Mães da periferia de São Paulo nos contam como garantem uma alimentação saudável para suas crianças
Conciliar a rotina de trabalho e vida pessoal com o cuidado com os filhos é uma das grandes dificuldades da incrível aventura de ser mãe. Entre esses cuidados, está o de oferecer uma alimentação saudável às crianças. Fomos até Campo Limpo, periferia de São Paulo, para trocar experiências sobre esses desafios e ouvir as histórias das mães da região.Na segunda edição do Café Descolonial com Prosa, uma parceria do Greenpeace com a Agência Popular Solano Trindade, convidamos mães ativistas com diferentes profissões para protagonizar a roda de conversa.
A falta de uma rede de apoio no dia a dia dificulta o retorno à vida “normal” após o nascimento dos filhos, deixando as mulheres da periferia, frequentemente, excluídas da vida social e do mercado de trabalho. Em meio a tantas barreiras, ainda há os desafios relacionados à comida, como o de iniciar a alimentação do bebê, o de transformar o próprio hábito alimentar para servir de exemplo e o de oferecer opções saudáveis às crianças. Muitas vezes não há tempo, energia ou mesmo acesso à comida de verdade, como alimentos frescos, menos processados e sem veneno. O que fazer, então?
Para Raysa Oliveira, mãe de Gael, de 10 meses, o segredo para garantir uma boa nutrição é entender que a alimentação saudável é possível, desde que esteja dentro da realidade do cotidiano. “É preciso aceitar tanto as limitações de mães e pais quanto os desejos da criança”, diz ela, que tenta alimentar Gael de forma rápida e saudável, com muitas frutas e legumes. Empreendedora social, Raysa decidiu trabalhar de forma autônoma após o nascimento de Gael porque queria se dedicar ao filho.
Respeitar as preferências alimentares das crianças e, ao mesmo tempo, assegurar que consumam todos os nutrientes para um bom desenvolvimento não é moleza. A fotógrafa Carol Pedrosa conta que experimenta uma negociação constante com o filho Dante, de 10 anos. “Ofereço várias opções: brócolis, cenoura, abobrinha… Eu dou autonomia para ele escolher, mas ele tem que escolher alguma coisa”.
Democratizar o hábito de comer bem
Na periferia, os entraves para conseguir comida saudável e sem veneno são grandes e produtos orgânicos não chegam facilmente. “O que vem aqui para a periferia não tem qualidade”, reclama Fernanda Mourão, mãe de Maria Flor, de 10 meses, maquiadora e uma das colaboradoras do Armazém Organicamente, da Agência Solano Trindade, que está justamente tentando virar esse jogo. O armazém, idealizado por Thiago Vinicius, é o primeiro ponto fixo de comercialização de frutas, legumes e verduras orgânicas na periferia de São Paulo e tem o objetivo de democratizar o ato de comer bem – os preços são acessíveis. O local segue firme com a ideia de combater os desertos alimentares (regiões da cidade onde é preciso andar mais de 400 metros para encontrar alimentos in natura, não processados).
No bate-papo, diversas mães citaram que o nascimento dos filhos apareceu como uma oportunidade para que repensassem seus próprios hábitos alimentares. Evelyn Moreira, mãe solo de Bento, de 3 meses, percebeu que ter regrado sua forma de comer fez toda a diferença para sua produção de leite. “Se eu tivesse abusado em minha alimentação, eu não estaria tão bem e convicta, e meu filho não seria tão sadio”.
Adriana Charoux, da campanha de Amazônia do Greenpeace e mãe de Tom, de 1 ano e 9 meses, sabe que tem o desafio de ser um exemplo para seu filho e usa isso como inspiração. Ela tentou criar hábitos mais saudáveis depois que ele nasceu. “Eu quero ser a minha melhor versão para o meu filho”, diz.
Apesar de todas as dificuldades, a transição para uma alimentação saudável e sem veneno é vista pelas mães como um esforço que vale a pena, para elas mesmas, para as crianças e para o planeta. Comer comida de verdade, com mais alimentos in natura, menos carne e menos industrializados é mais revolucionário do que parece: além de ser melhor para a saúde dessa e das gerações futuras, contribui para uma mudança gradual do modelo de produção de alimentos e para a preservação do meio ambiente.
#CaféDescolonial
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