apresentados abaixo, exigimos a revogação do trecho que inclui o artigo 6º-B na Lei nº 13.979, de 6 de fevereiro de 2020
.
O Greenpeace Brasil se somou a mais de 70 organizações da sociedade civil em uma Nota conjunta de repúdio às alterações do acesso à informação pela Medida Provisória  nº 928/2020
, editada pelo presidente Bolsonaro, na noite da segunda-feira, dia 23 de março.
A medida altera a Lei de Acesso à Informação
(LAI – Lei nº 12.527/2011), lei que regula o procedimento para que qualquer cidadão possa obter dados públicos relativos às atividades do governo. Isto nunca quis dizer que o governo era obrigado a fornecer toda e qualquer informação na hora que o requerente quisesse. Ela, justamente, estabelecia os critérios e procedimentos. Entretanto, pela lei, o governo tinha um prazo definido para dar um retorno ao requerente, seja com a informação solicitada, seja com uma justificativa da negação do pedido.
Foi esse dispositivo que a MP do governo alterou. De maneira equivocada e desproporcional
, a medida suspende os prazos de respostas à LAI, para todas as solicitações feitas a órgãos que tenham seus funcionários trabalhando em sistema remoto e que não estejam relacionados ao enfrentamento da pandemia do coronavírus, sem classificar quais estariam ou não relacionadas. A MP também impossibilita o cidadão de recorrer da resposta dada pelo órgão, em caso de negação do pedido. Com a medida, até 4 mil pedidos de informação pendentes de análise podem ficar sem resposta .
O governo argumenta que, com boa parte dos servidores em sistema de trabalho remoto, seria impossível atender às solicitações no tempo determinado pela lei. Até aí, compreensível. Contudo, a própria LAI já previa dispositivos para extensão de prazo caso houvesse uma impossibilidade de dar o retorno – como seria o caso de, por exemplo, o funcionário estar impossibilitado de consultar algum documento físico nesta época de quarentena.
“Em vez de estabelecer novos procedimentos que dificultam o acesso a informações, o governo federal deveria seguir o exemplo dos países que foram mais bem sucedidos no combate à Covid-19 e ampliar a transparência, orientando estados e municípios a fazer o mesmo”, diz trecho da nota.
Ou seja, valendo-se de uma justificativa vazia, o governo aproveita a crise do coronavírus para limitar a transparência à população num dos momentos mais críticos da História, em que clareza e informação são fundamentais. Como organizações da sociedade civil brasileira, este conjunto de organizações repudia a medida e requer que o Congresso Nacional a vete, uma vez  que ela viola o direito constitucional de acesso a informações de interesse coletivo e representa um retrocesso à democracia no país.
Confira a íntegra da carta aqui.