Somente em 2022 (de janeiro a março) foram 941km², um recorde na série histórica e um aumento de 64% em relação ao mesmo período do ano passado
Dados divulgados hoje (8) pelo sistema Deter do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), indicam que entre os dias 1º a 31 de março, 312 km² da Amazônia estiveram sob alertas de desmatamento, uma redução de 15% em relação ao registrado no mesmo mês do ano passado. Os alertas de desmatamento seguem concentrados nos estados do Amazonas, Mato Grosso e Pará. E apesar dessa redução pontual em março, o primeiro trimestre do ano (janeiro a março) se destacou com um acumulado de 941 km² – área equivalente a quase três vezes a cidade de Belo Horizonte.
“O retrocesso na gestão ambiental foi um objetivo claro nos últimos anos, e os resultados são evidentes nos alertas de desmatamento do primeiro trimestre de 2022 e nos recordes de desmatamento em anos anteriores”, afirma Cristiane Mazzetti, da campanha de Amazônia do Greenpeace..
Segundo análise do Greenpeace Brasil, somente em Terras Indígenas (TI), a área com alertas de desmatamento registrada no primeiro trimestre de 2022 chegou a 7,49 Km² km² até o dia 25 de março, um aumento de 52% em relação ao mesmo período (considerando março fechado com 4,93km² km²) de 2021. O desmatamento nessas regiões deveria ser zero, mas essas áreas têm sofrido com invasões de grileiros e garimpeiros.
No momento, mais de 7 mil indígenas de 200 povos estão organizados no Acampamento Terra Livre 2022 (ATL) em Brasília (DF), para exigir a demarcação e defesa de seus territórios e protestar contra a agenda anti-indígena em voga no Congresso Nacional; a exemplo do Projeto de Lei 191/2020 que visa a abertura das terras indígenas para mineração.
“Sem respeitar o direito dos povos indígenas não há mitigação das mudanças climáticas. Qualquer governante e político sério deveria minimamente honrar a constituição e garantir os direitos dos povos originários, além de promover o reconhecimento de territórios indígenas, estratégia que, inclusive, se mostrou eficaz para reduzir o desmatamento. Mas o que vemos é o oposto disso com projetos que abrem esses territórios para atividades predatórias além da paralisação da demarcação das terras indígenas”, diz Mazzetti.
Desmatamento em alta, Brasil em baixa
O persistente aumento do desmatamento da Amazônia tem prejudicado a imagem do Brasil no mercado internacional e entre as outras nações. Somos, hoje, o país que retrocedeu décadas nas políticas de proteção ambiental, justamente em um momento em que todas as sociedades do mundo vêm demandando de seus governos ações urgentes e efetivas de combate às mudanças climáticas.
O fechamento do mês ocorre na mesma semana que mais um documento do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) foi publicado com foco na mitigação das emissões.
Esta semana o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) publicou um novo documento com foco na mitigação das emissões globais. Entre as soluções urgentes e necessárias apontadas pelos cientistas está justamente a redução do desmatamento, principal fonte de emissão de gases do efeito estufa do Brasil.
O desmatamento também é péssimo para a economia, muitos países e empresas vêm debatendo e implementando novas regras para evitar o envolvimento com o desmatamento da Amazônia. No mês passado, o BID negou um empréstimo milionário a um dos maiores frigoríficos do país, justamente por envolvimento da empresa com o desmatamento, enquanto a União Europeia discute uma legislação anti-desmatamento para controlar as commodities que entram no bloco.
“A conservação de florestas e outros ecossistemas está entre as soluções apontadas pelo IPCC para limitar o aquecimento do planeta em 1.5ºC . No entanto, o Brasil, que teria plenas condições de ser uma liderança climática, passa por uma gestão federal que caminha deliberadamente na direção oposta, agindo de maneira incompatível com os avisos da ciência”, completa Mazzetti.
Este mês, o Supremo Tribunal Federal (STF) começou a deliberar sobre sete ações que buscam garantir mais proteção ambiental, no país arrasado pela política de Bolsonaro. Uma destas ações é a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 760, que trata não apenas da omissão por parte do governo federal e de outros órgãos em assegurar a preservação da Amazônia, mas da intenção de desmontar o aparato de fiscalização e controle, como o PPCDAm.
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