Expansão da agropecuária é o principal vetor de destruição do bioma. É
preciso ação por parte do setor privado para zerar a perda de vegetação
nativa
Vista aérea do município de Balsas, Maranhão, na região
conhecida como MATOPIBA, que abrange os estados de Maranhão, Tocantins,
Piauí e Bahia. (© Marizilda Cruppe/Greenpeace)
Savana mais rica do planeta, o Cerrado sofre com a
devastação. Dados preliminares do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais) divulgados pelo Ministério do Meio Ambiente
na última quinta-feira (21) apontam que o desmatamento no bioma
aumentou 9% em 2017, em comparação ao ano anterior. Em 2016, um total de
6.777 km² foram desmatados; em 2017, esse número subiu para 7.408 km². O
avanço da agropecuária sobre a vegetação nativa é a principal causa do
desmatamento.
Em comparação aos anos de 2014 e 2015, houve redução
da taxa de desmatamento no bioma. Ainda assim, os índices são
considerados muito altos para o Cerrado, que abriga um terço da
biodiversidade do Brasil mas está extremamente ameaçado por conta da
expansão do agronegócio. Atualmente, apenas 50% da vegetação original do
ecossistema está de pé.
A boa notícia é que, pela primeira vez, estão sendo divulgados dados do desmatamento do Cerrado
detalhados ano a ano, o que torna possível comparar a conversão da
vegetação nativa a partir de uma série histórica. O Ministério do Meio
Ambiente prometeu, a partir de agora, divulgar as taxas do Cerrado todos
os anos, prática que vem sendo adotada no bioma Amazônia desde 1988.
O Cerrado também passará a ser monitorado diariamente
com base em imagens de satélite de alta definição, através do Deter B,
que consiste em um sistema de detecção do desmatamento em tempo real.
Assim como aconteceu na Amazônia, espera-se que a ferramenta facilite o
trabalho de fiscalização coordenado pelo Ibama (Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis).
“A divulgação dos dados do Cerrado ano a ano é um
importante passo do Ministério do Meio Ambiente, que aumenta a
transparência das mudanças pelas quais passa o bioma em decorrência da
expansão da agropecuária. Isso permitirá não só o aumento do controle
social, como também norteará políticas públicas e compromissos de
empresas”, avalia Cristiane Mazzetti, da campanha de florestas do
Greenpeace Brasil.
O papel do setor privado
As boas notícias de transparência ficarão apenas no
papel se as empresas não assumirem compromissos concretos com a
preservação deste importante bioma. O simples cumprimento da lei não
garante a sobrevivência do Cerrado.
“No Cerrado, os fazendeiros podem desmatar legalmente
até 80% de sua propriedade, o que seria um desastre. O acelerado
desmatamento no bioma, que já supera o da Amazônia, é responsável por
uma parte relevante das emissões de gases que provocam mudanças
climáticas. Além disso, a região abriga enorme biodiversidade, é berço
de grande parte dos rios brasileiros e é marcada pela injustiça social
com uma histórica e perversa concentração de terra e renda em poucas
mãos”, diz Paulo Adario, estrategista sênior de florestas do Greenpeace.
O Greenpeace Brasil alerta para a necessidade de se
aumentarem os esforços para a proteção do Cerrado - o que implica em
zerar o desmatamento. No ano passado, cerca de 60 organizações
ambientalistas, incluindo o Greenpeace Brasil, lançaram o Manifesto do Cerrado,
exigindo que investidores e empresas que compram soja e gado na região
tomassem medidas para frear o avanço sobre a vegetação nativa. Mais de
60 companhias apoiaram o manifesto e se comprometeram a trabalhar com os
atores locais e internacionais para preservar o bioma. No entanto,
nenhum compromisso concreto foi feito até agora. Recentemente, aliás, uma operação recente do Ibama no Cerrado
multou 78 empresas, incluindo gigantes do agronegócio como Cargill e
Bunge, no valor de R$105,7 milhões por desmatamento ilegal.
É urgente que sejam estabelecidos compromissos
robustos e transparentes por parte do setor privado, no sentido de
desvincular suas cadeias produtivas de áreas naturais recentemente
desmatadas.
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