Ele pega a água com cuidado e com esperança de vê-la limpa de novo. Quando isso acontecer, ele vai religar a bomba que traz a água do rio para regar sua pequena horta de salsinha e coentro. Os temperos são fonte de renda extra para ele que aos 73 anos vive de um salário mínimo e das vendas de um bar – fica aberto quatro horas por dia em uma estrada de terra, no área rural de Mário Campos (MG).
Estima-se que mais de 90 km do Paraopeba já estejam contaminados pelos rejeitos da barragem de Córrego do Feijão. Pelo menos 40 km já foram declarados mortos. Enquanto os rejeitos descem o rio, vão tornando impossível a utilização de sua água.
Como Geraldo, há muitos outros agricultores que bombeavam água do Paraopeba para irrigar suas plantações. Sem o rio, eles dependem da água de cisternas que, na maioria das vezes, não suprem a grande demanda por água porque abastecem as suas próprias casas. As hortas precisam de água quase o dia todo. Outra saída têm sido aproveitar a chuva. Só que chuva não tem hora ou quantidade regulada para cair. Quando ela não cai, o sol quente de verão queima as hortaliças.
A mineradora Vale se comprometeu em enviar caminhões-pipa para abastecer as cisternas desses agricultores. Treze dias depois da tragédia, quando estivemos em Mário Campos, eles tinham apenas a esperança dessa promessa.
Enquanto o tempo passa, eles estão perdendo dinheiro. Já perderam colheitas e vendas. Há quem não queira mais comprar com medo de que os legumes e hortaliças estejam contaminados. Ali, há muitas plantações de alface, agrião, rabanete, mostarda e brócolis. Boa parte disso alimenta a região metropolitana de Belo Horizonte.
Sem poder puxar a água do rio, eles estão usando um pouco da água da cisterna, mas que não tem sido suficiente. A cisterna abastece a água da casa, então, é preciso racionar e fazer escolhas.
Já Fábio Adelardo, além de estar usando um pouco da cisterna, pensou no longo prazo: esses dias plantou alguns pés de brócolis, que demandam menos água, e demitiu três pessoas. “Eu sei que vou vender menos. Não vou ter dinheiro pra pagar mais ninguém não. Ficou aqui só eu, meu irmão e minha irmã”, diz.
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