Registro visual em terra indígena dos Awá-Guajá (©Greenpeace/Eliza Capai).
Lamentavelmente, a virada de ano não trouxe a tão aguardada sensação
de justiça ou perspectivas de paz para os povo do campo e da floresta
amazônica. Apesar de iniciado o processo de desintrusão da Terra
Indígena Awá-Guajá, no Maranhão, vivemos um momento de forte ataque aos
direitos territoriais indígenas.
A retirada de todos os não-índios da área invadida ilegalmente se
deve “apenas e tão somente, ao cumprimento do mandado constitucional do
Art. 231 da Constituição que reconhece e garante aos índios 'direitos
originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à
União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens'”, de
acordo com nota pública assinada por diversas organizações da sociedade
civil e divulgada hoje.
Veja íntegra da nota pública de apoio à extrusão da TI Awá-Guajá aqui.
A Terra Indígena em questão foi reconhecida em 1992 e homologada em 2005, e é notadamente uma das mais afetadas pelo roubo de madeira, outros recursos naturais e demais mazelas da região.
O direito dos Awá-Guajá às terras que ocupam foi reafirmado por recente
decisão da Justiça Federal do Maranhão. Este processo, que já se
arrastava por mais de 12 anos, entretanto, tem sido usado como
combustível político para inflamar uma situação de tensão entre
comunidades tradicionais e posseiros, trabalhadores e pequenos
agricultores que se estabeleceram na terra indígena.
A representante maior da bancada ruralista no país e presidente da
Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), senadora Kátia
Abreu, tem declarado sua discordância com os direitos constitucionais
indígenas, alegando que trabalhadores pobres vêm sendo ‘enxotados’ de
suas terras e deixados à própria sorte.
Ela também refutou com veemência declaração de funcionário da Secretaria Geral da Presidência da República
que pontuava alguma das inúmeras atividades ilícitas realizadas por
parte dos invasores na região. Nenhuma novidade para o Ibama, Polícia
Federal e demais órgãos competentes na fiscalização e proteção da área.
Só para a presidente da CNA.
E quando uma figura pública de relevância no cenário nacional e nas
questões do campo distorce os fatos de acordo com sua conveniência e
reduz uma questão de relevância nacional a uma guerra de interesses
particulares, acaba criando um cenário perigoso, insuflando conflitos e
transformando desinformados em massa de manobra à serviço de interesses
escusos.
A ação de retirada dos não-índios do território não prevê
indenização, já que tratam-se de ocupações irregulares, que aconteceram
após anos de invasões continuadas. Ainda assim, e mesmo sendo coordenada
por vários ministérios, com prazo estipulado para saída voluntária,
cadastro e inclusão de cidadãos que se enquadrem nos critérios do plano
nacional de reforma agrária para futuro reassentamento, surpreende como a
noção de justiça nestes casos passa a ser relativa.
“Ninguém que defende abertamente a democracia, o estado de direito e
os direitos humanos fundamentais pode se posicionar contra o direito
territorial dos povos indígenas, já previsto pela Constituição”, afirma
Tica Minami, coordenadora da Campanha Amazônia do Greenpeace Brasil.
“Em um momento em que as tensões já andam elevadas pelo conflito
envolvendo índios Tenharim em Humaitá, no sul do Amazonas , um discurso
que incentiva ainda mais violência contra índios não contribui para a
discussão que precisa ser travada com a sociedade, nem oferece
alternativa; só gera mais caos e desinformação sobre uma questão de
relevância fundamental para o futuro do país”, completa.
Para o Greenpeace, o processo de desintrusão é um exemplo de que, “se
a sociedade não estiver vigilante e atenta, a necessidade dos grandes
financiadores de campanhas políticas, as oportunidades de negócio e os
interesses privados de grupos econômicos influentes podem acabar se
sobrepondo à função social e de utilidade pública de ações legítimas
como essa”.
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