Deputados ruralistas dão as costas à sociedade e aprovam o Pacote do
Veneno em reunião a portas fechadas. Além de potenciais impactos
ambientais, esses parlamentares colocaram sob sua mira a saúde dos
brasileiros.
Avião pulveriza área agrícola ©Daniel Beltra/Greenpeace
Hoje os ruralistas deixaram claro para quem estão
legislando! Mais uma vez demonstraram que essa bancada de deputados não
se importa com a sociedade ou com sua segurança, mas sim com seus
próprios interesses. Mesmo depois de intensa pressão popular, que só vem
crescendo, foi aprovado hoje (25/06) o texto-base do PL 6299/2002 na
Comissão do Pacote do Veneno - que propõe afrouxar o uso e liberação de
agrotóxicos no país.
O Pacote do Veneno vence essa etapa à força, sem
diálogo e sem transparência - deputados ruralistas conseguiram hoje
proibir a entrada da sociedade na sessão da comissão. Depois de ser
aprovado dessa maneira, o PL segue agora para votação nas sessões
plenárias da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. A decisão de
colocá-lo em pauta ainda esse ano é do presidente da casa, Rodrigo Maia
(DEM/RJ).
“Este projeto de lei vai totalmente na contramão do
que a sociedade quer. Os membros da comissão viraram totalmente as
costas para a população. Nem mesmo a opinião de instituições
científicas, de saúde e meio ambiente, que se posicionaram contra o PL do Veneno,
como Organização das Nações Unidas (ONU), Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Instituto Nacional do Câncer
(INCA), foram consideradas. Fica muito claro que esses parlamentares
atendem apenas aos interesses da indústria de pesticidas e do
agronegócio”, afirma Marina Lacôrte, especialista do Greenpeace em
Agricultura e Alimentação.
O deputado Rodrigo Maia assumiu compromisso de não
colocar o PL 6299/2002 em votação na plenária antes de um amplo debate
com a sociedade, algo que não ocorreu até o momento. “Esperamos que,
assim como fez no caso do licenciamento ambiental, Maia cumpra sua
palavra. Vamos continuar monitorando e pressionando para que o
presidente da Câmara coloque os interesses da população acima dos
interesses econômicos do setor”, afirma Marina.
Entre outras coisas, o PL do Veneno aprovado hoje:
-
Revoga a atual Lei de Agrotóxicos (7.802/1989) e libera o uso ainda mais amplo dessas substâncias;
-
Garante o registro de substâncias comprovadamente cancerígenas;
-
Transfere, basicamente, todo o poder de aprovação ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, tornando apenas consultivo no processo de avaliação e aprovação órgãos importantes, como Ministério do Meio Ambiente e Anvisa. Isso também é grave porque o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento é o principal interessado nas aprovações, pois avalia a eficiência agronômica e, portanto, tem interesse econômico na aprovação.
-
Muda o termo “agrotóxico” para “pesticidas” em uma tentativa de mascarar a nocividades dessas substâncias sem atender a realidade brasileira do campo. Segundo nota técnica do IBAMA, “é necessário que os agricultores, como os principais usuários, reconheçam esses produtos como tóxicos perigosos, como em realidade o são, para que tenham maiores cuidados na sua utilização. A toxicidade é uma característica inerente à grande maioria dos produtos designados ao controle de pragas e doenças, por ação biocida”.
-
Confere registro temporário sem avaliação para aqueles agrotóxicos que não forem analisados no prazo estabelecido pela nova Lei. Isso é o que os ruralistas chamam de “celeridade” ao processo, ou seja, "não deu para avaliar a segurança para a saúde e o meio ambiente? Então aprova!".
Enquanto deputados ruralistas tentam empurrar mais
veneno goela abaixo da sociedade brasileira, o antídoto perfeito já
existe e precisa ser defendido e fortalecido. O projeto de lei que
institui a Política Nacional de Redução de Agrotóxicos (PNaRA) também
está em análise na Câmara dos Deputados. A comissão especial para
debater o tema foi estabelecida em maio e é presidida pelo deputado
Alessandro Molon (PSB-RJ), tendo o deputado Nilto Tatto (PT-SP) como
relator. A comissão já deu início a um processo de audiências públicas e
a próxima acontece amanhã (26/06) a tarde, com a presença de
instituições como Fiocruz, Ibama, Instituto Nacional do Câncer (Inca) e
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que foram ignoradas
na comissão do PL do veneno.
Saiba quais deputados estiveram presentes na sessão decisiva de hoje e quais foram seus votos:
A FAVOR
Tereza Cristina (DEM/MS) - PRESIDENTE
Valdir Colatto (PMDB/SC) - 1º vice-presidente
Luiz Nishimori (PR/PR) - RELATOR
Adilton Sachetti PRB/MT
César Halum PRB/TO
Covatti Filho PP/RS
Luis Carlos Heinze PP/RS
Sergio Souza PMDB/PR
Zé Silva SD/MG
Marcos Montes PSD/MG
Professor Victório Galli PS/MT
Celso Maldaner PMDB/SC
Nilson Leitão PSDB/MT
Alceu Moreira MDB/RS
Junji Abe MDB/SP
Alberto Fraga DEM - DF
Fabio Garcia DEM - MT
Geraldo Resende PSDB - MS
CONTRA
Bohn Gass (PT/RS)
Padre João PT/MG
Alessandro Molon PSB/RJ
Jandira Feghali PCdoB/RJ
Nilto Tatto PT/SP
Júlio Delgado PSB/MG
Ivan Valente PSOL/SP
Edmilson Rodrigues PSOL/PA
Subtenente Gonzaga PDT MG
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