Wednesday, August 20, 2014

Quando o calo aperta

Atividade do Greenpeace gera manifestações públicas de partidos políticos, no entanto, o tema mobilidade urbana ainda precisa ganhar espaço no debate.


Intervenção em ponto de ônibus próximo ao Parque do Ibirapuera, em São Paulo, desafia governantes a assumir compromisso com mobilidade urbana de qualidade (©divulgação)

‘Não visou influenciar a votação e não configura crime eleitoral’. Essa foi a decisão do juiz Marcelo Coutinho Gordo, do Tribunal Região Eleitoral de São Paulo a respeito da intervenção urbana do Greenpeace há exatamente uma semana. A organização colocou em vários pontos de ônibus da cidade um anúncio conjunto da Presidente Dilma e do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que informava que a extensão do metrô de São Paulo iria dobrar até o final do ano.
Na quarta-feira, os cartazes geraram um verdadeiro rebuliço – tanto pela promessa que parecia inalcançável quando pela união de Dilma e Alckmin – e no debate público, houve acusação de terrorismo eleitoral, gente achando que se tratava de caça à votos e partidos procurando culpados. A propaganda atingiu a coordenação das campanhas dos partidos envolvidos, que anunciaram ações na justiça eleitoral. O suspense se manteve até a quinta-feira de manhã, quando o Greenpeace revelou a assinatura do protesto.
O anúncio, que até então parecia algo impensável, foi na verdade uma maneira de chamar atenção para o fato de que mobilidade urbana é um dever de todos os candidatos e que os desafios que temos pela frente vão além de disputas partidárias e promessas eleitoreiras.
Mesmo depois da organização ter assumido a autoria da intervenção, o governador do Estado de São Paulo e candidato à reeleição Geraldo Alckmin condenou a atitude do Greenpeace. Em seu relato, Alckmin disse que a ação causava desinformação quando “toda lógica eleitoral é prestar informações, ser transparente, prestar contas”.
No entanto, o governador não comentou sobre a pauta de mobilidade, sugerida pelo Greenpeace, não comentou o que deixou de cumprir em seu atual mandato e nem deixou claro como pretende avançar melhorias em mobilidade urbana no estado, caso seja reeleito. No balanço dos últimos quatro anos, por exemplo, apenas 13% do que havia sido prometido de expansão do metrô virou realidade.
O Greenpeace reforça que esse erro não pode se repetir. Em ano eleitoral, a organização pede aos candidatos à Presidência que priorizem investimentos regulares na mobilidade urbana. Como só investimento não vira realidade, o governo federal precisa também se envolver com a capacitação e a implementação de projetos em nossas cidades.
Já os governadores de Estado não podem encarar as melhorias de mobilidade como carta eleitoreira – as mudanças e compromissos assumidos precisam começar já em 2015, evitando que, daqui há quatro anos, elas continuem na lista de promessas. O Brasil precisa de verdadeiro compromisso com melhorias em mobilidade urbana.

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